quarta-feira, 23 de março de 2011

Por onde estive

Descobri que o mundo
não foi feito para ser o que sou,
mas que eu sou feito para ser
do que foi feito o mundo.
Tratei meu ego a pão-de-ló,
dei do bom e do melhor,
e ele cresceu,
tomou proporções
que eu não sabia como conter.

Que bom que a gente
foi feito de dor atrás de dor
para podermos arrepender,
para fazer da dor o nosso cais
e saber onde exatamente
nossa fundação é mais firme.

Mas a dor de doer noutrem
sabe ser grande como uma supernova
explodindo em seus raios ultra-violentos.
Tanta palavra e tanta convivência
incapazes de provar o óbvio
pelo simples fato
de os fatos não o comprovarem.
Desculpas, de que adiantavam?
Fiz por merecer duras palavras e cruéis sentenças.
Passei a não exisitir,
e se ainda fiz disto uma criação
foi sacanagem
e desmerecida pelo prejudicado.

Tola, que garantiu confiança
a um pé rapado qualquer
que jamais soube qual seria a hora certa
entre o tapa que desperta para a realidade
e o abraço da melancolia,
o beijo do amor,
o escarro do ódio
e o olhar de perdão.

Perdi o bonde na  rua
no momento em que tudo esfriava,
e caía neve nos arredores
do planalto central.
Era eu, longe de tudo,
especialmente do que me compunha,
dos sentimentos que me descreviam,
das amizades que me contornavam;
virei fumaça, nada mais.

Peço que se algum dia
sentirem o que eu senti
repensem: é aqui mesmo
que eu quero estar?
Abri mão do que mais amava
em troca de trinta moedas de ouro.