domingo, 28 de setembro de 2008

Como eu te quero

Quero-te sempre carinhosa,
sempre apaixonada,
quero que minhas palavras,
por mais banais e clichês que sejam,
te ganhem sempre
o coração.

Quero-te de todos os jeitos,
de todas as formas,
com todo o bem-querer,
com todas as brigas,
com todas histórias
que ainda haveremos
de contar e rir.

Quero-te todos os dias,
num futuro próximo
e também num futuro distante,
Quero-te só minha,
doce, suave,
apaixonada.

Quero-te pelos teus segredos,
pelos meus segredos
e pelos nossos também,
e, te garanto:
ninguém haverá de sabê-los.

Quero-te com todas as sutilezas,
com todos os sentimentos,
e também um pouco de raiva,
mas bem pouco,
só para que te lembres
como devemos ser carinhosos,
como devemos nutrir juntos um amor.

Quero-te com todo o tempo
que haverá de nos cansar,
nos enrugar as peles,
mas ainda terás minha pele
e o que há dentro dela,
e também minh'alma.

Quero-te vertigem
e quero-te nítida,
sempre nos meus olhos tão cansados,
quero ver-te mesmo de olhos fechados,
na lembrança ou na ocasião de
beijar-te.

Quero-te me querendo,
precisando e cuidando de mim,
e precisando de cuidados,
também.

Quero-te frágil,
chorosa, e que toda fraqueza
sempre te traga para perto de mim.
Serei sempre sua fortaleza,
embora sua fraqueza
diretamente também me abalará.

Quero-te forte, quero-te cajado.
Quero que sejas a mulher forte
por trás deste homem tão imperfeito,
tão descuidado, mas que
pagaria com tudo que tem
pelo teu amor,
embora tudo meu seja tão pouco.

Quero-te imperfeita,
para que eu possa admirar
também os teus defeitos,
tentar corrigir os que merecem,
e fazer-te crescer,
e contigo, crescer,
conhecer-te e usar
esse conhecimento apenas para ti.

Quero-te, para sempre,
minha.
Quero-te.
É como eu te quero.
Querendo, até quando
tu me quiseres.
Querendo, precisando,
pensando, lembrando.
É como te quero.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Relógio

Enquanto vamos vivendo
a base de toda essa miséria
que nos foi dada de tempo,
em que tudo é contado
de trás para frente,
há um tempo paralelo.

Esse tempo anda para frente,
não é reversível,
não tem contagem regressiva.
É infinito, mas cada segundo
é crucial, não deveria ser perdido.

Temos nosso próprio tempo,
que nos livramos tal qual
boletos, papéis, poemas e fotos.
E, subitamente, nos arrependemos.

Será que precisamos
ser sempre acesos?
Atentos?

Subitamente, preciso me acalmar.
Onde está meu tempo?
Aquele tempo, parado.
Aqueles tempos onde me encontro,
onde penso, porém,
sem filosofia alguma.

Filosofia é coisa complexa.
Preciso de futilidades,
beber, sair, não pensar.
Passar uma tarde inteira
só vendo vistas,
coisas,
paisagens,
tetos,
imagens.
Vendo.

Escutando música à toa,
extravasar, aliviar.
Fluir, sair, olhar, ver.
Livre, enquanto o tempo é meu

E logo, prenderão esse meu tempo,
me lembrarão que sou mais um,
compartilho um tempo com todos,
devo um tempo a eles,
responsabilidades, infartos,
fumos, fumaça, cigarro,
anti-cronômetros.

E ali estou eu, olhando o relógio
que marca o meu compasso,
que indica, a cada segundo,
que ele não é meu;
pertence às horas.
Que não são minhas.

Que me roubam.
Me levam onde tenho que estar,
mas não quero estar.
E vou, seguindo este círculo
de dúzias repetitivo,
que traz a cada novo dia
as novidades do dia anterior,
para sermos cada vez mais
afastados de nós mesmos!

domingo, 21 de setembro de 2008

Frase solta

Sei que ainda vou me arrepender de dizer isso, mas...

"Ainda bem que o tempo passa".

Cruéis passa-tempos

E continuam a culpar o tempo.
"Ah, o tempo não perdoa,
o tempo isso, o tempo aquilo".
O tempo passa, esse é o seu papel.

Ele há de cumpri-lo sempre,
há de se fazer presente,
Não traz coisas ruins e nem boas.
Ele apenas existe, passa e não volta.

Culpemos os que tentam pará-lo;
os que tentam ser contrários a ele.
Culpemos nós mesmos por subestimá-lo
e por dependermos dele.

Deixemos ele passar,
acompanhá-lo-emos.
O tempo não nos foi cruel.
Tudo passa, é o tempo.

Cruel é não passar, morrer.
Morrer uma morte viva,
onde tudo vive e nada passa,
nada passará.

Cruel é a solidão do tempo,
que sempre tem de cumprir seu papel
e ouvir as reclamações mais ingratas,
ser injustiçado no cumprimento de seu dever.

Só nos resta viver esse tempo,
passar esse tempo, passar com o tempo.
Nos resta esperar outros tempos,
sabendo que eles vêm.

Maior certeza que todas
é a de que o tempo passa.
Então, paciência.
Só podemos passar!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Palavras amarradas

Tenho que tomar cuidado por onde ando! Todas essas almas partidas, espalhadas e despedaçadas pelo chão...Não há limpeza nesse local, pois as almas não são recicláveis! Almas mortas por montes de palavras frias e cruéis. Cirúrgicas! Palavras que, ora saíram sem querer, ora pularam para fora e não mais puderam voltar; palavras escapulidas num momento em que o mundo não cabe nos pulmões e costelas da pessoa que as profere; palavras maldosas e inescrupulosas, má-intencionadas, também.
Nuas, proféticas e herméticas. Todos hermetismos passam necessariamente por essas palavras, que ajustam tudo como querem. Podem dizer muito ou dizer nada, ainda assim, de qualquer forma, poderosas! Manipuladoras e mecânicas, com vontade próprias. Todas essas que me saem agora, saíram planejadas, combinadas. Nada é aleatório ou tem livre-arbítrio, com exceção das palavras. E agora, jazem essas almas sob meus pés, amorfas, irreconhecíveis. Conhecidas e desconhecidas. Todas inteligentes, livres dessas palavras. Sem vida, entretanto. Até que me sinto bem nessa situação. Regozijo uma vida presa, truncada, atravancada, mas, contudo, vida. Meus olhos constroem palavras que ficam presas no fundo da minha retina, tatuadas lá para sempre. Sons, cores, texturas, são como essas almas. Mortas, independentes.
E há, por cima de tudo, um coração que bate. Um coração que sente, que se arrepende das almas, tal qual vidros em estilhaços, partes de um espelho que nos traz a imagem cansada de nossos rostos, e nos corta com seus cacos, mas o brilho ainda nos emociona. Um coração que bate, e como bate, e como sente, e como ama, e como vive, pulsa, luta, regozija, exubera. Deixo sair as palavras que tornaram meu dia chato, intragável. Vão, e tomara que não voltem, eu as amaldiçôo. Mas são necessárias. Um dia hão de levar minha alma. Até lá, ainda darei muito trabalho a elas com todo meu silêncio e meus sentimentos, calados. Nem um pio, silêncio. Meu coração se acalma, e assim fica. Silêncio, silêncio...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

The Great Gig in the Sky

E vêm me falar de imortalidade. O que seria, permanecer imortal? Em princípio, seria o mesmo que viver para sempre? Eu juro que tento entender. Ou seria vagar por aí, moribundo, tentando mostrar que a vida após a morte existe? Mas, a nós, vivos, essa vida parece muito pouco atrativa, nos amedronta não só pela dúvida de sua existência, mas também pelo caráter como nos acostumamos a vê-la, putrefata e insubstancial.
Poderia ser deixarmos um legado a outras gerações, sermos lembrados para sempre, e assim, tudo ser apenas mais simbólico do que necessariamente espiritual ou material? Mas até que ponto seríamos imortais? Até que ponto nossos legados nos serão fiéis? Até que ponto nossas músicas, nossos escritos terão sua interpretação intacta, se é que um dia tiveram?
Subjetivas músicas, que nos dão, à nossas mãos, nossos pés, nossos corpos, a certeza da morte, a beleza da morte, o amor sublime, o amor do pecado, o medo, a traição, a rendição, submissão e por aí vai... sentimos tudo isso, muitas vezes nem sequer percebemos ou conseguimos nos exprimir. "Você escuta uma marcha, você marcha; você escuta uma valsa, você dança", disse Gary Oldman, como Beethoven, em "Minha Amada Imortal". Mas quão fiéis ou sensíveis podemos ser ao nosso maestro?
Imortal ou não, essa música hoje me preenche. Não digo a Nona sinfonia, ou a quinta, ou Für Elise. Digo de algo mais recente. Um que tem algo de obscuro, também; que tem ecos, que, na minha cabeça, soarão e ecoarão eternamente (ou enquanto durar a minha esgotável mente); que não teme a morte, ou pelo menos não quando ela está longe. Algo de um lado escuro da lua, que me deixa comfortável, comfortavelmente anestesiado. Algo que me faz lembrar como, muitas vezes, dizemos tchau antes de nos cumprimentarmos, e quase que por acaso, sem nenhum interesse, perguntamos: "como você se sente?" "Vai tudo bem?"
Sinceramente, eu prefereria que você estivesse aqui. Me faria sentir melhor, não me lembraria que, mesmo grandiosos, perecem. Não que eu vá esquecê-lo, mas este mundo me arraigou muito a ele, e muito disso tem um pouco de você, que deixou tudo mais fácil, embelezou um pouco. Talvez isso seja eternizar-se. Embelezar-se. Não no sentido fútil. Talvez até mudar a palavra para evitar ambigüidade. Mas embelezar, trazer alguma coisa que, independentemente das pessoas, ficará. Um disco, um plástico, ficarão; mas não é disso que eu falo. Uma música, eterna, que não precisa ser interpretada, uma energia que submerge de catacumbas milenares, nos transportam a galáxias muito distantes, obscurecidas pelas nuvens, ofuscados pelo gordo, velho Sol, queimando nossas vistas.
Eu pediria para você ficar e me ajudar a terminar o dia, mas é isso: temos que ir alguma hora, é inevitável. Um dia, eu e você apenas trocaremos os papéis. Eu estarei em seu lugar. Não ocuparei sua grandiosidade, mas estarei causando alguma filosofia em alguma mente que há de causar alguma filosofia, e, talvez assim, etéreos e distantes, seremos um pouco eternos, um pouquinho, pelo menos.
Vá em paz, Rick. Deixa muitos fãs, não daqueles fãs bobos, mas verdadeiros fãs, que admiram toda sua capacidade, apreciam com toda a fineza e rebeldia de espírito que nos é possível conciliar. Mais uma vez, vá em paz, Rick!