sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Futuring

Why the fuck we should even give a damn?
That grunge feeling gets me on my guts
and screams through my mouth.

I don't want to write anything
I don't want to kill myself,
I'm just listening to some old stuff
(my god, Grunge's already old).

I'd even like to challenge myself
and do not be lazy of carrying about most of the people
I sometimes pretend to know.

What I really feel
is homesickness,
missing family and old friends,
not that the new ones aren't that good,
they're just perfect, yeah?
Thing is that one cannot replace other
And those who were someday
somehow and somewhere in time
friends or just made me have some great moment in my life,
I'm really missing those times.

Where, again, I could not give a damn,
and living was just the exercise of waking up
and exploring new things a new day could bring,
and not the worrying about future
or about money
or about the best way to have fun next holiday.

It was just waking up and living,
not understanding how could people be stressed
if even the feeling of my hands touching the walls
while I was walking made me feel so good.

I don't regret growing up,
I don't regret be most part of my time
thinking where I wanna be in 2, 5 or 10 years.
I only regret keeping me distant
from the one I was a decade ago,
that as a child would be forever a child
but changed mind so quickly
that many times I find it hard to recognize
that blonde hair naive kid that loved,
above all,
family, friends and cars.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Maniqueísta

controlar meus sentimentos,
meus desejos impulsivos
e até pensamentos ligeiros,
segurar meus instintos,
agir cautelosamente,
agir discretamente,
medir, medir, medir,
saber e conhecer cada passo,
cada consequência e ato,
ter lucidez para decidir,
para fazer e para acontecer,
planejar um futuro brilhante,
acordar e cumprir minha função,
se possível com alto grau de reconhecimento,
refirnar pensamentos, atitudes e decisões.

Viver espontaneamente,
aproveitar os impulsos e aproveitar.
Agir como o que der na telha,
sangrar quando precisar,
envolver-me em vários níveis:
explodir, chorar, gritar,
apaixonar, quebrar a cara,
extrapolar,
ser a todo momento
mais do que o esperado,
sentir mais do que o esperado,
matar a esperança com
a despreocupança com o futuro.

Qual vai ser?
O pior é que meu lado racional
impede o lado irracional
de tomar decisões.
Mas o que realmente vale a pena ser?

sábado, 2 de julho de 2011

A Obra

Mesmo que seja genial,
jamais direi aos outros o quanto é genial
pois a maior genialidade de todas
é simplesmente descobrir
por si só
o quão grande, importante,
feroz, arcaico, impressionante,
megalomaníaco
algo é.
Se se diz, perde-se tudo, então.

Tudo que é obra de arte
é sempre mais obra do que arte,
assim como construção
é mais arte do que obra.
E todo pedreiro sabe.
Embora nunca pedreiro algum olhe
e ache grande as paredes erguidas
de seus cinco dedos em cada mão.

"É obra", ouvi muito dizer
(vovó sempre dizia),
e sempre sem muito compreender,
respondia "é mesmo?",
sem nunca compreender ao certo
o quão grande estas coisas eram,
puta geniais!

Meu projeto de gente
sempre foi demais,
de sentir demais,
tentar ver tudo que não é meu
como tudo que fosse a maior coisa do mundo,
num mundo de coisas pequenas
ver que tudo é grande,
observar os detalhes
e deles caracterizar tudo,
embora não passasse
de um sentimento de sentimento.

Sempre foi tudo na verdade
querer sentir,
querer amar,
querer uma mulher,
querer um emprego,
querer escrever,
querer comprar,
querer beber,
querer dirigir,
querer querer,
querer poder querer.
Mas sempre faltou sensibilidade.
A sensibilidade  de distinguir
o grande do elefante,
o branco do sem cor,
o detalhe do casual,
o refletir do pensamento,
o tato da rugosidade,
o conhecimento do certo,
a lucidez da sobriedade,
o bom senso da engenharia,
a felicidade da falta de tristeza.

A lição de casa mais difícil
é a que sabemos de cor.
Mais enrolamos a fazer.
Menos nos desafiamos por sabermos o resultado final,
mas é a diferença
não ao final do dia,
mas ao final dos anos e décadas, talvez.
Seremos o que tanto nos esforçamos para construir
ou simplesmente o que fomos construidos antes de nos esforçar?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Auto-ajuda

Eu para eu mesmo:
-Cara, curta o que você está fazendo,
este é o primeiro passo a se dar
quando você assume algo.
Não importa sono, cansaço, festa,
prioridades você tenha,
este vai ser o seu prazer.
E você vai fazer.
Eu sei que este não é
um conselho muito sábio
uma vez que muito sabido,
todo mundo usa, abusa e recusa,
e fica vulgar (vulgo comum),
e perde o sentido.
Mas fica aí como frase motivacional,
um dia você vai precisar,
e todo mundo um dia vai,
ninguém deve se esconder disto.
As fraquezas emergem,
todo submarino emerge.
E se não emerge, afunda. Acaba.
Vira comida de peixe.
Você decide o que é melhor.
O problema é ficar pensando
em quanto as coisas vão te deixar infeliz
aí perde até a beleza da tristeza,
aquela beleza frágil,
aquele jazz meticuloso, sutil,
quase sensual.
O jeito é não pensar nisto
e olhar pelo ângulo que meio copo parece cheio.
Se olhar de lado, porra, falta metade.
Se olhar de cima, parece cheio.
Olha de cima então, é tão difícil assim?
Se olhar de baixo, tem que ficar segurando o copo,
cansa a mão. Olha de cima mesmo, mas sem soberbice.

Eu, sem resposta, passo a me obedecer,
tentando não transformar tudo
numa auto-ajuda imbecil.
Mas se eu mesmo não me auto-ajudo,
ninguém vai trocar de lugar na minha moringa
para me auto-ajudar.
Meu conselho é meu,
minha ajuda é minha. Quem sabe ajuda?

domingo, 19 de junho de 2011

My favorite songs

I've got the blues to make me feel like I'm blue,
I've got the jazz to make me feel like laying down,
I've got the rock to make me roll.

But through all these electric guitars, harmonicas,
drums, keyboards, synths and stuff
I've seen much more:
Brazilian music is in my way,
running inside my veins,
beating my heart
and blowing my mind away.

That's how I feel.
In the end,
it has always been Brazil,
meu Brasil brasileiro,
meu mulato inzoneiro,
nestes meus versos
tão em outra língua,
mas se guardando para algo
maior que um dia há de vir.

Ainda te homenagearei como mereces,
meu bom e velho português.
Portuga sem bigode.
Portuga brasileiro.
Hoje, falarei brasileiro.
E nada mais.

sábado, 4 de junho de 2011

Time Machine

When we will really
start to feel like only one?
Cannot feel like the sand
in the hourglass is the same
sad and twisty desert sand.

As soon as the words came out
my thoughts traveled fast
around the world
and beyond time,
elsewhere I could search
something new and unseen.

And I can feel that
every day I grow up a little
stuck in this same body, with the same size,
that something misses
the old working set.

Every visit in the past
makes me grow in another direction
far behind from the black and grey and white days
to the blue and orange sunset
made me think in every cell on my body:
Will I be able to visit here again, every time my mind wants to run away?

In the end,
just in the end,
this kind of question should mean something
that worths the worrying about it.

sábado, 28 de maio de 2011

Ação e Esperança

Tudo eu queria dizer
e algo talvez quisesse se calar
num dilúvio de um silêncio tacanho
e pobre de espírito.

Ouvi dizer
que as duas coisas de que se vive
são a esperança e a ação
e sei que talvez seja assim mesmo.
Ou esperamos tanto
que nos esquecemos de agir
ou agimos tanto que nos lembramos de esperar.

O que me faz lembrar
que tambem desesperamos.
Não sou dos mais entendidos
(sei até bem pouco, mesmo)
mas fica ambíguo, perde-se o sentido.
Deveria ser escrito com hífen:
Des-esperar. Claro. Transparente.

As ruas são só ruas,
nós as tornamos em caminhos.
Nós fazemos os mapas e lhes damos nomes,
homenageamos uns e esquecemos outros,
vemos oportunidades em seus desconhecidos
ou manjados destinos.
Mas nunca teve a rua pretensão
de ser mais do que concreto, asfalto,
tinta e apoio para pés e pneus e cascos.

O que penso
não passa idéias já velhas e caducas,
já marcadas e já batidas,
sem grandes novidades ou renovações,
mas que fazer
se são elas que tornam minhas esperanças
em ações que valorizo
com a honradez de uma maquina programada.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A morte e a morte

Acordou e sentiu o dia normal.
Olhou pela janela, viu os carros,
sentiu que o sol estava mais forte
do que costumeiramente, ainda que frio.
E no fim das contas, por que mesmo tinha que levantar?

Para ver acontecer,
para ouvir motores a combustão,
para movimentar as pernas,
tornar útil o esquecido nariz (talvez entupido),
chorar de saudade da terra-mãe que nascera,
crescera, amara, vivera e acabara por mudar-se.

Mudou de casa,
mudou de ambiente, mudou de cidade.
Não mudou de nome. Faltou coragem, talvez.
Mas era preciso?
Mudou seus hábitos
e se esqueceu dos antigos.

Lavou a alma nas cachoeiras em Pirenópolis.
Várias vezes.
E mesmo que lhe doessem os ossos,
sabia nunca se arrepender do frio das águas guiadas pelas rochas.

Compôs músicas medíocres
e nunca soube de escalas,
nem lia partitura.

Mas ia vivendo, vivia como se tivesse
inventado o mundo.
Embora gostasse de companhia,
seu próprio mundo lhe era suficiente.
Até o dia em que morreu.
Levantou-se, então, olhou tudo que tinha feito.
Trabalhos comunitários, estudos, pé-de-meia,
esteve em paz consigo mesmo.

Não aguentou, chamou o velho corpo de volta,
já carcomido e zumbizado,
vermes gordos e bem alimentados.
Tomou um banho, reanimou-se.
Queria mesmo era morrer no mar,
e foi. Pulou no meio da tempestade,
de uma jangada de não mais que 15 pés.
O mar era bravo, impetuoso.
Quem sabe se morresse ali
não renasceria peixe, tubarão
ou qualquer coisa 
que fosse capaz de seguir instintos,
nada mais.

O homem fez extintos seus instintos.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Muito prazer, Danilo!

É engraçado de repente querer escrever e tudo formigar. E minha idéia, diabo, por onde anda? Tá por aí, cata-se pelo chão e que se foda. Já faz tempo que quero dizer isto, e mais para mim mesmo. Que se foda, porra. Eu, cheio de achismos, cheio de querismos, cheio de pensismos, tudo pra puta-que-o-pariu. Quero agradecer meus amigos pela paciência. Quero dizer que o futuro que venha, que nem me preocupo mais. Quero contar alguma idéia besta que tive a respeito de um livro de um autor que nem mais consegue controlar seus próprios personagens. Pensa só, torna-se um refém do que sua mente criou. Quero informar que me cansei de querer dizer coisas que acho bonitas. E por que não dar um tempo em tudo isto mesmo? O grosso de tudo que deveria ser dito já foi dito, e não vou ser eu o revolucionário nas palavras. Não vou romper idéias, escolas, técnicas, nada. Vou dizer o que um peito dolorido berra em voz tão baixa que mesmo eu corro risco de nem me ouvir. Mas está aí, quem sabe serve de algo, no fim das contas?
Quero é aproveitar mais a vida, cada nuância, cada tudo que tudo contém, diferenciar tudo e me atentar a tudo, ouvir tudo, acabar com meu preconceito, ser inconsequente e me recompor, preciso disto, é como oxigênio, é como a comida que como, é como lugares que conheço e saio com a nítida impressão que jamais terei a mesma sensação novamente. Tudo tem que ser novo, por mais velho que seja. Minha retina deve se desacostumar com o costume de ignorar tudo. Meus ouvidos têm de reconhecer os tons e semitons tristes e alegres e as palavras de todos, do mundo, até mesmo de comerciais babacas de TV. Minhas mãos, quem sabe, cumprirão seu destino de me complementarem o que digo e o que sinto, serão mais sinceras que minhas palavras, mais sensíveis do que música de amor do Chico.
E para não perder o tom do início, pra puta-que-o-pariu essa vontade de ser o que não tenho vontade. Não posso ser também outro, eu sou eu e um dia, com sorte, paro de me comparar. Pro diabo se não sou tudo o que quis, se não me esforcei pra ser nada, se nunca passei de uma farsa. Sou o que sou agora, não mais que isso. Não me cobrem mais, nem eu hei de fazê-lo (assim espero). Um grito, um desabafo, era isto, em verdade. Chega de prosa em poesia e poesia em prosa. Minha prosa é aqui, direta. É prosa. Poesia é poesia. Pelo menos assim é assim que eu consigo escrever.

sábado, 2 de abril de 2011

Escambo

A fim de que a vida fosse algo a mais
vendi minha casa a troco de bebida,
vendi minha bebida a preço dos olhos,
troquei meus olhos
por feridas superficiais,
comprei com tal sofrimento
um sobrado velho
no centro abandonado
de uma cidade fantasma,
onde espero conseguir
em algum lugar algum whisky abandonado
para trocar pelo que perdi
quando ganhei de novo
meus velhos olhos (agora secos e cegos)
que ocupam o vazio
onde deixei que me levassem
aqueles íntimos segredos
como amores de infância
para o cemitério
onde vão as melhores lembranças.

E por fim, ainda me roubaram
as verdades escondidas nas mentiras
que disse para comprar dos outros
as almas, e trocá-las por nada mais
do que algumas palavras bonitas.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Por onde estive

Descobri que o mundo
não foi feito para ser o que sou,
mas que eu sou feito para ser
do que foi feito o mundo.
Tratei meu ego a pão-de-ló,
dei do bom e do melhor,
e ele cresceu,
tomou proporções
que eu não sabia como conter.

Que bom que a gente
foi feito de dor atrás de dor
para podermos arrepender,
para fazer da dor o nosso cais
e saber onde exatamente
nossa fundação é mais firme.

Mas a dor de doer noutrem
sabe ser grande como uma supernova
explodindo em seus raios ultra-violentos.
Tanta palavra e tanta convivência
incapazes de provar o óbvio
pelo simples fato
de os fatos não o comprovarem.
Desculpas, de que adiantavam?
Fiz por merecer duras palavras e cruéis sentenças.
Passei a não exisitir,
e se ainda fiz disto uma criação
foi sacanagem
e desmerecida pelo prejudicado.

Tola, que garantiu confiança
a um pé rapado qualquer
que jamais soube qual seria a hora certa
entre o tapa que desperta para a realidade
e o abraço da melancolia,
o beijo do amor,
o escarro do ódio
e o olhar de perdão.

Perdi o bonde na  rua
no momento em que tudo esfriava,
e caía neve nos arredores
do planalto central.
Era eu, longe de tudo,
especialmente do que me compunha,
dos sentimentos que me descreviam,
das amizades que me contornavam;
virei fumaça, nada mais.

Peço que se algum dia
sentirem o que eu senti
repensem: é aqui mesmo
que eu quero estar?
Abri mão do que mais amava
em troca de trinta moedas de ouro.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Eu, eu mesmo

Hoje me senti bem. Estava sentindo algo que eu havia esquecido alguns anos atras e que mal sabia o sabor. Me senti bem dentro da faculdade, assisti a uma aula que nao gostei com algum pos-doutor sabido. A aula era chata, sem duvida. Didatica zero. Mas ainda assim a sensacao foi muito boa, de verdade. Talvez uma nostalgia, talvez a impressao de que o ano realmente comecara. Deu vontade de ligar para varias pessoas, mas como sempre, nao liguei. Queria contar que estava feliz, e as pessoas perguntariam: "serio? Que bom! Mas por que esta tao feliz?" - e exatamente ai meu plano falharia. Jamais saberia explicar por que e com certeza a conversa agora passaria a ser constragedora, com pensamentos quebrando as vozes em silencios compassados e transparentes. Ate mais transparentes do que se dissem: "endoidou".
Loucura ou nao, me senti como que aliviado, como se estivesse cercado de amigos em um momento dificil. Sei que poderia contar com todos eles, mas o dificil mesmo e' contar comigo. Desconfio de mim a todo momento. Cada segundo minha energia se divide em duas: manter-me vivo biologicamente e me policiar - se nao eu, quem mais? Sinto que devo comecar a ler outro livro, algum Erico Verissimo ou algum classico mundial, algo que me deixasse tao confiante de minha cultura que me fizesse esquecer de mim mesmo, desse policiamento ditatorial.
Divagacoes a parte, me sinto feliz pelo dia de hoje. Trabalhei, criei um pouco, refiz as pazes - pelo menos por enquanto - comigo mesmo.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Incontido

Cansei da minha hipocrisia
e de minh'alma lavada,
meus pecados perdoados,
nao sou assim,
nao mereco perdao nem respeito,
nao passo de um trapo,
um Eugenio que se deixou perder
por um punhado de tostoes.

Quanto mais me pergunto
por que eu tenho que ser assim
mais me afasto
do homem que costumava ser.
Onde esta minha familia?
Cade meus filhos e meus planos?
Diluidos em tantas outras preocupacoes
que nem me lembro mais
se sou Cavalcante ou se sou Oliveira,
ou Silva
(acho que nenhum).

Sinto o amargo da distancia,
sei ate que os ventos e as estrelas
sao os mesmos onde quer que os sinta
ou os veja,
mas isso nao basta.
O calor se perde no caminho,
as vozes se perdem,
o brilho esmaece e o opaco predomina.

Tudo que eu nao disse
hoje resolveu dar brecha
e apontar meu futuro:
um tiro no escuro,
um alvo desfocado.

De que adianta tudo isto
se tudo que eu sempre quis
esteve tao perto da minha mao direita
que o seu calor me fazia suar;
tao frio que sentia nao so o tremor
mas a dormencia em meu corpo todo,
e tudo nao passou
de uma vontade de deixar tudo para o futuro
que o futuro se resolva
- e que se exploda, se for preciso -,
mas que nada me permita
perder este sentimento de culpa
que vem toda noite
se deitar ao meu lado,
ouvir meu ronco
e debochar dos meus sonhos.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Verônica

Fui pago, não nego,
fui pego, mas fujo.
Juro que jamais a conheci,
foi lance de sorte
ter te encontrado até,
apesar de um pouco de azar
nessa situação toda.

Tentei escrever todo amor
que a simplicidade pode conceber,
mas nem isso consegui,
não sou simples assim, queria ser mais humilde.
Rebusquei demais, falei demasiado.

Busquei você na minha mente,
mais do que imagina,
dei vida, dei forma, dei poema.
Até daria a alma, mas foi vendida.
O que se vende não pode mais se dar.
Mas vendi você,
e acho que vendi caro até.
Não pagaria tanto
por tão pouca imaginação.

Até escrevi prosa em verso
e matei a gramática.
Matei Drummond, matei Baudelaire,
matei muita gente, e gente grande,
gente boa.

Me pediram e eu fiz
um poema para uma tal de Verônica,
Verônica dos lábios de pimenta
e de peitos de sedução,
de coração de ouro,
de cabeça firme,
de olhos que me davam a segurança
de um dique, a segurar tudo atrás de si.
Me pediram, foi isso.
Me pagaram, confesso.

Juro que sempre a amei,
mas jamais foi você mais
do que minha imaginação adubada
e um cachê barato
que gastei com whisky
a fim de criá-la.

A Caixa Mágica

Minha caixa mágica
que guarda muitos sonhos
muitos poemas,
guarda lembranças
e muitas coisas que nem imaginarei
que poderei ver.

Sim, possuo uma caixa mágica.
Que não é só minha, por sinal.
Acho que não poderia ser mágica
se fosse egoísta.

É como um carro, um transporte,
mas para dentro de mim.
É como o contrário da caixa
que pobre Pandora abriu.

Não é a toca de Alice,
é só uma caixa,
mas ali me guardo,
ali me tenho, sei onde estou,
ou às vezes até quero me perder
e faço da caixa meu labirinto.

De tão mágica, ela muda de humor.
Fica feliz quando estou triste
para eu me sentir melhor.
Fica triste quando estou feliz
para me lembrar que ainda vou doer.

Não digo que ela me mantém vivo,
pois ainda tenho em mim
meus músculos, meus ossos,
meus nervos à flor da pele,
meus nervos gélidos e insensíveis,
meu sangue azul e meu sangue roxo,
sangue verde, até amarelo,
tenho meu peito que tenta explodir
setenta vezes por minuto (assim dizem).

Enfim, sou bomba,
sou sentidos, sentimentos, raciocínio,
sou força,
mas também tem a minha caixa mágica.
Colorida por fora,
cobreada por dentro, sóbria,
mas mais na aparência.
É ali que descubro
se estou perto do lugar longe que sempre quis chegar.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Simples tempo

Tempo bom é tempo que não preocupa,
que vai cadenciando sem se deixar perceber,
passa, muda, transforma,
mas sem marca, sem compasso,
sem batuta e sem burocracia.

Este é o tempo inadestrável
que não consome,
mas participa e envolve.
Aí a gente brinca,
a gente escreve - e tem tempo para isso.
Principalmente, desperta.

Assim não importa se acaba,
pois é despercebido,
desavisado,
tempo passa e ruga vem,
mas quem se importa
se são apenas as marcas deixadas
pelas histórias que fizemos contar
e acontecer.
É a cerveja a mais que a gente toma,
é o sorriso e o choro que estampa
em nossa face nosso tímido e escondido coração
ou nossa alma, o que quer que seja.

Principalmente,
acordamos sem despertador
sempre na hora certa.