sábado, 19 de dezembro de 2009

Noturno

Eu me lembro de quando ouvi
pela primeira vez
que se viravam noites.
Eu, com meus sete ou oito anos,
me vangloriando
de ter ido dormir às quatro.

Hoje, acho as noites tão curtas...
não por causa das festas.
Também, mas também é muito mais.
Adoro esse silêncio da noite,
adoro aproveitar a vontade alheia
de dormir, e me acordar desse desejo.

Eu prometo um dia aprender
a ser um bom cidadão
e começar a dormir de noite
e descobrir, então, para que serve o dia.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Arte é ilusão, pois eu não ajo

Fico ou Parto - com constante alegria
Meus pensamentos, embora céticos, são sagrados
Santa prece para o conhecimento ou puro fato.

Então enceno a esperança de que posso criar
Um mundo vivo em torno de meus olhos mortais
Um triste paraíso é o que imito
E anjos caídos cujas asas perdidas são suspiros.

Neste estado não mundano em que me movimento
Minha Fé e Esperança são diabólica moeda corrente.
Em mundos falsificados, cunho pequenos donativos
Em torno de mim, e troco minha alma por amor.


Allen Ginsberg

Subversão

E é daquele sorriso fatal
que se faz o pranto.
É daquele beijo
que se fez toda abstinência.

Aquela voz macia
é a que ensurdece,
é daquele rosto
que se faz ternura,
enfim.

Pode então este sorriso
doer assim como um tiro
ou ainda como mil lanças
invadindo carne, osso e pele?

Tanto quanto pode aquele beijo
ser um selo de uma carta em branco
sem nenhum destinatário,
sem nenhuma mensagem?

Tudo que acabamos por fazer parte
é de sentimentos
tão breves quanto os significados
que eles podem carregar.

De nada adianta
achar o grande amor
se ele se nutre apenas
do mundo e se perde nas almas,
pois tem algo mais.

Esse é o algo mais que sofre,
que geme, que treme, que ensurdece,
que padece, que se enrijece,
que amolesse.

Há que se valorizar as coisas
tanto quanto elas valem.
E o sentimento é tudo que temos.
São as armas que podemos usar,
e não há trapaças, tampouco reviravoltas.

É só sentimento, e nada mais.
Que me venham todas as dores,
pois sei que é assim que chegarão a mim
todas as oportunidades
de sentir
todo sentimento
que penso existir.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Transpiração

A arte de dizer
é composta de palavras,
de experiência,
de inspiração,
de tentativas
e de ouvidos.

Não tenho nem metade
dos pré-requisitos.
Foco bastante
na tentativa e erro.

Férias de Verão

Pareço puto,
mas na verdade,
sempre quis dizer tudo isto.

Mal posso esperar o Reveillon,
mas ultimamente
tenho me sentido muito revoltado,
mas nada que um pouco de festa,
umas mulheres
e um pouco de álcool não resolva.

Na verdade,
acho que sou um rebelde sem causa
arranjando em mim mesmo
motivos para me rebelar.
Não acho justo
descontar isto em ninguém.

Preciso de férias
mesmo sabendo que pouco delas terei.

Quisera eu querer ser menos
e me passar despercebido,
e nada depender de mim
(mesmo já sendo bem pouco).
Quisera eu ser nada,
para ser totalmente livre.

Até eu ter vontade
de me prender de novo,
para me lembrar
do que é liberdade.

Preciso de férias,
preciso de mais tempo
coçando o saco,
sem nada para fazer.
Cabeça cheia,
meus caros,
é a verdadeira
oficina do diabo.

Paratodos

Para todos vocês
que tomam café da manhã
com Deus,
e também com os que
se deliciam com as desvirtudes
do Capeta
(e que eu não deveria dizer o nome);
e que se encantam com as flores no asfalto,
e que engolem verdades
que talvez sejam falsas;
e que calçam as sandálias da moda,
e também vocês
que usam drogas para se esquecerem
de vocês mesmos,
e vocês, que apontam os dedos;
e os que compram, e não têm dinheiro,
e os que têm dinheiro, e não compram,
e também os hermitãos;
os que escolhem não ser parte;
os que assistem televisão,
os que odeiam televisão
e assitem televisão;
os que lisongeiam bandas
que nem sabem do que elas falam,
que escutam música,
e só querem letra,
e os que se esquecem da melodia;
os que não se emputecem,
e os que se preocupam
com algum país desconhecido;
os que têm medo do escuro,
os que não dormem de dia,
e os que não dormem nunca:
estou de saco cheio de vocês.

Porque posso ser tudo que vocês são,
mas odeio em essência
tudo isso que eu posso ser.

Cada Coisa em sua Hora

Tudo o que eu queria
era saber o limite.
Todas as coisas têm um limite,
e por quê eles são tão imperceptíveis?

Quando é a hora
de agir,
roubar um beijo?

Quando é a hora
de parar de beber?

Quando é a hora
de se dizer o que pensa?

Quando é a hora
de não dizer o que se pensa?

Quando é a hora
de elogiar?

Quando é a hora
de dizer verdades
difícieis a um amigo?

Quando é a hora
de pagar a conta?
Hora de ir embora?

Devia ter a porra de um reloginho
que apitasse e avisasse
sempre que a gente tivesse
indo pelo caminho errado
quando ainda é tempo de corrigir.

Tecnologia esta que eu gostaria
que alguém se empenhasse
em criar, e, talvez meu netos
pudessem usar
muito antes de saberem
por que raios os bósons existem.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Velhice Tardia

Meu Deus,
quem é este homem
de feições tão rudes,
de mãos tão calejadas
e olhar tão vazio?

Este homem
maltrapilho,
provavelmente
longe de casa,
quem ele é?

Os olhos dele falam
mais que sua boca:
dizem-me coisas intragáveis
sobre seu passado.
Olhos que guardam
os abismos dos sete mares.
Olhos encatarados,
sempre a buscar alguma
visão de outras eras.

Rugas, crateras,
escorrem-lhe pelo rosto.
Tão cheias de nada,
tão inúteis,
cada uma
uma marca,
um ontem,
uma década.

Mas, Deus meu,
isto não passa
de um espelho.
Onde andei eu
nestes últimos
cento e vinte anos?

Míope

Não sou mais metade do homem
que eu costumava ser.
Por que querer entorpecer-me,
se nem mais a sarjeta me agüenta?

A noite não é de chuva,
mas ainda assim me sinto molhado,
como que me anestesiando também.
Me sinto distante,
não sou consciente dos meus atos.

Não me orgulho disto,
acho-me, em verdade,
patético.

Preciso tomar uma atitude,
atitude de homem.
Já é hora de deixar
de ser tão infantil.

É como se meus heróis
(que também morreram
de overdose)
tivessem morrido à toa.

Preciso de um tempo meu.
Nem um livro para me distrair.
Preciso me encontrar,
mas é tão difícil de procurar.

Os olhos foram feitos
para olhar para fora,
não para dentro.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Sua Poesia

Quero nunca
ser traído pelo que digo
(ou escrevo).
Para isto, basta que não tentem
descobrir o que eu falei,
pois eu sou apenas eu,
na mais profunda das concepções.

O arranjo das palavras, aqui,
não é importante.
O importante é como
entranha-se cada uma
das esquisitices derrubadas
quase por acaso
no chão deste poema.

Para ser lido,
é intrínseco que se seja
incompreendido
(cada óptica é míope).
E agora, como quem passa
o fardo adiante, eu digo:
jamais lerá de mim
o que eu escrevi.

Pronto, isto que se lê
não é mais meu.
É seu para fazer o que quiser.

Só o que eu não quero
é que venham me perguntar:
"foi isto o que você quis dizer?"
Se eu quisesse dizer algo
assim tão específico,
eu diria em prosa.
Ou em artigo científico.
Ou então minha biografia.


Quero ser incompreendido,
só isto.
Quero que todas estas palavras
tenham um significado.
Milhões de significados,
se milhões de pessoas lerem.


Sintam-se à vontade,
a poesia é sua.