quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Longe

Foi pelo meu olhar encostado
que você se apaixonou
e me debrucei na música que você tocava
e nem percebi seus tons.

Não consegui ir atrás de você,
e não deixei pistas também.
Resolvi me mudar e sair para bem longe
mesmo sabendo que você estava bem ali,
tão perto que jamais consegui novamente
botar para dentro de minha pele
aquele velho coração de novo.

E desde então mudo de casa,
vou a muitos lugares e até
conheço gentes estranhas,
diferentes,
bonitas, feias, interessantes,
chatas,
mas nada mais
me será algo a mais.

E talvez eu seja mesmo sozinho
mesmo que me doa como a morte
e talvez mesmo eu mereça
carregar para sempre
esta frieza tão pesada
que passei a me cobrir.

Antes do Silêncio

Não quero mais escrever
o que não diz nada.

Por isto e por enquanto,
estas são minhas últimas palavras:
nada, nada, nada.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Lícitos

Pego meu isqueiro
acendo e fumo Bandeira.
Sinto minha escavação
no pulmão esquerdo.

Cheiro Freud e compreendo as coisas.
Elas passam a se auto-explicarem.
Incrível.

Bebo Kerouac e passo mal.
Tusso, mas trago mesmo assim.
Sinto todo seu álcool,
todo seu ácido
e toda sua idéia despejada.

E Dalí, fico a ver as imagens distorcidas
e minha imaginação não se aquieta.
Fica ali voando por onde acha
que tem que voar.

O que vejo em Pessoa me é inédito
e me dou vários nomes,
e nasci em vários lugares.
E por quê não, se sou tão diferente de mim mesmo?

E no meu copo de whisky,
sei que há um Poetinha lá,
um pouco Vinícius e um pouco whisky mesmo,
sempre muito bem acompanhado
e feliz, mesmo quando triste.

Nas veias, um pouco Hendrix,
um pouco Joplin
e me sinto bem.
Começo a tremer,
a me debater,
é inevitável.

Depois de tanta coisa assim
sempre vem a overdose.
Mas foi intencional:
me matei.
Estou no limbo.
E o impressionante
é que só minha cabeça dói.
Esta ressaca nunca tem fim.
Não importa o que você leia
ou veja ou sinta:
a cabeça vai doer.
Eu sei que não é bem assim
e que tudo é muito mais dramático
do que parece.
Somos todos heróis.
Super-heróis.
Somos mais fortes, somos diferentes.

Não há nada mais sincero
do que meu violão desafinado
e minha mentira escancarada.
Minto para me manter
homem digno do que sempre quis ser,
de maneira que se esperava recebê-la
(a mentira)...

Mas não pense
que senti pena por compaixão.
Foi um pouco por amizade.
Um pouco por alívio
mas muito foi por tudo que eu sabia
que jamais você se daria
e que eu me daria até o resto de minha vida.
Se suas súplicas me conquistassem também,
e suas incapacidades físicas,
e sua compaixão pela religião inquestionável,
tudo se tornaria claro demais.

Não sei nada do que deveria falar
mas não me sinto confortável assim
ao ponto de me defender abertamente.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Os chifres

Cara, eu queria mesmo é saber qual o problema das pessoas. De todas as pessoas, tem alguma coisa errada. Não é possível que só eu odeio propagandas de cheiros para casa/higiene bucal/inseticidas/sabão em pó e etc. Mancha de roupa não tira o sono de ninguém. Escovar os dentes 3 vezes por dia é suficiente não importa se usa uma marca ou outra. Casa que cheira demais dá dor de cabeça. O pior são os inseticidas. Qual é o real problema? São realmente as porcarias dos insetos? mosquito da dengue, baratas, eles matam tudo. E daí? Não deveríamos eliminar água parada e deixar a casa limpa? Acho que isso já diminui bastante a probabilidade desses odiosos aparecerem. Umas moriçocas foram tanto problema. Hoje tudo é problema. Tem que ter uma coisa errada, parece que todo mundo agora deu pra criar chifre em cabeça de cavalo. E não são unicórnios.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cravos

Eram apenas flores no horizonte
cravos enfiados em rifles,
atingiam como estacas aveludadas
incapazes de trazer para fora
o sangue do coração,
vermelho pelo ardor
de tudo que vemos ao redor
e escondemos nossos rostos
com medo de que nos atinja
e que nos vejam.

As pessoas caminham por ali
e despercebidamente deixam perder
aquelas lições de antes,
aquelas árduas lições
aprendidas a ferro e fogo,
imortalizadas pelas cicatrizes
que ainda doem no frio,
que ainda são sensíveis.

Mas as outras pessoas vão morrendo
e este sentimento
é intimista demais.
Mesmo que não morram as pessoas,
elas morrem. Por dentro. Bem pouquinho.
Mas pouquinho a cada dia.
As cicatrizes doem no frio
mas não ardem como feridas abertas.
Abertas como o peito
dos que ainda se importam
em nos passar a lição.

É quando percebo
que eu mesmo
nunca tive feridas.
Apesar de imaginar como doem
nunca me arrisquei o suficiente.
Nunca fui eu
a colocar os cravos em rifles
e silenciar as pessoas
por ter algo importante a dizer.

Os coadjuvantes estão lá
mas eles simplesmente não existem.
Eu não existo.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Droga do Cotidiano

Tenho um profundo medo de desinteressar da vida. Algumas vezes acordo, ainda com sono, sei que tenho coisas a fazer. Às vezes nem tenho, mas invento, afinal, o dia tem que ser preenchido. Fui ensinado que não fazer nada é desperdício de tempo. Mas e quando o dia anterior foi sensacional? Aquela sucessão de acontecimentos que se encaixaram como cada uma das pedras das pirâmides deixaram escritas e pintadas memórias que só poderiam surgir da cabeça de mestres. Só o que resta é acordar no outro dia fomentando uma falsa esperança de que todo dia pode ser assim. É aí que se chuta o pé da cama ou o pé da mesa. É aí que o jogo vira.
Em milésimos de segundos e microgramas de neurotransmissores percebo o que acontecerá em diante: esquecerei a conta que eu deveria pagar em casa, ficarei preso no trânsito e me sentirei mal por ter me atrasado para o trabalho.
O que acontece é que ao mesmo tempo que acredito estar vivendo os melhores anos da minha vida, parece que também cada vez mais acho qualquer novidade déjà vu. É como se no primeiro dia eu aprendesse a beber e me apaixonasse pela embriaguez e entre com muita sede ao pote, literalmente. Daí vem o segundo dia, vem a ressaca e a vontade de que o mundo se exploda e só volte a existir no terceiro dia. Daí no terceiro dia já nem tenho mais tanta sede. É só vontade pois sei que eu gosto. E não porque descobri que gosto, ou porque estou sentindo o quanto gosto. Eu sei. E isto apodrece tudo. Agora sei que gosto de viajar, sei que gosto de assistir a shows, sei que gosto de sexo. Mas tudo já perdeu o tom de novidade. Tenho medo que eu sinta cada vez menos as coisas. É realmente uma droga parar para pensar nas coisas. Tem até os mesmos efeitos de drogas. Primeiro, um medo de experimentar, depois uma sensação de êxtase e, por fim, uma depressão depois que acaba a parte boa.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Nada do que eu pensava

Passado o susto, viu que era ele quem tinha morrido. Olhou para os lados e viu seu corpo em pedaços. O desespero voi tão avassalador quanto manadas inteiras de hipopótamos (se é que se chamam manadas). Mas aí se deu conta que só poderia mesmo ter morrido. Não era fantasma, não era zumbi (para tristeza de muitos), não era alma penada, não era anjo e não estava em nenhum caldeirão. Foi atrás de outros mortos, seus bisavós, Mozart, Hitler, Lênin, Adão, Elvis, nada. Não viu ninguém, não podia gritar e nem tinha a quem pedir informação. Olhou um relógio que estava por ali e viu que ele andava muito mais rápido que o de costume. Se bem que, até onde se lembrava, não se lembrava de olhar muitos relógios. Era só uma consciência. Seu corpo deixara de existir e foi apropriado por outros vivos. Pelo que se lembrava, eram legistas. Começaram a sumir as palavras. Os idiomas das pessoas começaram a deixar de fazer sentido, embora agora conseguisse compreender um pouco da antiga escrita persa e também hieróglifos. Não notara até então, mas aqueles relógios estavam passando as horas no outro sentido. As horas voltavam, e não percebeu. Foi voltando o tempo e se acelerando, viu os romanos em sua gloriosa queda, depois seu ápice e depois sua ascenção. Viu Alexandre, o Grande, a passear pelo oriente médio, depois domando Bucéfalo. Viu os super-répteis e viu surgirem as primeiras vidas macroscópicas. Eram fascinantes. Voltou o tempo, todo o universo, ainda pequeno, até sua grande explosão. Daí tudo ficou preto. Acabou. Essa era a vida após a morte: uma breve história do tempo.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Estrofe

É como se o meu ouvir
não soubesse mais onde entrar
para me fazer aprender
que todos os meus erros
são tão pequenos
e crescem tão absurdamente,
têm consequências catastróficas,
pois muitas são as pessoas
que por bem ou por mal
fiz se interessarem
por quem eu sou
ou por quem elas acham que eu sou
(e nem eu mesmo sei mais de mim),
me esculpi nesta forma
e agora se sou sincero comigo mesmo
engano a sociedade. Vice-versa.
Aqui sou pouca rima,
aponto o dedo muito para mim mesmo.
Mas adoro falar de vocês a mim mesmo.
Falo mal, falo muito, e às vezes mando me calar.
Claro que a desobediência me é inata.
Dentro tenho minhas estrofes musicais
decassílabos e redondilhas perfeitas.
Mas nem gosto de usar. Faço por falta do que fazer.
Sou muito ocupado, é isso que sou.
Sou folgado, fico me desperdiçando.
Desgastando meus dedos, meu cérebro,
minhas retinas (que me odeiam),
meus tímpanos, coitados,
jamais tive a decência de escutar seus gemidos
uma vez sequer.
E fico fazendo rodeios
cheios de tentar me engrandecer com eles,
mas perco amigos,
perco a piada,
perco bebedeiras e festas,
deixo de encontrar algum amor,
deixo de transar,
deixo me levar sem nem perguntar
onde é que a maré me afogará.
Pois nalgum momento haverá de ocorrer:
faltará oxigênio e minhas funções vitais serão esquecidas.
Sem cerebelo, sem bulbo, sem voz, sem ar, sem marcapasso.
Sem pulso.
Mas aquele velho relógio estará lá
me lembrando de todas as horas
que ele ficou com seus ponteiros girando e girando
tentando me avisar que aquela merda de barulho
(tic tac tic tac tic tac tic tac)
é só o tempo se quebrando em pedaços cada vez menores
esmigalhados até partículas subatômicas
sem sentido e irreconciliáveis
até que deixasse de sobrar matéria alguma.
Sobraria energia, talvez.
Acho que não.
Algo tem que se perder. Nem que seja uma coisa só.
Nem que seja um coração partido.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Passa

Um dia passa.
Um mês passa.
Um ano passa.

Mas não passa
aquela velha vontade.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O outro lado

Sei que sou capaz
e que me esforço.
Tento, mas não dá.
Não sai do lugar.
Patina, desliza
e fica ali.

Vejo a loira que passa,
vejo seu balançar
mas nada além deste desejo
intrínseco do ser masculino.

Um moribundo por dentro,
uma caixa preta e vazia.
Esconde o porquê da tragédia.
Esqueceu-se de trazer consigo
o riso que guardou para a comédia.
Só se lembra dos espinhos,
mas nunca da rosa que os carregava.
Espinho não machuca flor,
sei disso.
Mas flor sem espinho, pode.
E espinho sem flor?

Jamais chorei tanto quanto
o violão de sete cordas
ou me arrepiei tanto quanto
um violino em solo a puro pranto.
Não sei onde estas coisas foram parar em mim.

Sinto tanto as dores de uns
mas não sei onde me guardo.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Amor

O que me faz falta
são as mulheres que nunca amei.
São as que estavam enamoradas,
as que jamais perguntei o nome,
as que se fizeram de difíceis,
dentre outros estilos.

Era uma música boa,
era uma luz boa; nem forte,
muito menos fraca.
E sentia meus joelhos firmes,
contestando os filmes e os livros.

Aqueles olhos
mal escondiam o que o corpo sentia,
mal funcionavam como barreira.
Pelo contrário,
jamais verei olhos assim,
da mesma maneira.

O brilho deles assustava,
fez o céu esquecer de sua cor noturna
e quedou-se branco naquela noite.
E tudo seria claro,
e Deus apareceria e revelaria tudo.

Mas tudo foi como veio:
devastador.
Jamais vi novamente os olhos,
ou algo que me lembrasse deles.
Foi só a fascinação,
o momento.
Tenho medo
de que se isto não for o que sonho
eu tenha de viver para sempre
neste mundo que chamam de real.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O Futuro

Ainda que me guardasse o futuro
todas as minhas certezas,
certo de que não irei me preocupar com elas
continuarei a viver como
se o mundo houvesse de acabar amanhã
mas de um modo que nunca se acabasse,
como se tudo fosse para sempre
e meu sono eterno, finito.

A morte morre para alguns,
mata para outros
e vive para poucos,
mas em mim, sei, deixo de me preocupar.
Deixo-a não ser,
deixo vago e sem sentido.
Simplesmente porque não há sentido.
O dia que chegar, acabou.
Até lá, todo o resto é infinito!

Alô, alô, aquele abraço.
Me despeço de hoje
e abençôo o amanhã por vir.
Sinto o sol querendo chegar,
atravessando a lua, deixando-a de lado,
minguante, mesmo estando cheia.
Murcha.
Que venha o que quiser vir.
Deixo os pássaros cantarem
e sigo em diante.
É a vida, tem que ser a vida.
Se não for
é por que tudo já acabou
e ninguém nos avisou!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Futuro daqui pra Frente

Este sou eu na busca de um emprego, buscando meu lugar no futuro. Nem sei se já quero meu lugar no futuro. Quero mesmo é empregar o presente nessa onda que tenho tido de querer viver agora o mundo todo a todo segundo; presentear o emprego das idéias de felicidade que tenho dentro de mim com a realização de cada uma delas.
Tenho que ir, me abrir com quem não conheço (e que muitas vezes nem quero conhecer), tenho que mostrar meu currículo como se eu pudesse dizer com 35 linhas o que fiz a pessoa que sou e se minhas habilidades se encaixam no perfil desejado como brinquedos lógicos para crianças de 3 anos. Minha sinceridade está ali, a postos, pronta para ser usada - em caso de necessidade. E me dizem: seja você mesmo. Não sou empresa, não sou papel, e é isto que eles querem. Querem minha caveira, minhas horas de trabalho, minhas mãos e um pouco do meu cérebro. Marx diz que querem a parte não paga de meu trabalho, e Adam Smith diz que querem minha contribuição para vencermos o concorrente (de forma justa). Já nem sei se acredito nestas ideologias - mesmo quanda até então incontestáveis - que não me mudam em nada. Vou acordar, procurar manter-me empregado, sustentar-me (sustentavelmente ou não) independentemente da luta de classes. Meus valores já beiram o lixo, e o lixo beira o esquecimento, que beira a morte dos sentimentos puros e um pouco autruístas.
Hoje, quando me pergunto o que mais vale, tenho medo das minhas respostas. Posso querer sumir, ir para o Alasca, talvez, não me importando com a sociedade e o meu antigo mundo; posso só mudar de país a cada mês e ser anônimo, ser um mendigo, embora íntegro; posso passar a viver destas queixas ou posso simplesmente aceitar: uns foram feitos sem moldura, com tinta removível e com várias tonalidades que nem mesmo os olhos podem ver. Outros simplesmente se passam por um sorriso enigmático pré-determinado que fica exposto ali, com milhões de expectadores na expectativa de compreender o seu sorriso, embora nem você mesmo saiba por que está sorrindo.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Um Pouco de Tristeza

O dom da vida
é o eterno dom de saber-se triste
e saber controlar esta tristeza
nas doses necessárias:
nem muito, nem muito pouco.

Eu, por exemplo, torço sempre
pelo time perdedor.
E se o time ganha, mudo de time.
Grito, vibro pelo gol, pela vitória,
mas tenho que mudar de time.

Não é dos começos que me alimento;
me alimento dos fins.
Me esqueço dos meios,
por mais duros que sejam.

Por isso cresço, eu engordo.
Há muitos fins, muitas intenções,
mas há poucos meios de vazar,
e quase não sangro,
e tudo que posso fazer
é meus olhos molharem-se.

É uma pena
que venhamos morrendo sempre
pelo intrépido dia-a-dia.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mais uma dose

O importante não é o que fizeram do homem
mas o quanto ele bebe depois do que ele faz
do que fizeram dele.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Certo Brilho

Como as estrelas
são as pessoas.
Pequenas ali, paradas,
infinitamente distantes,
ainda que brilhando para nós.

Dia após dia,
incansavelmente,
vão se mudando, se locomovendo,
quase estáticas,
mas nunca exatamente
no mesmo lugar.

Vão, passeiam flutuando ali,
silenciosas,
se agrupando,
se constelando,
gerando formas,
criando conosco identificações,
e quando vemos,
já não as reconhecemos.

As estações são outras,
a noite ficou curta,
ou ficou longa demais,
e tudo mudou.
A ordem natural,
as posições,
são outras.

E são as mesmas estrelas.
São as mesmas pessoas.
Às vezes até deixamos algumas
se apagarem, abandonadas,
mas continuam lá
ofuscadas
disputando seu brilho
nas horas onde esta outra
pequena estrela
se recolhe: o Sol.

Um dia desses
ainda serei estrela
e o vácuo ou o éter
(o que for mais romântico)
me permitirá
conhecê-los todos de perto.
Pessoas ou estrelas,
o que estiver mais próximo.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Dicionário de Expressões

Palavras ao vento:
coisas que a gente diz
quando quer que alguém leia
mas jamais diremos a esta pessoa:
leia, é seu.

Apenas esperamos que algum tufão
possa cuidadosamente devastar tudo
e por alguma ordem superior
rearranje tudo
para que nosso sussurro
chegue ao destino
sem que se perca nada
do seu significado original

O Meu Futuro

Ainda direi bobagens do Universo
e de mim mesmo
centenas de trocenas de vezes.
Direi que nada sei
mesmo querendo me convencer
de que sou conhecedor
de muitos conhecimentos
e muitas artes
e de uma só sabedoria:
da finitude.

Mas me enganarei.
Escreverei contra mim mesmo,
me refutarei,
serei o peão
que salvará a rainha inimiga
num jogo contra eu mesmo
em busca de um empate.
Técnico, de preferência.

Andarei pelas ruas desolado,
talvez sozinho e talvez desacompanhado,
não necessariamente nessa ordem
nem nessa escala de tristeza.

Trarei amigos para perto
e com sorte afastarei poucos.

"Só um tolo não é capaz
de ler seu próprio futuro"
direi agora
com a mais absoluta das convicções
de que algum dia estarei errado hoje.
E que errarei também neste dia
quando de mim desacreditei.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Eu Dique

Há algo dentro de mim
querendo explodir a qualquer instante
um montante de coisas a serem ditas
ou sentimentos a serem sentidos.

Talvez diálogos diagonais
trespassados em minha garganta
secos pela necessidade árida
e tristes pela definição de sua existência!

Inútil conter o que jamais poderei carregar
se pode vazar, molhar, escorrer,
me fazer sentir seu sal
e perceber que não há nenhum furo,
mas que a tragédia é iminente.
Como uma lágrima:
transparente, mas turva.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Os Dias

Os dias
são mais longos
que os dias
em que a gente
não pensa
nos dias.

sábado, 26 de junho de 2010

Cruas Imagens

É isto que sinto em meus olhos?
Sinto-os secos como palha,
amarelos e quebradiços como tal.
Sinto-os gravando imagens
fracamente numa tinta frágil
esquecendo-se de sua breve permanência.

Despercebidas vão-se as imagens,
corrigidas pelas minhas próprias imgens,
minhas paisagens reconstruindo o que vejo
e minha nostalgia destruindo
tudo que havia cuidadosamente
deixado de lado.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

As Estações

E quando não sinto o inverno tão frio,
e o verão não queima
e também não me lembro como são
primavera e outono?

Mesmo que minhas agulhas
apontem algum norte
ou até mesmo algum sul
jamais saberei onde está o frio.
E jamais saberei onde descongelar-me.

Onde escolhi nascer, crescer e talvez morrer.

Onde escolhi que talvez seria a boa parte da vida
ou até mesmo se seria apenas uma parte boa
da vida.
Mas que ainda assim seriam anos
e dias e noites dedicadas a esta parte.
E, dolorida, ainda brilha em mim.
Em seu apogeu ou declínio
ainda sinto suas marcas
e a dor de saber do futuro responsável
que me espera.

Ah, se tudo não fosse como aqui,
se tudo não fosse como esquecer
de que posso me esquecer
e ficar como estou.

Mas nem se lembram como é isto
mesmo que invejem
mais que tudo,
isto,
do fundo de suas almas!

Crenças e seus buracos.

Antes que eu passe a acreditar
quero saber por quê estou aqui.
Quero saber porque algo precisa
ser maior do que eu.
Já que sou, como todo homem
megalomaníaco de si mesmo.

E mesmo que fosses a última
dentre todas as mulheres
eu não saberia o que dizer.
Eu não saberia como faria
e como te impressionaria.

E antes que eu possa dizer o que quero
e dizer que também sou frágil,
vulnerável,
vou ser mais que isso
e vou me esconder
em todos buracos que puder
toda minha fraqueza
para parecer forte,
para parecer imune,
para acreditar
que o único motivo
de eu beber
seja minha própria vontade.

Para que meu desabafo
pareça tolo e em vão,
pois os buracos no chão
não são capazes de me ouvir,
e tampouco são capazes de me esconder.

Mas sigo tentando pois parecer frágil
nunca parece ser a solução.

Até daria um pouco de mim
e talvez me sentiria mal
mas este sou eu e sou como eu sou.
Nada mais,
um animal, apenas.

E queria fazer dosexo meu refúgio,
queria que meu tempo livre fosse exatamente
como eu quero,
queria que fatores externos não existissem,
queria que tudo se explodisse,
se fosse necessário.
Mas o que Mr. Jones não percebe
é que tudo está acontecendo,
mais rápido do que ele imagina.

Mas aqui está acontecendo,
os espíritos vêm,
os santos baixam,
os deuses ganham seus sacrifícios,
e todas nossas vontades morrem.
E assim morremos nós.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Teu Silêncio

E o que faz do teu silêncio?
Amordaça tuas inquietudes
e cala tua maior força.
Mantém-se longe
e me sinto de algum jeito
desconexo e desconhecido.

E por que obscuro silencio?
A mais longa das noites
deste solstício te entristece?
Te amedontra?
Te confronta?

Ainda que foste este frio
quebradiço em teus dedos,
ainda que ele ardesse em tua face,
o pior que fazes é calar-te.

Se ao menos pudesses dizer
o que sentes, onde estás e como estás,
se pudesses dizer que sente minha falta
meu sono viria muito bem acompanhado
dos licores agridoces do descanso.

domingo, 20 de junho de 2010

Libido

-Se de alguma forma pudesse compreender que quero teu sexo, e nada mais, e que isto, apenas, me faria feliz, eu o faria com todo meu esforço. E daria também o melhor de mim, tentaria ser inesquecível.
-Se soubesse como eu desejo suas mãos me acariciando os seios, me descobrindo e me lendo, seus lábios escorregando lugares que eu nem ligava a arrepios, como me fariam trêmulas suas pernas procurando um lugar entre as minhas, viria agora como um leão, como um tigre, como um urso procurar o que posso oferecer de mim.
-Este seu olhar que parece um misto de querer dormir para sonhar ou de acordar para viver me consome de um jeito que me sinto combustível, inflamável, me sinto uma matéria irreal a se transformar em qualquer coisa irracional em busca de algo que não seja mais que o próprio prazer, que a própria vontade de viver agora sem nem saber quando o mundo vai acabar - e que se dane, que acabe agora mesmo!
-Se nem este olhar traidor foi capaz de convencer das minhas reais intenções fico aqui desprotegida e desarmada, à espera de que alguma maré me leve ou traga algo diferente, como um raio de sol que contenha felicidade além deste corpo que há de ser pó e desalmado. Este amor louco que não conseguiu vazar de minhas mãos para tocar as suas, tocar seus olhos, sua boca e seu sexo tão tolo quanto um pudor inexplicável não foi forte o suficiente?

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-Se ao menos tivesse a coragem de dizer tudo isto, se ao menos o medo de que os próximos segundos fosse menor que a vontade de fazer destes melhores segundos sei que isto de certa forma me faria mais dono de mim, desprogramado e despreocupado. Pena que  tudo não passa de algo que imaginei.
-Se tivesse me dito tudo que parece ter pensado com certeza tudo seria diferente. Este seu sonho tem mais de verdade que qualquer brincadeira que se brinque. E de certo que eu aceitaria. Mas fica você aí pensando demais e passa da hora. Passa do dia. Não é mais quando deveria ser e as coisas começam a acabar, infelizmente o tempo não espera que o tempo seja certo. Não que tenha agido errado. É só que o certo não está escrito em nada, e de certo que não existe. Mas que as intenções eram reais e recíprocas, aposte que eram.

Improvável

Por que foi o vidro
que deixou de se quebrar
e sua voz que quedou-se silenciosa.
Para sempre.

Nem mais os gemidos
que o vinho e a falta de luz
contribuem;
nem mais um sussurro
e um "eu te amo"
ou mesmo um
"eu te odeio";
nem mais um espanto;
nem mais um medo da morte:
tudo calou-se em você.

Seu silêncio sepulcro
cala meu pulsar
e meu coração vermelho
perde para minha mente cinza,
feia.

Meu silêncio surge
como uma vontade horrenda
de gritar-me
e que minha laringe se revolte,
e que suas cordas desafinem,
e que suas vontades se exagerem.

Quem sabe se eu voltar
como alguém que a luz
não consegue produzir sombra,
alguém que o próprio peso
não possa produzir pegadas,
possa escolher
entre todas as coisas
que poderia sentir
e todas as coisas
que esta outra metade de mim
acha verdadeira, casta,
onipotente e de certa forma
divinamente cruel.

Estes dados viciados
que jogam comigo
e todas minhas idéias
já me fazem deixar de pensar
de fato tudo que eu tinha certeza,
tudo que era sistematizado,
e agora tenho certeza
que toda sistematização
me enfraquece.

Ah, seria bom
se todas minhas escolhas
soubessem ser aleatórias
ou escolherem-se por si mesmas,
poderia dormir eu tranquilo
sabendo que jamais cometera
um erro sequer em minha vida
mesmo sem ter a certeza
de que fui feliz como eu queria ser.

Até por que ser feliz como se quer
é diferente de ser feliz o quanto se pode.
Às vezes simplesmente escolhemos
nos entristecer.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Por Pouco!

Que sorte a minha!
Quase caio num caldeirão
de palavras melosas
e diabéticas.

E ainda por cima em inglês.
Imagina só?
Que seria eu
se dissesse coisas açucaradas
em outra língua?
Um metido a besta
disposto a vender-me
em palavras baratas
por alguma esperança
de que alguma desesperada
se esperançasse em mim.

Vida e Morte

Viver:
Estar sempre sobre a tênue linha
entre sentir-se só e estar só.
Acordar e sentir algum braço ao seu lado,
alguma mão que o procura pelo faro do tato.
Dividir pequenos espaços
e juntar miudezas de coisas grandes
para guardar em algum lugar entulhado
que nunca cabe mais que o desnecessário.
Acariciar suas vontades e provocá-las;
encurralar virtudes, guardar potes de cinzas memoráveis
e desperdiçar idéias irrecuperáveis.

Não-viver:
Esquecer-se de abrir os olhos
e de sentir o chão a seus pés.
Aprender a voar sem poder chegar perto do céu.
Deixar morrer as necessidades
e putrefazer os desejos.
Equilibrar-se numa corda sem risco de queda.
Cair de pé, não se machucar e não contar cicatrizes.
Ser pedra e jamais um tronco no rio.
Ser frio e jamais ser neve.
Ser santo e jamais ser puro.
Ser álcool e jamais bebida.

Morrer:
nada disto.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Juntos

Acordaremos sem saber
o que dizer, e assim,
seguiremos dizendo
sem saber o que queremos.

Andaremos sem saber
aonde queremos chegar
e esta aflição estará
a nos acompanhar
por toda esta longa estrada.

Olharemos uns nos olhos
dos outros sem saber
o que dizem, o que sentem, o que são.

Evitaremos tudo o que
sabemos nos magoar
mesmo sabendo
que pode ser o nosso melhor.
Mesmo que possa ser nossa
salvação,
nossa inspiração,
nossa vontade de querer mais.

E, lado a lado,
nos chamaremos de irmãos,
seremos um só
até que algum desejo nos separe.
E, separados,
seguiremos felizes para sempre.

Dormiremos na mesma cama,
compartilharemos sonhos,
teremos filhos,
acordaremos no meio da noite
e planejaremos viagens juntos
mas sem nunca saber
de nosso rancor contido,
de nossa fé desmantelada,
de nosso amor profundo,
de nosso ciúme contido,
de nosso carinho doentio,
de nossos desejos íntimos,
de nossas almas guardadas.


Velhos, andaremos juntos,
nos perguntaremos perguntas
velhas e contidas,
descobriremos respostas amargas
e respostas límpidas,
respostas de vida
e que jamais seriam escritas
nestes poemas
de amor e de ódio.
Simplesmente respostas
das coisas que acontecem
dia após dia,
ano após ano,
datas que consagramos nossas
e que enchemos de demasiados significados
e nos permitindo esquecer
quando foi que realmente
começamos a nos amar.

domingo, 13 de junho de 2010

O que seria o Mundo?

E se hoje tudo acordasse
com um dia diferente,
e tudo fosse diferente?

E se a tristeza
fosse só para poesias?
E se eu tivesse acordado
completamente sozinho?
E se eu deixasse de sonhar
e acordado tudo seria sonho?

E se eu me chamasse José
e tocasse a valsa vienense?
E se fosse eu quem tivesse
escrito "Vento no Litoral"?

E se não houvesse o café
para me despertar?
E se não houvesse
outros meios de sair de mim?
E se usássemos drogas
para ficarmos sóbrios?

E se Janis fosse careta?
E se Jimi perdesse o Woodstock?
E se o rock tivesse morrido
no "dia em que o rock morreu"?

E se a única e verdadeira religião
que nos salvaria do inferno fosse o politeísmo egípcio?
E se nada estiver certo
quem então estará errado?

E se a única certeza que julgamos ter
passasse a ser incerta?
E se perdêssemos nosso medo
onde estaria nossa coragem?

E se todas estas perguntas
tivessem resposta?
Acho que jamais teria coragem
de querer sabê-las.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Uninverso

Se a água lhe parece forte
e o ar tragado lhe estonteia:
não respire, não beba.

Sua vodca se embriaga de você,
seu cigarro fica doente,
seu ópio se sente bem,
seus ácidos se entorpecem,
alucinam.

Se as palavras não são suas,
diga.
Que mal há?
Seu silêncio
são palavras rudes, e daí?
Seu dinheiro lhe compra,
seu troco lhe paga,
sua vida lhe mata.

Tranque-se do lado de fora
do mundo
e viva sem saber por onde e porquê.
Essa seria minha vida
se soubesse eu
de cada passo,
de cada segundo
que perco ou ganho,
que gasto ou fico perdido
em meu mundo
longe do que mais gosto
e perto do que mais preciso.

Bem-estar

Hoje acordei
admirando minha imperfeição.
Coisa difícil
é admitirmos
iguais e passíveis
de erros, desleixos,
má-vontades.

Todos deixamos amigos de lado,
os trabalhos acumulamos até o último minuto,
o quarto permanece desarrumado
até quando não mais
nos encontramos nele.

Hoje não houve peso,
não houve suicídio,
não houve má vontade.
Tudo foi feito,
tudo saiu
nos conformes.

Sei que ainda me falta algo.
Mas sei que quando
chegar a hora de procurar
de alguma forma
eu vou saber.
Poucos, muito poucos
vão saber
do que sinto falta...

Frase Solta

Se sabemos porque gostamos de algo
é porque não gostamos o suficiente
para não saber por quê gostamos.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Um daqueles que a gente escreve totalmente bêbado, não entende o que disse mas que pareceu extremamente sonoro. Publicando na íntegra, completando o final (que era inacabado) e corrigido alguns erros de ortografia.
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Nada disso
é o que devemos escrever.

Jamais serei todas as pessoas
de Pessoa,
e nem tenho intenção de sê-lo.
Só quero mostrar
tudo que é contido
aqui nalgum lugar.
E sei que se algum lugar
não o rejeita
é que o fim não é este.

O fim, nem mesmo lembro
se já concebi tamanha importância!
E o meio? Deveras sapiência
despendiarias em meio a tantos
cordéis assombrados!

Não me esqueça do silêncio
mal pronunciado
entre teclas lacônicas
e secas,
traidoras e que podem dizer que
sõ curandeiras,
quando não são.

Só quero dizer:
saudade do tempo em que se dizia
"todos se passam por sábios
se souberem conter suas palavras estúpidas".

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Os Mundos em que Vivo

Se fecho meus olhos
e imagino o meu mundo,
saio daqui.

Não posso crer
em enxames de moribundos
costurados em seus ternos
se afogando em dizeres sem sentido
se acabando com drogas lícitas
e se escondendo em medos ilícitos.

Fujo em espírito
e tento me convencer do que acredito
mas teimo em mudar de opinião
quando acho que tenho alguma formada.

Vou a lugares que nunca estive
e que sei que nunca estarei
mas isso é irrelevante.
Sei que tudo ali sou eu
com pensamentos puros
gravando em mim mesmo
gravuras e rascunhos
da minha convicção
temporária.

E isso acontece
talvez numa fração de segundos
ou numa fração de horas,
depende, tudo depende.

Depende do dia,
depende se nos lembramos
de antigas namoradas
ou se nos lembramos de casa,
ou se nossos amigos conseguiram emprego,
ou se nos lembramos de nossos avós,
ou se simplesmente
nos apaixonamos pela mulher que passa,
ou se queremos viajar...

E no fundo,
é só nossa labuta diária
de tentar descobrir
com o que nos importamos de verdade
e não o que achamos que nos importamos.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Músicas de hoje: não necessariamente nessa ordem

1)Nervos de Aço - Paulinho da Viola
2)Perfect Day - Lou Reed
3)As Flores e o Espinho - Nelson Cavaquinho
4)Como dizia o poeta - Vinícius de Moraes e Toquinho
5)Feitio de Oração - Noel Rosa
6)Do Sétimo Andar - Los Hermanos
7)Sessão das Dez - Raul Seixas
8)Pedaço de Mim - Chico Buarque
9)A Via Láctea - Legião Urbana
10)Por Causa de Você - Dolores Duran
11)Chão de Estrelas - Orestes Barbosa e Sílvio Caldas

Onde Estão os Problemas

Estrelas decadentes
e hordas de bárbaros
da nova civilização,
é aqui que me encontro.

O céu perde seu brilho,
meu acordar se torna um sono
cada vez mais pesado
e nem o sol mais
se preocupa com o dia
que há de vir.
Frio.

Onde quer que tenha enterrado
as mensagens que guardei
para mim mesmo
elas pararam de pulsar.
Com aquela certeza
de que eram vivas
e se esgotaram e foram
corrompidas.

Meus sentimentos corruptos,
o seu triunfo é nossa morte.
Não sei o que querem
mas assim não se sobrevive:
vivendo apenas para sobreviver.

Sub-viver.

As dificuldades do mundo
são grandes,
mas os muros
que nós mesmos fazemos
são tão maiores
e nós não podemos ver
através destes tijolos
que deveriam ruir.

Talvez seja sina ficar criando
chifres em cabeça de cavalo.
Talvez as palavras sejam fortes demais,
mas em toda brincadeira
sempre há um fundo
de verdade.

Deserto

Lugares, lugares, lugares,
Sul d´África,
pau d'água e suas terras
ermas e espinhentas,
solos rachados
e taquaras.

Seu seco mal calculado
suas raízes malemoles
infirmes, infiéis
a seus propósitos originais.

E alguma morte presente
e rondando
assombrando almas já mortas
jogadas em toda parte
nestes ermos do mundo.

Longe, bem longe
da África.

Está nalgum lugar
bem mais longe,
mais que o fim do mundo
(que não tem fim).

Lugar de palavras tristes
e pesadas.
Gordas.
Inarrastáveis
e incapazes de se ouvir.

Palavras roxas, vermelhas
e venenosas.
Corroem.
Palavras que sangram
só para nos ver sangrarmos
choros bandidos
calados de cavacos mudos
bandoleando notas que já
nascem mortas.

Realmente
algumas coisas já nascem
com cara de abortadas.

domingo, 23 de maio de 2010

Amor Físico

Conseguiríamos nos amar tanto?
Saber o ponto exato que dividiria
a felicidade e o compromisso
acima de toda a rotina,
de todas as exigências e
de todos os desejos?

É difícil, eu sei,
e há muitos sacrifícios,
mas não seriam eles muitos?
Demais?

Qual é a fórmula certa
para saber a quantidade de cada coisa
as coisas que sentimos
são complicadas demais,
têm variáveis demais.
Não sei o que fazer,
o que ser,
o que calcular.

Ainda acredito
que terei algum grande amor,
não sei como,
não sei quando
e talvez essa dúvida,
mesmo cruel,
seja estritamente
necessária.

Sinto a falta de algum amor,
de alguma simplicidade
e luzes devidamente apagadas,
a descobrir erros na penumbra
mais oculta: os corpos
prontos a se amar.

Quando temos o amor,
temos a distância
(que nunca vi
amor sem distância),
quando temos só nós mesmos,
temos, embriagados,
algum sexo, alguma vontade
de sentir à flor da pele,
mas nunca
ou poucas vezes
vi os dois.

Não sei por quê
ainda continuo otimista.

sábado, 22 de maio de 2010

Breve História da Vida

Uma noite deveria ser
assim como esta,
morta em lirismos,
aguçada em sextos
e oitavos sentidos,
firmes em suas fundações
e seus sortilégios fenomenais
encubertos de negritude
e seus pontos alvos
de maneira fascinosamente
estranhos.

Pois me enamoro às estrelas,
me quedo fraco e submisso
a qualquer desiluminado beco
à procura dessa vista do infinito.
Para quem nunca namorou
um porquinho-da-índia
pode tentar as estrelas.

E este é o primeiro relacionamento.
Do qual jamais sairemos vivos.
Ainda haveremos de namorar:
histórias de romance
e amor para toda a vida;
nossos sonhos construídos
cuidadosamente e cautelosamente
em alguma Hollywood;
alguma fonte de bom sexo.
Não necessariamente nesta ordem.

Poema em Sussurro

Que saia de fininho
todo poema oportuno
e toda frase bem colocada
já que em meu mundo de palavras
não mais que me perder
é onde enrolo as 36 horas
de cada dia.

Saia sem grito,
apenas diga,
severa e firmemente
tudo que pulsa um coração
cheio de sentimentos
cheio de sangue
cheio de bebida qualquer
mas que nunca perde
a sinceridade.

Vai, este meu poema,
esta minha juventude
e estas minhas atuais verdades,
vai tudo em tom veloz,
em timbres e tons que não estou acostumado,
quebra-me meus tabus,
em tatos por onde jamais estive.

Olhos que Não Enxergam

Talvez não passe
de um tempo inaproveitado
ou de alguma incessante vontade
da qual já tenha me esquecido.

Mas estão aí os olhos
que não me deixam mentir.
Se eles dizem, quem os contradiz
não são mais que tolos
que tentam segurar com frágeis mãos
as tempestades pacíficas.

E estão aí os olhos
para nos conter as lágrimas,
evitando que nos afoguemos
em nossas próprias
e prósperas
agonias.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Silêncio

Isto é o que sou hoje:
falta de inspiração,
falta de vontade,
falta de amigos,
sou toda a falta que faço
e assim sendo
não posso ser mais
que a falta que eu sinto.

Quando não há nada
de bom a ser dito,
devemos ficar em...

Mais um dia

Se cansado me deixo vencer
é que de há muito tempo
vem o tempo me corroendo
como ácidos ao aço,
como o poder às cabeças,
como o dinheiro às mãos
e como niilismo às vontades.

E minha cama se torna
tão mais aconchegante
para fazer o tempo parar
até que ele corra
na hora de acordar.

Lixo

Tô de
saco
cheio.

domingo, 16 de maio de 2010

Reflexões da Minha Vida (2)

-Então me diga, o que sabe de você mesmo?
-O que eu sei? Sei que gosto de mulheres e de música, e que um bom cinema me agrada mais do que algumas horas perdido na internet ou na televisão. A música me descreve mas jamais me lê nas entrelinhas, me torna forte em algumas cituações e me baixa a guarda em outras. Sei que consigo ganhar a atenção de alguns e a estes posso com certeza chamar de amigos, e os tenho dos mais variados gostos - alguns para cada humor que acordo. Minhas obirgações me tomam meu tempo, meus cabelos, covas no rosto e uma mancha preta embaixo de meus olhos, e infelizmente não consigo evitar este excesso de pressão. Minha válvula de escape por vezes falha e me quebro inteiro, explodo, e voam cacos e pedaços por todo o lado. Demoro para juntar todos os pedaços e me recompor, e tento voltar sempre mais forte - o que nem sempre acontece. Sei também que pairam sobre mim dúvidas inúteis e também úteis, mas jamais saberei dividi-las corretamente. Não acho que dormir é perda de tempo pois tenho muito medo de imaginar uma vida onde eu não possa sonhar. Mas acabo sendo incoerente. Gosto da noite e da madrugada, o que me faz dormir até o almoço. Mas gosto igualmente da manhã, do clima da manhã e do dourado característico. Como posso dormir tarde e acordar cedo e mesmo assim dormir muito? Este pouco de mim na verdade diz muito e diz nada sobre mim. Quem quiser saber de mim que escreva uma biografia minha e diga bobagens, pois toda vez que essa pergunta me vem, saem respostas mui diferentes!

Reflexões da Minha Vida

-Então me diga, o que sabe de você mesmo?
-Eu, o que sei de mim? Ora, eu seria um tolo se perdesse meu tempo a me saber. Eu existo, talvez, e isto me impede que eu saiba de mim mesmo. Um copo de cerveja jamais saberá sobre ele mesmo, e também o maço de cigarro. Os animais não sabem nada de si mesmos e o evento da existência e todo aquele ciclo que insistem em chamar de vida é bastante para que possam acordar todo dia e fazer suas atividades diárias! Poderia você então dizer que isto é a nossa diferença com relação às outras coisas, mas eu digo que não! Essas divagações incompletas e incorretas nos levam a crenças que nos tornam menores. Sei lá eu se sou espelho de Deus, e mesmo se ele realmente precisa de um espelho. Sendo onipresente, pode ficar em frente a si mesmo e se observar o tempo todo. Espelho para quê? Sei lá eu também se as estrelas têm algo do meu espírito e comportamento e se realmente despendiariam tempo e um pouco do seu brilho apenas para nos determinar a personalidade - até as estrelas podem ser um pouco egoístas. E se eu por acaso pudesse me descrever por padrões ao longo das fases da vida, então não seria mais que uma fórmula matemágica e meu valor seria com certeza menor do que de um castor com seus diques ou então uma minhoca com seus túneis subterrâneos. A mim não basta saber quem eu sou e como eu sou. Desnecessário. A mim, o que basta é água para minha ressaca, comida para minha fome, divertimento para todo o resto.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Se Platão tivesse amado

É como se nos conhecêssemos
de outras eras longínquas.
Quero ver sua sombra
perturbando a luz que me chega
pela fresta da porta,
passando despercebida por mim.

Sei do seu caminhar
e do seu jeito embaralhado de falar
e de trocar letras
sublimemente.
Sei seus trejeitos e tiques,
seus defeitos virtuosos
e suas qualidades
de certa forma
mal acabadas.

Diria seu nome
se anônima não fosses.
Gritaria seu endereço
se acaso tivesse.


Minhas palavras são
armas inúteis,
mas são tudo que tenho.
Não bastam.
Mesmo sinceras
são vacilantes
e ficam mudando de sentido
sem permissão.

Ainda invento um jeito
de trazer você
bem onde eu quero!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Desabafo

Já pensou que talvez
a insônia seja apenas
o medo do pesadelo?

Nada de mágicas, por
favor, hoje não, sonhos!
Deixem que meu sono
seja assim bem tranquilo.
Deixem que o meu dia
comece na exata hora
que a realidade desista
de brincar com fantasias.

Que vontade de apenas
deixar uma água fria
correr pelo meu rosto
culpado ou não por tudo
que venho sentindo.

Quero que tudo o mais
vá para o inferno.

Noite

As linhas continuam
a me confundir
sou algum idiota,
sou algum lunático
que tenta não cair?

E se eu simplesmente
quiser fazer
de todos os bancos
minha casa,
minha cama,
minha noite,
escolher algum lugar escuro
para ver as estrelas.
E o que elas são
não me importo.

Só quero vê-las
não sei por quê.
Gosto da lua
e da cor da noite
e da escuridão.

Toda solidão será castigada
ainda que a noite
seja negligenciada
pois tal momento
não passa de sentir-se só.

Irriquieto de espírito,
de fonte turbulenta
e de águas amargas
vou me constituindo
de dificuldades
que vou acertando.

O meu veneno
não me faz nada.
Minha apatia
me faz ver todo o mundo.
Minha transpiração
me faz sóbrio.

E deitado,
descuidado e cansado,
olhando o nada
e não desejando
nada mais do que aquele
pouco oxigênio
e a falta do frio ali presente
sei que poucas coisas
me fariam mais completo.
Sou o que a noite pode me dar.
Posso ser sexo e confidências,
posso ser sono e sonho.
Mas posso ser
um porre e a ressaca premeditada.
Sou imediato e muito pouco,
sou apenas doze horas,
sou um gole,
sou beijo, sou escarro
e sou vômito.
Tudo diz muito
e tudo faz parte
da vida e da noite.

É tudo que quero ser:
noite!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Acordando Tarde

Não vejo no meu dia
todas as horas que dizem ele conter.
E não é isto que deveria ser tudo?
Saber exatamente as horas
e os minutos e ser cada coisa
seu tempo certo e nada mais?

Mas já começo acordando tarde,
já começo correndo no café
e comendo mal, e acordando mal.
Começo correndo atrás de algum
prejuízo que ficou por aí
de algum dia anterior
e que minha agenda jamais
poderia ter me lembrado.

Tenho sentimentos mal resolvidos
tenho fingimentos a serem escondidos,
tenho toda uma fantasia que não posso
me esquecer de vestir por nenhum dia
porque foi o que eu escolhi para mim.

E a vontade aqui dentro vai morrendo
mas sei que também eu morro um pouco
e por isto acordo mais cansado todo dia,
e vou deixando de ser o que prometi
para a criança que eu fui e que seria sempre:
fui me traindo e cada passo errado
me embriagava mais e já quem me conheceu
não reconhece mais e quem me vê hoje
jamais saberá como fui e quem eu fui.
A não ser que eu pare de mentir.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Me Conterei

A música calma explode
e a voz suave sussurra algum consolo
menos importante
que o som puro lindo desta voz.

Os sons me fazem pensar que quero escrever
e fico vários segundos ou minutos
(o tempo é estranho!)
esperando que venha alguma idéia.

Esperando, sei que vem algo.
Talvez um sentimento esquecido
que nem sei mais do que se trata.

Me pergunto por quê não senti
todas as dores na hora certa
e não estaria aqui agora, perdido
sabendo que estou sentindo
algo tão forte que poderia me fazer voar
mas que nem bem sei porque sinto.

Não, isto não é sobre namoros,
sobre amores incorrespondidos,
correspondências extraviadas
ou traumas de infância.
É cansaço.
Olhar o céu de noite,
achar lindo todas as noites
as poucas estrelas
que as luzes da cidade
insistem em esconder,
não entender o porque daquilo tudo,
e ver que é tudo sempre igual,
e tudo foi sempre igual,
e saber que ninguém, ninguém
acha isso demais.

É talvez a percepção
de que venho me anestesiando
por tempo demais.
Venho me deixando levar demais
esperando que haja alguma maré.
Esperando que aja alguma maré.

Pela primeira vez hoje
prestei alguma atenção
no que tenho dito.
Eu queria explodir,
queria pular,
queria gritar.
Mas não sou artista, não sou músico,
não sou poeta, não sou nada.
Estou descalço e de pés sujos
na sala de minha casa,
falando mal de minha aldeia
e tentando me controlar.

domingo, 25 de abril de 2010

Me calarei

Nem por isso vão parar
as colunas sociais, e nem por nada.
E o que têm de sociais
quando são por demais anti-sociais.

Riem da pobreza,
riem da avareza
e a ostentam como beleza.

Quem sou eu
para dizer tanta besteira,
meu Deus,
se nem mesmo neste deus acredito?

Quem sou eu, diga lá!
Ainda bem que não sou bardo,
não canto e não grito.

Talvez se houvesse o rádio
(para o meu grito)
ou talvez se tudo parasse
para consertarmos tudo.
Mas a merda está feita.

Maldito palavreado
que não se contém
e salta da ponta de meus dedos.

Palavras, contenham-se,
senão acabo dizendo
o que acaba por me contradizer.

Pequeno

Posso dar quantos passos largos quiser
que jamais vou atravessar o atlântico
e ver o mundo com outros olhos.

Minha Aldeia

O rio da minha aldeia
não é mais bonito que o Tejo.
Não é nem o mais bonito rio
que corre na minha aldeia
mesmo sendo o único rio
da minha aldeia.
Ele é sujo e com espuma,
espuma de detergente,
espuma de ter gente.

As pessoas da minha aldeia
não se importam que eu seja um hipócrita
e diga coisas feias sobre elas.
Elas nem sabem do que digo.
Eu sei o que elas querem,
e sei também o que minha aldeia quer.
Elas querem ter para sempre
o pai rico de hoje, mas longe;
mas isto não acontece.
Elas querem todas as aparências,
suas casas mal arrumadas
e suas roupas bem comportadas,
suas preocupações de menos
e seus carros demais,
suas histórias mal contadas
e suas festas baratas.
Minha aldeia
quer algum tipo de fogo,
algum tipo de ódio,
algum tipo de repulsa
que eu não estou disposto a dar.
Muito do meu mundo foi este
e não sou eu quem quer
afogar os olhos sedentos
das pessoas da minha aldeia.
Agora confesso que já não sei mais
o que eu quero e tampouco
o que minha aldeia ou suas pessoas querem.
"O triste nisso tudo é que eu sei disso
eu vivo disto e além disso
eu quero sempre mais e mais!"
Cruel.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Todos Meus Erros

O que não sei
me faz odiar tudo que sei
pois é exatamente o que eu sei
que me faz grosseiro,
me faz capacho
e me dá autoridade
de crer-me certo.

O que não sei
me faz errar e me cair o mundo
e me faz descrer
em minha prepotência.

E aí acabo por aí
fraco e me desfazendo,
escapando e perdendo algo
(muito importante)
dentro de mim.

Eu odeio tudo que sei
pois sei
que jamais saberei tudo
e estarei sempre
cometendo erros
e sendo incompleto.

Mas que seria
da beleza da vida
se não errássemos?

Que venha o próximo erro.
Eu só não sei
se estarei preparado para ele!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Auto-retrato

Se ao menos eu tivesse a certeza
de que eu sei o que quero
só para realmente saber
se não são meus pés
que estão a me guiar
já acordaria todo dia
um pouco mais disposto.

Com certeza havia outras maneiras
que eu pudesse dizer tudo isto,
mas do jeito que eu disse
outro jamais poderia dizer.
Não por falta de criatividade,
mas por falta de mim.

Certo da minha imprecisão,
sei o quanto sou exato.
Sei que errei e um erro
jamais é perdoado por completo.
O que quero é confiança
pois sei que poucos
podem aprender mais com os erros
do que eu.
Sou simples de coração,
complexo de cabeça.

sábado, 17 de abril de 2010

Mundo Pesado

Não importa se o tempo tenha passado
ou se não havia tanta amizade.
É tudo tão mais importante...

Embriagado de tanta covardia,
tomou dos maiores remédios: a coragem.
Se matou.
E até mesmo quem estava longe
sentiu as ondas do terremoto.
Mesmo quem estava por fora
e que jamais poderia te ajudar,
e não tinha mesmo tanta intimidade,
mas que já sentou
na mesma mesa de bar,
já falou besteira
e pulou bêbado na piscina.
Foi só isso.

Só espero que a morte
não tenha vindo a ti
tão amarga quanto a vida
e que o deus que te acolha
seja o deus bom,
e não o deus mal
que todos insistem em criar.

Que seja o deus
que entenda suas razões,
por mais difícil que isto seja
e por mais anti-ateu que isto pareça:
que exista um deus sem nenhuma religião
que te acolha.

E para os que estão do lado de cá,
não há culpados, durmam em paz.
"A dor é minha,
a dor é de quem tem".
O mundo era muito mais pesado
e os ombros eram sensíveis.
Acontece. Infelizmente.
Seguiremos nossa vida.
Não há mais o que fazer.

Descanse em paz!

My Dream...

I don't know me
I don't know myself,
mas sou este homem que sou.
Sou as formas de se errar
quando se diz qualquer coisa;
sou o certo quando se escreve.

Gosto de estar sozinho,
olhar algum jantar à minha frente
e esquecer que amanhã
teremos tanto que vender
que jamais nos lembraremos
quanto realmente valemos.

Sei que valemos muito mais
do  que imaginamos,
mas não sei o quanto vale
uma imaginação.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Atenção tripulação

Atenção tripulação: jamais cliquem em "vizualizar meu perfil completo". A informação por si só é falsa e indecorosa. O perfil de um qualquer jamais é algum dia íntegro ou mesmo completo. Meu perfil é hoje o que jamais será amanhã!

Faroeste

Aqui propositadamente e ordenadamente
vêm as palavras dizer sobre os que fazem calar.
São eles:
Os que ensinam que o tempo é curto e que a morte é certa
mas que se deixam morrer ociosos e niilistas ao longo do dia;
os que ensinam o valor do dinheiro e do salário e do suor
mas que se esquecem do valor do sentimento alheio e das pessoas;
os que sabem da vida e viajaram o mundo todo e toda sua bicentena de países
mas que se recusam a saber e conhecer seu próprio país;
os que sabem de toda a teoria do caos, estatísticas e suas incertezas
mas não têm nenhum dado sobre a felicidade, absoluta ou relativa das pessoas.
os que crêem cegamente na vontade humana e na existência de oportunidades iguais
mas que se esquecem dos desertos, guerras, viadutos e fomes;
Os que acreditam em todos os livros, poesias e toda a ciência
e não se lembram que sentir é muito, muito mais que imaginar;
e finalmente, os doutores de todas as ciências, lugares e sentimentos
que se esquecem de se calar e não aborrecer as pessoas:
esta cidade é pequena demais para nós dois!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Aê, meu velho!

Em consideração a meu amigo
que anda por aí sem se inspirar,
à toa e compulsoriamente
(ou não)
de greve,
divido minha falta de inspiração.

Divido meu silêncio
pelas coisas que acontecem
e não viram poemas seus,
divido meus ouvidos
pois talvez se ouvirmos juntos
podemos ouvir sons diferentes,
que nem sons precisam ser.

Mas quero dividir mesmo
é minha experiência:
é mesmo uma merda
sentar, tentar, pensar,
escolher, mudar, tentar,
transpirar,
e não vir nada!

O que costuma funcionar:
um bom livro de poesias
(Drummond, Pessoa,
Quintana, Neruda, você sabe)
e uma boa fonte de álcool.
A gente se solta.
Diz coisas que não se lembra
que nem tem nexo.
Mas são boas!

Estou aqui esperando
que cesse seu afã
com um daqueles
dignos de molduras
banhadas a ouro
e perfumadas a diamante
que a gente só faz
de vez em quando!

Abraços, e não p(á)ara!

Tristes Coisas que Escrevo

Não escrevo coisas tristes
Porque sou triste.
Escrevo coisas tristes
Porque são belas.

Gosto de olhar este lado
Melancólico e que traz
Todo tipo de pensamento.

Me finjo apaixonado
Para ter o que dizer,
Ter o que contar,
Ter o que confidenciar,
Pois tenho de cumprir o meu papel
De desabafar
(mesmo que não tenha nada para isto).

Vejo você se deitar,
Vejo deitar o sino
Que me anuncia triste,
E volta me badalando feliz.

Sou o que quero ser,
Sinto o que quero sentir.

Minha moeda tem duas coroas
E é especial por isto.
Assim tenho a sorte que escolho ter.
Sou autônomo. Sou meu próprio cassino.
Tento a minha sorte,
Mas ganho, pois minha sorte sou eu.
(Eu só jogo comigo mesmo
E contra mim)!

Não vou me esquecer de apagar a luz,
Pois quero ver seus olhos fecharem
E seguir tranqüilo
Sabendo que posso muito bem escolher
O que sinto por você!

Regressão

Já fui a Europa e todos seus países,
já fui toda a raiva do The Who,
já fui um átomo e uma célula,
já fui Sol e estrelas.
Já fui até Galáxia.

Depois, inventei de ser homem.
Inventei que tinha algo para inventar.
Inventei fórmulas matemáticas
que ninguém precisa calcular.
Mas quis ser apenas homem.

Quando pude escolher,
baixei a guarda,
quis simplesmente andar
e ver onde podia chegar,
eu e minha sombra.

Já fui o Monte Everest
e as fossas Mariana,
fui toda a natureza,
fui cigarro e fui câncer.
Matei e morri.

Mas desde que inventei de ser homem
nunca mais desisti
porque jamais sei
onde é que chegarei.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sinto

Hoje sinto que sinto muito!
Sinto que sinto falta de você,
mas não é a falta que sinto
que me faz falta.
É a falta do que sinto
que me faz sentir que falta mais
algo do que simplesmente
o que consigo sentir!

Sinto, de verdade,
que não me sinto seguro,
então por que agora
tenho de acreditar
que cinto de segurança
pode me fazer sentir seguro?
Sinto, cinto, cinta,
qual a diferença
quando o importante mesmo
é sentir?

terça-feira, 30 de março de 2010

Memórias da Cidade

É como se eu tropeçasse
Em versos de camões
E caísse de boca em cima
Das poesias de Neruda.

É como se andando é que
Eu saberia a origem de meus pensamentos
E a finalidade a que eles me prestam.

Já sinto sob meus pés
No asfalto quente
Vômitos de palavras ancestrais
E imagens tão antigas
Quanto são as histórias que poderiam contar.

É como se debaixo da chuva
Houvesse um mar e houvesse reflexo
Da lua e de suas almas penadas,
Fantasmas e poetas que, embriagados,
Tentaram abraçá-lo e se afogaram.

E são destes e outros
Que se fazem as lendas
Que são esculpidas não em pedras,
Mas em memórias sedentas
Por mais e novas lendas,
Mesmo que a princípio descrêem-nas.

E se prendem as lendas,
Elas soltam-se.
Não há grilhões que possam machucá-las,
Pois são apenas palavras,
E nada mais.

E em cada canto desta cidade
Em que a luz vacila, as lâmpadas
Pedem socorro e as pessoas
Se afundam em medos,
Há destas e muitas outras lendas,
Vomitadas e esculpidas nas pedras,
Nos tijolos, no asfalto,
Nos ouvidos e nos uivos
De quem se faz ouvir.

Se não são estes os gritos da liberdade,
Que então sejam algum grito desesperado
De qualquer espécie.
Por que gosto do que tem raiva,
Gosto da música que explode,
Gosto das pessoas que se revoltam,
Gosto dos filmes que me tiram o sono,
Gosto de livros que me tragam.
Gosto de intensidade.
E isto é o que precisamos.
Pelo menos os que são como eu
(não posso dizer por todos),
Se é que alguém é como eu.

Enquanto a chuva não se acanha
Continuo a perceber à minha volta
Detalhes guardados bem debaixo da banalidade,
Vejo a poeira debaixo das solas das pessoas,
Vejo que todas escondem demais,
Escondem que escondem
E assim acabam por se esconder de si mesmas.

Vejo que não há cidade grande.
Vejo, em verdade, que não há cidade.
Só o que vejo são sombras,
São formas que não fazem sentido,
São esconderijos,
Pois é o medo que assola
E que nos governa nestes dias.

Enquanto Gotham é salva pela fantasia
Nos perdemos na fantasia
De que não há nada,
Que nada está errado.
Somos o que somos, e somos grandes.
Mas não é o que basta.
Nossa máscara quer nos fazer mocinhos
Enquanto guardamos os bandidos pequenos
Que somos.

E nem a música mais é capaz de nos salvar.
Nem os dois pares de ás na mão,
Nem o limite de nossa conta bancária,
Nem os empréstimos a baixos juros,
Nem os bons e justos,
Nem a simplicidade,
Nem as colheitadeiras,
nem as luzes da cidade,
nem as armas de fogo,
nem os eixos de coordenadas e a matemática,
nem copos e mais copos de café,
nem mesmo a chuva ácida.

E Camões e Neruda,
Que cantavam amor,
Essa noite de chuva é sua,
E este brinde é a vocês.
Guardiões da última esperança,
Tomara que a última palavra
Sejam as palavras tuas!

domingo, 28 de março de 2010

Mancha

Só sei que quando vem um,
normalmente vem acompanhado.
Acho que andam em bandos
os meus versos,
mesmo quando eles saem em prosa,
assim como agora!

E quem diria que eu agora
teria algo para escrever
sendo que nem mesmo
tinha pensado em algo.
Veio uma frase, e manchou
o silêncio branco do papel
eletrônico.

Ah, que saudade
de meus lápis e borrachas!
Eu jamais teria medo de errar
se tudo fosse naqueles conformes:
a borracha apaga,
mas sempre deixa uma marca
que nos faz lembrar
do que erramos.
É o preço a pagar
pela Era Digital!

A Medida das Coisas

Não há nada tão grande
que não possa ser dito
e também não há nada tão pequeno
que não possa ser medido.

Não há nada tão imperceptível
que se passe por banal.
Não há nada tão invisível
quanto poeira nos olhos.

Não há tantas vozes
que possa calar o mundo
e não há tanto silêncio
que nos faça gritar com tanta paixão.


Não há tantas letras
para que se forme novas palavras.
Não há tantos sentidos
para que inventemos novas palavras.

Não há intervalos suficientes
para que se esqueça que também nos aproximamos.
E quem dirá que são muitas as coisas
quando nem bem sabemos o quanto as coisas são?

sexta-feira, 26 de março de 2010

Poeta Romântico

Na verdade, largar a pompa de poeta romântico é para os fracos. Acontece que muitas vezes, parecemos fracos, somos fracos. Mas o que somos uma vez não somos sempre - ainda bem! Somos, sim, um misto de todos os momentos que vivemos e sensações que nos prescrevemos como se fossem medicamentos necessários à manutenção de nossa saúde. E hoje venho me sentindo forte, não sei porquê. Vou manter a pompa de poeta romântico e principalmente, ela me saltará a todo momento que eu fraquejar. Sei que vou. Pois se ela não me saltar, então não terei o que fazer senão me entregar, assim, de bandeja.
Sei que dói e que vou sentir, e se é inevitável, por quê tenho de me esforçar em evitar? É esforço inútil. Deixa rolar, e se não me vier nenhuma palavra romântica, é que emudeci. E isso não quero deixar acontecer. Isso é evitável. Basta que eu continue vivo e sentindo todas as dores que acabam por me fazer sentir bem. Em parte, até digo que gosto de sofrer, me faz sentir mais humano e mais forte. É isso. Sou um romântico irreparável, irreversivelmente viverei de me desfazer e me destrinchar, suar tudo que não cabe dentro desta pobre pele que se renova todos os das para manter intacto o que tem dentro!

terça-feira, 16 de março de 2010

Estou Sentindo Falta

Não sei bem se foi sentimento ou solidão
- eu mesmo nunca soube qual a diferença -
mas sei que me pegou mais que de surpresa
e hoje eu me senti muito vazio.

Não sei bem se necessito apaixonar-me
ou se necessito de companhia de amigos,
talvez deva deixar essa pompa de poeta romântico
ou se devo adentrar-me em arcaísmos de vez.

Não sei do que estou sentindo falta,
e isto eu digo com toda sinceridade.
Mas preciso de algo mais, preciso ser mais.
Preciso andar por aí a me descobrir.

Quero saber o que me comove hoje como o diabo
mesmo sem conhaque e sem luar,
mesmo talvez sem sentido de existir,
apenas sendo mesmo e talvez para sempre, incompleto.

Os poucos que me entendem sabem
o porquê de tanta fala e platitudes,
só queria me conhecer sem ter de ficar me redescobrindo
toda vez que quero me afastar de sei lá o quê.

No fundo, é só isso: não sei o que acontece.
Mas acontece, é óbvio, é sentido, inevitável.
Indubitável, também se encaixa bem.
Acho que quando me apaixonar tudo acabará!

Todas as Etapas

Antes de mais nada, é preciso chorar, todo sujo e impotente (viver, apenas). Depois é preciso aprender a abrir os olhos e observar as coisas, completamente alheio à comunicações e às informações (sentir, apenas). E então é que se pode balbuciar sons e tons incompreendíveis aos muitos ouvintes (explodir, apenas). Depois disto, é hora de se sustentar, é hora equilibrar-se - ou então teremos sérios problemas (equilibrar-se, apenas).
Muito tempo depois podemos começar a perceber que não percebíamos (aprender, apenas). Juntamente, podemos então passar a compartilharmos nossas horas e nossas peculiaridades (conviver, apenas). E assim tudo vai passando, até o momento que devemos nos encher de responsabilidades a nos afogar em pleno trânsito (sobreviver, apenas). Então chega a hora que tanto esperávamos, em que começamos a desfrutar de responsabilidades outrora tão agonizantes (ganhar e gastar, por quê não?).
Para, no fim, nos dispormos tranquilamente em algum lugar onde sabemos que não quererão nos encontrar - por ser inconveniente, ou pouco acessível - e aproveitarmos dos minutos fluidos que deixávamos atravancar (relaxar, apenas). E assim até o fim.

Ainda quero descobrir se falo de um artista ou se falo da vida!

Sentir

Se eu não sei como ver
como posso me comover?

Fumo

O cinema me ensinou,
e a TV confirmou,
e os livros reiteraram:
fumam os introspectivos.

Como me finjo de introspectivo
também tenho de fingir que fumo.

É Como me Comovo

Céu, oh céu!
Por que guardaste de mim
todas tuas maravilhas
e quedaste sobre mim
este teu vinho?

Se não fores teu o vinho
então tuas são as uvas,
tão negras como os olhos
de todas as mulheres que amo,
que nele se fermentam.
Se nem vinho e nem uvas forem teus,
então de nada serves
e quero que vais dormir.

Hei de tragar-te, ainda,
para abaixo de meu teto
(eu sei que cabes lá).
Assim posso errar pela minha morada
sabendo-te ali, perto de mim.

Ficarei ali horas a contemplar-te
e a única luz
contra o brilho de tuas
pequenas pérolas suspensas
será o da ponta acesa
de meu cigarro;
e todo o som que nos envolverá
será o de nossas reações
(químicas ou não).

Observar-te-ei por horas
e até mesmo dias
até que nos fundiremos.
Aí sim, darei de presente à Terra
uvas das mais negras
e vinhos dos mais secos!

terça-feira, 9 de março de 2010

Por Dentro

É feio e triste ser como eu sou.
Embora poucos saibam como realmente sou.
Não sei de verdade como sou.
Se sou pedra, se sou fogo ou água.
Mas nunca terra.
Nunca raiz.

O que sei de mim mesmo
é o que olho no espelho
durante alguns segundos
ainda mal-acordado,
olhos vermelhos e olheiras pretas,
cabelos desarrumados,
dentes amarelados.
Por dentro, bah.
Basta que eu me veja por fora.

Peço:
amigos, não sofram minhas dores.

Se assim fosse, não temeria um segundo
senti-las.
Suaria dor, transpiraria sentimento,
choraria e gritaria calma.
Descansaria.

Este sou eu,
buscando morangos
que me traziam à tona
coisas tão passadas e remotas.
Este sou eu que jamais quero reencontrar.
O que tenho por dentro
é bonito, mas se veste
tão esdruxulamente
dentro de uma máscara.

Difícil mesmo é ver meus olhos!

domingo, 7 de março de 2010

Sombras Passadas

Já não sou tão novo para me apaixonar,
tampouco sou tão velho
para me apaixonar novamente.
Não sei o que minha idade me permite,
não sei se é liberdade que procuro
ou se procuro mesmo é fugir.

Não, ainda não estou pronto.
Tenho outros objetivos e propósitos,
e mesmo que me procures,
não estarei em casa.
E minha casa fica cada vez mais longe.

Já fugi por você e talvez por outras.
Já fugi e voltei, mas agora
quero distância.
Outro rumo, talvez.
Antes nada disso tivesse sido inventado.
Antes fosse só viver
e a solidão fosse um bem precioso.

Antes não precisássemos um do outro
e antes não desejássemos um ao outro.
Onde tudo isto vai parar?
Não é a época, não é a idade,
não é o tempo.
Que pena que tudo tenha se acertado,
menos o tempo amigo.
Deu-me oportunidade de viver
a vida que jamais poderia.
Agora, já há quase um ano
Sou eu quem termina tudo.
Ponto final em meus sentimentos,
ah, se eu pudesse fazê-lo.

"Ah, se eu pudesse.
Mas não posso, não devo fazê-lo.
Isso não acontece."
Esta é mais uma
que eu tiro da Cartola!
Ainda bem que o corvo
sobre os meus umbrais
voou, atormenta outro,
provavelmente.
É só isto e nada mais!

sábado, 6 de março de 2010

Arte em Fita

Isso é uma das coisas mais originais que eu já vi! Vou postar o link aqui do Flickr e recomendo que entrem!

http://www.flickr.com/photos/iri5/page2/

Depois vejo se escolho algumas imagens para postar aqui!

Abraços a todos!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Ninguém

Eu sou eu e o mundo é meu
e é de ninguém
Sou nada mais que ninguém
dono do mundo
do mundo de ninguém.

Ninguém é que é dono de nenhum mundo
é rei do que não é
e não tem responsabilidade de ser.
Ninguém é tanta gente
que também pode ser
eu ou você.

Ninguém tem tudo
e por isso é tão importante.
Ninguém tem tanto dinheiro,
e por isso é rico.

Ninguém me disse a frase
que começou estes versos.
As estrofes já estão construídas
antes mesmo que ninguém as fizesse.
Como eu queria ser ninguém!

Ebriedade

Gosto de falar da embriaguez
e gosto de falar de dores sofridas:
amores, sonhos, desejos, poemas.
Sou poeta simples que não sabe falar.
Tudo que escrevo
é tudo o que sinto
ou tudo que queria sentir.
Sinto pouco e tenho imaginação breve.

Embriaguez é mundo paralelo.
As dores é que me fazem acordar.
Escrever é consequência de existir.
Embriaguez é dor que faz escrever.
Dor é embriaguez que me faz poeta.

Hoje

Hoje o que sinto
não é suficiente para extravasar,
explodir.
Tudo bem, não explode,
mas implode
e os estragos são semelhantes.

Hoje sou dor mas não sei de onde.
Não sei de quê.
Não é dissimulação,
é uma música triste tocando,
fundo, fundo.
Profundo.

É uma letra triste
e incompreensível.
É dia em que a cerveja é dolorida.
Queima, mas é gostosa.
Não é nada,
não é frescura,
não é sério.
Mas é forte!

O Caminho

Vou assim seguindo pelos estilhaços
de meus longos ledos enganos.
Pisando e cortando o pé,
novamente e novamente,
mesmo sabendo da aridez extremamente sóbria
destes velhos caminhos que levam a velhos lugares!

Sim, sou mais um homem
que não se cansou de andar e andar
e que nunca viu onde se vai chegar:
se é perto ou longe, o que importa?
Nem bem sei se quero mesmo chegar!

Até mesmo os tocos de cigarro na sarjeta
me são conhecidos.
Até vi um dos tempos em que fumava.
Era meu, com certeza.
Peguei.
Só tentava lembrar qual era a sensação.
Lembro que não gostava, mas fumava.
Aquilo já não era mais nada para mim.

Era peso leve hoje,
ou eu fiquei mais forte!
Preciso parar e descansar,
preciso de sombra e água fresca
já que não sei por quanto ainda andarei.
Dia e noite, tenho de caminhar.

quinta-feira, 4 de março de 2010

O Mundo

Se o mundo soubesse
o quanto mundo eu sou
jamais cairia sobre mim
o peso de ser todo o mundo!

E isto vale para qualquer pessoa.
Todo mundo é mundo!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Windows Live Messenger

Time won't save our souls.
And then?
I know my time has passed,
I'm not so young, I'm not so fast.

Let's live it up,
back from the future
full of nothing,
take a walk on the wild side;
people are strange.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Meu Desejo

Não quero do teu sexo sujo,
tampouco quero do teu sincero amor.
Nem mesmo o toque macio de teus lábios quero.
E também não quero as tuas carícias;
suas mãos levemente encostadas em minha pele
acariciando meu corpo: não quero.

Quero olhar para sempre teus olhos
que são cor de não-sei-quê,
provavelmente nunca antes vista.
É em teus olhos que sinto meu orgasmo,
que sinto refletido o meu amor por ti,
e tremo diante da idéia de beijar-te
pois sei que meus olhos fecharão
e não mais poderei contemplar os teus.
Não quero teu beijo.
Olhos que não sei se são mares ou se são céus.
Tragam devastadoramente como os mares;
nos levam a vasculhar o infinito como os céus.
E ainda guardam dentro de si infinitas estrelas
que trazem o brilho de teus olhos tão tenros
que inspirou-me a ponto de vazarem-me
pelos meus olhos as palavras que aqui digo.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

5:00

Acho que é hora de novo dia.
Por que a hora zero é hora que não há,
é hora que nada diz e não quero saber dela.
Ela não é nada e o dia não começa nela.

Se há o mundo dos sonhos
é de certo que ele não acontece agora,
que, sei, já é demasiado tarde.
Agora adormeço apenas ao breu
que me cobre todas as imaginações.

A noite pareceu-me mais atrativa
que o sono que carrega a satisfação.
A noite é escura; o sono é escuridão.
Oh, por Deus, traga-me os sonhos
mesmo com o Sol a pino,
que é quando com certeza estarei a dormir.

Os sonos seriam por demais perca de tempo
não fossem os sonhos que nos é permitido sonhar.

Até Onde a Poesia Alcança

Da cerveja que embriaga-me, nada tenho.
Do cigarro que me polui, deixei-o apagado.
Dos sentimentos que tive, esvaziei-os.
Sou só eu agora, existindo e nada mais.
Embriagado e de certa forma poluído.

Peço emprestado  os poemas de Drummond,
e a sagacidade daquela Pessoa - que não possuo.
O que sou? Acabo por não ser nada,
se um dia uns como estes foram. Sou nada.

Posso ouvir na escuridão da luz apagada
o queimar das cinzas de onde quer que venham (meu cigarro)
o queimar de minhas células, quaisquer sejam as causas (meu álcool).

Os meus livros de poesia (que leio) são dicionários
que me dizem corretamente como escrever.
Mas meus mestres por vezes hesitavam.
Eu não mais hesito (pelo menos por enquanto)
pois se já não sou nada, que mais poderia ser?
Um livro fechado, uma capa feia, no máximo.

Nada mais poderei ser, pois não quero ser.
E mesmo que quisesse não sofri bastante para ser.
Sou apenas deslumbrado, um ninguém que gosta
do que se poderia ser; das vidas que levam os fortes.

O que eu quero dizer já está claro
em notas já compostas ou em livros já publicados,
jamais serei novidade, e pouco me importa.
Quero ser poeta, não importa a magnitude que isto tenha.

Poema Curto

Vou ter que acender uma luz
para ler Pessoa e Drummond;
Afinal, nem só de cerveja e filmes
se vive um homem.

A Arte de Libertar-se

Ultimamente publico tudo que escrevo. Foda-se se não é bom. Foda-se se eu não gostei. Quem sou eu para reprimir-me? Tenho de concordar com Voltaire: "posso não concordar com uma palavra que dizes, mas defenderei até a morte o direito que tens de dizê-las". Mas nunca pensei que devesse aplicá-las à minha pessoa. Não quero jamais saber de publicidade. Não quero jamais saber quem gosta ou não do que escrevo. Não quero jamais ser lembrado pelo que escrevo, senão construirão uma imagem totalmente deturpada de mim, achando que sou exatamente o que escrevo.
Nada mais quero com tudo isto senão manter um registro muito mais do que sentimental sobre como tem sido minha vida enquanto escrevo. Por que o homem que escreve não é o mesmo homem que vive, e isto já disse em algum lugar perdido no espaço-tempo. Ai, se me fosse garantido que todas as palavras me ficassem eternamente na memória, jamais as escreveria pois seu propósito nasceria e morreria ali, dentro de minha biologia, dentro de meu encéfalo. Massa cinzenta, podias dar-me este prazer, além de tantos outros que já me deste.
Aos que me lêem, não tem nada a ver com preconceito contra vós ou algo parecido. É só que eu sou eu. Nada mais. Nada mais vejo de interessante em mim que pudesse ser compartilhado. Sou uma voz que diz coisas que são óbvias e que está em vossos corações (pelo menos o que é realmente relevante). Basta que se proponham a descrevê-las (as coisas óbvias) com palavras. É um exercício árduo, mas nada mais é do que um pouco de treinamento. Faz muito bem, desde que não tornem vós escravos do que dizem. E é tudo isto que eu quis evitar aqui. Finalmente, estou livre.

Às Artes (duas delas, pelo menos!)

A mim, o mundo concede os sentidos.
A pele: calor, frio, contato e não-contato.
Os olhos: vejo, apenas, e deixo de ver.
Os ouvidos: ouço, não-ouço, e zumbidos;
O nariz: cheira, não-cheira, nauseabunda-me.
A boca: mastiga, engole, traga, rejeita.

Por quê não burguês e não playboy?
Porque me importo com cinema,
me importo com o teatro
e me julgo um pouco intelectual.
E crítico, já que crítico sou
se nada disso lhe preocupa.

A mim, foi-me concedida a sensibilidade.
De meu ponto de vista,
a falta é o único excesso que os outros têm.
Não é bem assim, já sei de antemão.
Sou moleque mimado,
e acho que por algum motivo
o que não tenho (mas que pareço ter)
é muito mais que o que os outros têm
(não me importam se parecem
ou se simplesmente têm)!

Música clássica.
Dvorak, Mozart, Beethoven,
Schubert, Schumann, Bach,
Vivaldi, Chopin, Brahms,
(e muitos outros),
trato-os como se soubesse
o que disseram em suas alvas notas.

Cinema.
Fellinni, Godard, Truffaut,
Antonioni, De Sica, Murnau,
Herzog, Capra, Hitchcock, Chaplin,
(e muitos outros),
perdoem-me por não saber
qual o propósito de cada detalhe.
Sou apenas humano.
Não sou imortal.
Como vocês.
Espero guardar-me
na sensatez e humildade
de ser apenas mais um
sem qualquer sonho
megalomaníoco
para alguém
que sempre será
nada mais do que corja!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

À minha humilde residência, e aos seus humildes (ex-) moradores!

Às vezes a gente mora com uma pessoa sem saber como será. Vem a faculdade e temos que nos sujeitar a morar com quem nunca vimos. E justo nós, que sempre fomos criados ao lado de primos, irmãos e pais! Mas chegamos a este mundo, totalmente novo, com gente diferente. Não esperamos fazer bons amigos. E de repente, estamos lá, dividindo nosso cotidiano, explicando quem olhamos na última festa! Muito aos poucos, começamos a dizer não apenas quem olhamos, mas o que fizemos e quem "pegamos" na última festa! E sem perceber, essas pessoas fazem parte de tudo que nos é importante! Elas acabam por saber como fomos nas provas, como nos lidamos com a "gatinha" que olhávamos na última festa e como nos portávamos diante de nossos amigos do curso. O engraçado é que nos tornamos cúmplices e compartilhamos de boa fé com isto tudo. E acho agradável! Fiz alguns muito bons amigos fora do meu curso, fora das salas de aulas, fora de todo o circuito convencional, apenas morando com tais pessoas. Se soubessem o quanto sou grato a elas, se soubessem apenas que fazem parte de mim, ainda que compartilhem com tanta gente - amigos antigos, amigos novos, família e outros novos colegas de morada - o quanto fazem parte de mim, jamais se esqueceriam que estou aqui para o que der e vier! Ainda devo escrever sobre a "Saudosa Maloca" - e podem esperar que será algo de alto nível - e também escreverei sobre minhas experiências posteriores!
Sinto saudade de vocês, que experimentaram todos os meus defeitos, todas as minhas dificuldades, tudo o mais que se pode experimentar sendo que nos separavam apenas uma beliche ou uma parede de distância! Mas, eternamente, uma cerveja acabava com todas as distâncias. A sala continha todos os segredos, a TV (que nunca pegou) ficava ali em silêncio, apenas esperando a nossa hora de dormir!
Abraços, moradores e ex-moradores da Saudosa Maloca!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Resumo

Em resumo,
viverei minha vida.
Se o mundo acabará,
não me importo.
Quero ser aquele
que nunca acreditou
e que assim viveu
como se o mundo
não se acabasse,
como se nada se acabasse.

Depois do tempo
que gastei comigo mesmo,
gastei também outro tempo
com todos que me importo.
E é assim que me mantive feliz.

Apenas fui onde me propus,
fiz o que quis
(embora pudesse ter querido mais),
e pisei em chão firme.
Quando por vezes voei
me mantive desperto
sempre calculando
onde estava o chão.

E este é,
provavelmente,
o resumo de minha vida.
Talvez uma leitura do futuro.
Todos temos os futuros
à palma da mão,
mas jamais saberemos
decifrá-los.
E, por Deus,
que eu nunca saiba
decifrar meu futuro.
Mesmo sendo calculadamente guiado,
quero acreditar-me um barco à deriva.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Leiam, caros leitores:

Uma nova manhã:
essa
é sempe  uma batalha perdida;
já o mundo não quer mais.
Saber disto,
e tudo o que sobrou
são idéias e críticas,
atuações severas e uma vontade
de entrar para a história.

Mas história
se escreve
com "e" e sem "h",
ninguém sente pena.
De maneira que jamais
quer ser reescrita.

Jack é sincero,
eu sou apenas um homem.
Que, quando da próxima vez
eu errar,
que seja apenas um erro,
e nada mais!
Amo-vos a todos,
até algum dia no futuro,
até mais!

Novo Samba

Proponho
um novo samba
a quem poderia ser bacharel,
a todos que são menos
mas que deveriam ser muito,
MUITO,
mais!

E sempre haverá alguns
que merecem mais
do que simplesmente
ouvir tal música.
O samba é uma forma
de chorar por dentro,
é uma forma de oração;
para fazer um samba com beleza
é preciso um bocado de tristeza,
senão não se faz um samba não.

Pós-guerra:

É permitido sorrir
em algum ponto da história
onde os homens ainda se sentem
temerários em dever.

É permitido a vida
em alguns lugares onde a vida
esqueceu-se de acontecer.
Nesses lugares é onde embriaga-se,
onde nos fazemos acreditar
em algum momento
além da devoção total
trabalhística
de nossos membros
que fazem parte de qualquer área -
desde que lhe paguem bem.

Vós!

Engano a todos,
mais do que imaginam.
Rio disto tudo que escrevo
como quem ri de uma anedota
que nos esforçamos em contar!

São muito mais inteligentes que eu
por quê eu devo escrever
e não vocês?
Meu riso é nada mais
que uma mostra
de minha mediocridade.

Escrevam, por favor,
todos os que me lêem.
Pois sou nada,
e vós,
sois tudo!

Frase nº1

A vida é triste,
mas sem a vida não viveríamos!

Dear Mr. John

Eu queria um óculos
de lentes redondas.
Eu queria mesmo
é ser John Lennon.

Eu queria ser John Lennon
antes dos problemas.
Mas, como tudo no mundo,
acaba em problemas,
eu jamais poderia ser
John Lennon.

E cá estou eu,
falando com o espelho,
fazendo-me parecer
extremamente idiota,
mais idiota do que pareço.

Será que deveria eu
escrever sobre isto?
Sem nem pensar duas vezes...

Poema Inacabado

Acordo com a cara lavada
de todos os sonhos (eróticos)
da noite passada,
passada em branco,
passada a limpo,
já que tudo passa.

Tudo clinicamente passado
a limpo,
para mostrar o que eu quero,
e apenas isso.

O que eu sinto,
deixo guardado.
Ninguém merece tal sentimento,
tal tristeza, tal alegria,
ninguém compartilha.

Meu rosto encarna a tristeza
de simplesmente existir.
Sinto em cada projeção
de meus membros naturalmente
arquitetados a dor do passar dos dias;
sinto simplesmente que cada novo dia
são mais problemas insalubres,
mais teoremas sem solução,
áporos (obrigado, Drummond!).

Vamos, dá-me do teu álcool,
dá-me do teu asco.
Vejo-te aí, contida,
vejo-te esperando entranhar-se
e prejudicar meus sentimentos,
deturpar-me a visão, e peço-te:
dá-me mais. Mais.
Dá-me o nojo dessa asquerosidade
que nos envolve.

Sei que se amanhã
eu acordar arrependido
não foi hoje que errei.
Foi ontem e sempre,
foi querendo dizer o que nunca senti;
foi por falsidade.
Sou o que nunca quis ser,
e pior crime não poderia cometer:
traí-me.

Não sei os meus limites
e afundei-me a procurá-los.
Agora sei:
quando deu-me a inspiração,
também me prendeste.
Escrever não é só inspiração.
Também tornamo-nos escravos
de nossos sentimentos,
tornamo-nos alvo fácil da tristeza - afinal
que mais poderíamos mostrar
senão a tristeza?

Eu preciso descobrir
o que estou sentindo
para continuar escrevendo.
Porque toda mudança
sempre nos deixa a dúvida
de estar acertando ou não,
ou simplesmente estar aceitando.

Um dia,
acabo este poema,
o final - feliz ou infeliz -
não sou eu quem sabe.
Se existe um Deus, ele sabe.
Se existe um Óraculo,
ele tem uma pista - informações vagas.
Se não existe nada, ninguém sabe.
Quando descobrir, volto a informar-lhes!
O prazer é todo meu!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ensina-me a Viver

Ensina-me a não fazer.
Por quê fazer já vem como lição de casa,
como obrigação.
Ensina-me a não aprender,
pois tenho de o fazê-lo
para livrar-me de pré-conceitos.

Ensina-me a não comentar,
ensina-me a não dizer
e não falar,
para não ter perigo de errar.

Ensina-me a fazer
agradecimentos relogiosos
(não religiosos,
tampouco elogiosos),
precisos em seus dizeres,
em seu perfeito tempo.

Ensina-me a não ler as horas,
a não perceber
se é dia ou se é noite.

Ensina-me a não andar,
para não ter que vagar com rumo.

Ensina-me a desacreditar
nas bússolas
(ou nos modernos GPS's);
alguém disse que eu quero me nortear?

Ensina-me a não crer
nas entrelinhas
e seus significados obscuros.
Os significados óbvios
são os que prevalecem.

Ensina-me a não viver
pois creio na profunda
e fundamental acepção da expressão
"somos todos diferentes"!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Alea Jacta Est

Alea jacta est. Cada um por si. O processo é irreversível e inevitável. Nossos bens de consumo nos consumiram e se tornaram poderosos demais, cotidianos demais. Agora não tem volta, e posso dizer uma frase que sempre quis pela beleza de sua pronunciação: é augusta a angústia. No fundo, gosto de arcaísmos. 2012 é hoje e o Haiti há de ser aqui, brevemente. Estaremos salvos pois aqui não há terremotos, nem maremotos, nem vulcões, nem furacões e isso nos mantém vivos. Mas temos nossas corruptelas e nossas corrupções. Ruiremos por dentro e nem o asco crescente será suficiente para calar a fera que acordamos. O mundo muda e mudará sempre, mas agora teremos uma mudança mais radical. Mais radical pois temos consciência. Temos ciência, mas parece que de pouco serve. Alea jacta est. Aliás, gostaria de retirar uma frase do início: "cada um por si". Isso é o que já temos desde os primórdios. Nunca pretendi ser politizado, mas menos ainda, nunca pretendi me conter quando palavras me viessem à tona. Enquanto digo tudo isso, tenho a luz acesa aqui do quarto e um computador ligado. E que se gastou muita energia para produzir. Neste ponto, não há um só ser-humano que não seja hipócrita. E ainda estou me graduando em engenharia para gastar mais. Não quero ser politizado, já disse, mas às vezes é inevitável fazer perguntas. Perguntas. O que queremos? Qual nossa real necessidade? Mas a pergunta que não me deixa em paz é: até onde vamos?

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Guerra dos Sexos

Poema não é poesia.
Poema pode ser poeminha
e pode ser poemão.
E a poesia?
É só poesia.

Por que poema é masculino,
e precisa se afirmar.
Poesia é feminino,
grande por si só,
tão grande
que só precisa passar.

Poema é epopéia,
poesia é inspiração,
é elevação das idéias.

Jamais confunda:
poema não é poesia.

Poeminha

Deu vontade de escrever
de escrever um poeminha
bem simples e sem rima,
um poeminha que não diz
nada de mais,
mas que fala das plantas
e do mar,
que fala das ondas,
fala da relva,
fala dos animais,
que toda criança gosta de animais.
Este poeminha
ninguém pode ler
por que ninguém pode saber
que eu escrevo poeminhas.
Este poeminha é tão bobinho,
não tem romance,
não tem beijo de novela
(daqueles na boca que fica virando o rosto),
não tem nada de mais.
Mas depois vou escrever um poeminha
para a Laurinha,
tão bonitinha,
que nunca me nota.
Ela senta na terceira cadeira,
na fileira do meio,
é tão bonitinha...
Este poeminha vai ficar guardado
aqui nesta gavetinha.
Quando um dia quem sabe
eu for mudar de casa
vou achar ele guardado
no fundo dela, bem dobradinho
porque não queria que ninguém lesse,
vou ler e vou chorar
e vou ver que o que eu vou escrever
é muito diferente do o que eu escrevi aqui
e mesmo não tendo dizendo tanta coisa assim
vou me emocionar muito
por que este poeminha
não está mais tão pequenininho assim,
mas tenho por ele tanto apreço
que não cabe na margem do papel
que minha professora disse
que era importante respeitar,
mas não sei por quê.
E quando eu chorar
lendo este poeminha
não vai ser de tristeza,
só se cair uma lágrima
e manchar minha letrinha.
Vai ser um choro de alegria
por que vou sentir
que este poeminha ainda tem
tudo que eu sempre costumei sentir
e tudo que eu sempre me lembrei
que gostava,
do jeito que eu lembro
que gosto de chocolate,
que gosto de canudinho de doce de leite
e que gosto de lamber os dedos
depois de comer salgadinhos,
e também que gosto de comer salgadinhos.
Este poeminha
sempre vai ser meu xodó.
Vai ser meu guardião
como o anjo-da-guarda.

A Passagem

Sentia-se velho e estava atado a todo tipo de amarras: seu corpo estava sufocado pelos tubos, sua mente pela morfina e sua alma pelo medo do que se seguiria àquele dia - provavelmente, sentia, seu último. Ouvia o lento barulho do medidor de batimentos cardíacos ao seu lado soltando sons infernizadoramente agudos para um velho, mas tinha ouvidos catarados e quase não ouvia nada - o que não deixava de ser um murmurinho incômodo. Não entendia nada do que estava acontecendo, na verdade. Seu cérebro tinha plena consciência da doença, sabia quais eram as causas e o que danificava seu corpo, tantas vezes os médicos lhe explicaram, mas a mensagem se perdia em algum caminho e os leucócitos agiam de forma totalmente irracional. Já tinha tido uma parada cardíaca e até tinha morrido, mas ressucitaram-no. Lembrou-se da morte. Na verdade, só lembrou que tinha morrido, por que da morte em si, nunca poderia se lembrar. Essa era a lei, esse era o combinado. Mas isso o dava ainda mais medo. Se não se lembraria depois, era como se viver já fosse a própria morte e morrer seria morrer para sempre, mesmo que se voltasse depois. Pensou naquelas malditas bactérias manifestando-se, seres de milionésimos de milímetros fazendo chorar de dor um homem de um e oitenta, forte outrora como um touro. Ouviu os médicos chegarem, estudarem o caso e conversarem, mas as conversas não faziam muito sentido, nomes estranhos e uma dose de morfina ainda recente circulando seus vasos podem distorcer muitas palavras. Ficou com preguiça de ouvir tudo aquilo. Ficou com preguiça de ver as coisas como elas não são. Em outros tempos, daria tudo para ver o mundo sob a psicodélica ótica da morfina, mas agora parecia que entupia-se de lixo. E lixo é o que jamais deveria ser, é o que jamais seria.
Parou. Parou de bater, só havia o barulho constante do medidor de batimentos, nada de pulsos, de sons intermintentes. Entreolharam-se os médicos, estupefatos, não entendendo nada. Estudavam aquele caso como uma recuperação estupenda da doença em questão, nunca antes vista, e de repente, sua cobaia falece sem nem ao menos dar explicações. Um minuto antes, nosso bom velho tinha a mente longe. Viu que a vida não passava como um filme. Na verdade, só passou uma cena em sua cabeça: uma imagem falsa do homem pisando a lua, totalmente criada por sua mente. Nada mais. Depois se lembrou de como achava que as pessoas morriam quando era criança: levantando as mãos e rodopiando e se balançando até caírem no chão mortas. Achou que seria divertido. Levantou as mãos, se contorceu todo e desistiu de viver. Parou, parou de bater. Jogou fora o resto de seu sofrimento apenas desisitindo. Finalmente seu corpo entendeu os sinais conscientes de seu cérebro.