Ó Deus,
perdoe, acima de tudo, o meu egoísmo.
Mas como voltar meus olhos para minha realidade, ou para os outros,
se tenho meus olhos faltando?
Se os sentimentos que me afligem não estão à minha volta,
mas cruel e ardilmente infiltrados
em meu ego, a expulsá-lo para fora de mim?
Trago em meu rosto inquietas lágrimas,
água dura esculpida da pedra mole do meu íntimo,
e que carregam consigo todo um sofrimento,
uma saudade prévia,
como uma nostalgia de algo iminente,
que me faz vomitar um milhão de palavras sórdidas.
Ainda que o arbitrário destino
tenha seguido minhas ordens à risca,
bateu em mim como uma onda,
de água bem salgada, da mesma lágrima que corria em meu rosto,
carregada de sentimento, me lembrando de algo maior que o
próprio destino: o Tempo.
Não há mais tempo
para meus amigos,
só para as obrigações.
Não quero ir embora.
Sim, quero ir embora.
Amigos; profissão.
Me sinto agora numa casa vazia,
onde passei minha infância,
onde o calor me acolheu,
mas agora, as folhas cobrem o assoalho.
Abandono.
Frio.
Amo o futuro e o presente,
mas não a memória, e
por isso sofro tanto.
Mas eu quem escolhi.
Mudar, abandonar.
Não terei mais o futuro como o presente.
Terei um novo futuro.
Que me perdoem meus amigos e família também o meu egoísmo,
mas acima de vós, penso em mim,
e sei o quanto detesto isto,
mas me é natural. Inevitável.
Que não me entendam mal, não vos abandonarei.
Ainda assim, a distância dói.
Dói pensar que sou assim.
Dói crer que nunca saberão o quanto vos sou grato.
Dói lembrar que desperdicei tanto tempo contemplando o nada,
niilista.
Ainda assim, há algo que me consola
e compensa em muito todas as dores:
São e serão meus amigos, ainda que não o saibam
ou não se lembrem.
"O apreço não tem preço".
Escrita em 03/01/2007, em Goiânia
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