terça-feira, 13 de maio de 2008

Nós, filhos ingratos

Somos mesmo filhos ingratos. Todos nós. Todo ser-humano, via de regra, demonstra, várias vezes na vida o quanto se é um filho ingrato. Os pais sofrem durante meses para cuidar de nós quando ainda nem conseguimos comer direito, nem abrir os olhos. Já nos amam mesmo antes de nascermos. E nos amam independente do que fizermos, por mais decepcionados ou nervosos que estejam conosco. E continuam nos amando quando maiores, e mesmo que tenhamos 90 anos e eles 120, se preocuparão a cada vez que sairmos do alcance de suas vistas ou de suas mãos.

Nós, os filhos, os amamos, sem dúvida. Mas não da mesma maneira. Não que amemos pouco ou insuficientemente, mas um amor mais instável. Nossos pais sempre pensam na gente. Nós, não. Às vezes, até queremos esquecê-los. Depois, nos arrependemos amargamente de ter desejado isso. Nós não pensamos neles quando brigamos na escola, ou quando tomamos o primeiro porre, ou quando começamos a namorar, ou quando batemos o carro. Só pensamos depois que tudo isso acontece. Negligenciamos muito a quem mais nos deu. E isso faz de todos nós, filhos ingratos.

Dizem que só se aprende a ser filho quando se é pai, e só se aprende a ser pai quando se é avô. Mas ainda me intriga: conseguimos, de verdade, aprender essas coisas? Erramos muito tentando ser o pai perfeito ou o filho perfeito. Acabamos sofrendo muito com isso. Somos dotados da capacidade de errar e aprender, e isso nos tira a capacidade de não errar. Isso não nos torna mais fracos. Isso nos torna vulneráveis, suscetíveis ao erro, mas aprender nos torna forte. Muitos pais não percebem o quanto um filho é diferente do outro, e trata-os igualmente. Ledo engano. Quem é igual a quem para receber o mesmo tratamento? Se assim fosse, com certeza teríamos um guia prático: como criar seu filho em 10 lições. Se existe, não funciona. Não que eu seja pai, mas desse ponto eu entendo, pois sou filho, e me acho diferente dos meus irmãos.

Tentemos fazer a primeira geração de pais que entendem os filhos e de filhos que entendem os pais. Já temos diferentes religiões que se entendem, temos diferentes culturas que se entendem, mas precisamos de pais e filhos que se entendam. Invalidar as brigas de gerações que sempre existiu. Especialmente por parte dos filhos. Afinal de contas, teremos filhos, que terão filhos, que terão filhos e que terão filhos. E que terão filhos. O que fica, é o amor.


PS: Escrito em 23/04/08

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