sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Aquele Amor

E amou daquela vez como se fosse a primeira.
Viveu daquele amor sem eira nem beira,
viveu-o na sarjeta, à míngua.

Viveu-o até que morresse.
Até que a fome e a sede,
a tortura, insolidez e
a insustentável concretização
de qualquer forma não miserável de amar
roubasse-lhe toda a insaciabilidade da vida,
da descoberta, da imprecisão e da incerteza
da banalidade nobre da vida do dia-a-dia.

E, daquele amor, nada aproveitou.
Não passou de rosas, agora murchas,
de encontros de mãos, agora separadas,
de pensamentos furtivos, agora esvaídos,
de encontros de olhos, agora incorrespondidos.

Depois de tanto perder, aprende-se a perder.
Se se perde uma vez, perde-se para sempre.
Perde-se a prepotência e a arrogância
de nos dizermos senhores de nossos corpos,
regidos, em verdade, por frios, calafrios, suores frios,
pela sensação de imcompletude e da eterna necessidade
de nos firmarmos com um exato oposto,
tão exato que, apesar de oposto,
se encaixa perfeitamente em nossas falhas,
nos torna fortes.
Assim tornamos a entediante aventura
de apenas estarmos vivos
em viver todos os momentos,
à espera do próximo momento.

Um comentário:

Rafael Rocha disse...

Gostei mto filho... começou com chico buarque "Construção", e terminou bem.... gostei em especial de "Se se perde uma vez, perde-se para sempre."

Abraço