E vêm me falar de imortalidade. O que seria, permanecer imortal? Em princípio, seria o mesmo que viver para sempre? Eu juro que tento entender. Ou seria vagar por aí, moribundo, tentando mostrar que a vida após a morte existe? Mas, a nós, vivos, essa vida parece muito pouco atrativa, nos amedronta não só pela dúvida de sua existência, mas também pelo caráter como nos acostumamos a vê-la, putrefata e insubstancial.
Poderia ser deixarmos um legado a outras gerações, sermos lembrados para sempre, e assim, tudo ser apenas mais simbólico do que necessariamente espiritual ou material? Mas até que ponto seríamos imortais? Até que ponto nossos legados nos serão fiéis? Até que ponto nossas músicas, nossos escritos terão sua interpretação intacta, se é que um dia tiveram?
Subjetivas músicas, que nos dão, à nossas mãos, nossos pés, nossos corpos, a certeza da morte, a beleza da morte, o amor sublime, o amor do pecado, o medo, a traição, a rendição, submissão e por aí vai... sentimos tudo isso, muitas vezes nem sequer percebemos ou conseguimos nos exprimir. "Você escuta uma marcha, você marcha; você escuta uma valsa, você dança", disse Gary Oldman, como Beethoven, em "Minha Amada Imortal". Mas quão fiéis ou sensíveis podemos ser ao nosso maestro?
Imortal ou não, essa música hoje me preenche. Não digo a Nona sinfonia, ou a quinta, ou Für Elise. Digo de algo mais recente. Um que tem algo de obscuro, também; que tem ecos, que, na minha cabeça, soarão e ecoarão eternamente (ou enquanto durar a minha esgotável mente); que não teme a morte, ou pelo menos não quando ela está longe. Algo de um lado escuro da lua, que me deixa comfortável, comfortavelmente anestesiado. Algo que me faz lembrar como, muitas vezes, dizemos tchau antes de nos cumprimentarmos, e quase que por acaso, sem nenhum interesse, perguntamos: "como você se sente?" "Vai tudo bem?"
Sinceramente, eu prefereria que você estivesse aqui. Me faria sentir melhor, não me lembraria que, mesmo grandiosos, perecem. Não que eu vá esquecê-lo, mas este mundo me arraigou muito a ele, e muito disso tem um pouco de você, que deixou tudo mais fácil, embelezou um pouco. Talvez isso seja eternizar-se. Embelezar-se. Não no sentido fútil. Talvez até mudar a palavra para evitar ambigüidade. Mas embelezar, trazer alguma coisa que, independentemente das pessoas, ficará. Um disco, um plástico, ficarão; mas não é disso que eu falo. Uma música, eterna, que não precisa ser interpretada, uma energia que submerge de catacumbas milenares, nos transportam a galáxias muito distantes, obscurecidas pelas nuvens, ofuscados pelo gordo, velho Sol, queimando nossas vistas.
Eu pediria para você ficar e me ajudar a terminar o dia, mas é isso: temos que ir alguma hora, é inevitável. Um dia, eu e você apenas trocaremos os papéis. Eu estarei em seu lugar. Não ocuparei sua grandiosidade, mas estarei causando alguma filosofia em alguma mente que há de causar alguma filosofia, e, talvez assim, etéreos e distantes, seremos um pouco eternos, um pouquinho, pelo menos.
Vá em paz, Rick. Deixa muitos fãs, não daqueles fãs bobos, mas verdadeiros fãs, que admiram toda sua capacidade, apreciam com toda a fineza e rebeldia de espírito que nos é possível conciliar. Mais uma vez, vá em paz, Rick!
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
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"A extensão do 'nunca mais' com a tua morte vai até à morte do universo. E é sobretudo isso que a torna incompreensível" -- Vigílio Ferreira
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