Aqueles olhos que passavam o dia a me vigiar!
Ainda que não pudesse manter os olhos em mim, sei que eu era obviamente vigiado. Cada vez mais a vigilância não cessa, não cede, não quero que ceda.
A verdade é que hoje não acordei pra poesia, apesar de uma certa fluência na minha materna língua.
Só sei que, desses olhos flamejantes, não escapei. Ainda bem, não escapei. Vermelhos, na verdade, não. Mas lindos, sem dúvida. Em toda essa brancura, tão alva, esconde o impecável sorriso, esconde os contornos que a mim, me parecem simétricos. A outra metade da simetria reside em mim. Os cabelos vermelhos, obviamente, tudo é falso. Não menos cativantes. Não menos poderosos, entretanto. Enlaçam-me, deixam-me perdido, me acham.
Não sei o quê, mas tem algo nessa foto de mais especial que muitas outras. O olhar um pouco egípcio, um pouco ainda dotado de adjetivos não presentes nos dicionários, mas, indubitavelmente bons adjetivos, dão um leve aroma à foto, como uma cor de alguma especiaria que nos faz sentir um gosto bom. Nada, portanto, impede de se sentir um gosto bom ante uma bela visão. Ou um belo cheiro inerente à própria imagem planificada de delineações sublimes, unicamente criadas e trabalhadas, artesanalmente, certamente provinda de algum cristal fino, que por descuido, se juntou ao barro de alguma costela de algum Adão, e formou algo tão sensível, quebradiço, mas que, pelas minhas mãos, hão de ter o cuidado necessário para que se resista à maior intempérie possível; hão de saber o sabor de um cuidado, um sabor de qualquer coisa que traga alguma felicidade, momentânea, mas um momento que não pode ser repetido e que na memória, entretanto, não pode cessar de existir, de ser e de se recriar.
Tudo isso nas cores, sons, formas, odores e tatos que o homem pode perceber. Há ainda tantas outras dimensões, ultra-violetas, sub-aromáticas, super-doces que só através de um poderoso sensível equipamento pode-se perceber: cumplicidade!
sexta-feira, 11 de julho de 2008
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