sábado, 19 de dezembro de 2009

Noturno

Eu me lembro de quando ouvi
pela primeira vez
que se viravam noites.
Eu, com meus sete ou oito anos,
me vangloriando
de ter ido dormir às quatro.

Hoje, acho as noites tão curtas...
não por causa das festas.
Também, mas também é muito mais.
Adoro esse silêncio da noite,
adoro aproveitar a vontade alheia
de dormir, e me acordar desse desejo.

Eu prometo um dia aprender
a ser um bom cidadão
e começar a dormir de noite
e descobrir, então, para que serve o dia.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Arte é ilusão, pois eu não ajo

Fico ou Parto - com constante alegria
Meus pensamentos, embora céticos, são sagrados
Santa prece para o conhecimento ou puro fato.

Então enceno a esperança de que posso criar
Um mundo vivo em torno de meus olhos mortais
Um triste paraíso é o que imito
E anjos caídos cujas asas perdidas são suspiros.

Neste estado não mundano em que me movimento
Minha Fé e Esperança são diabólica moeda corrente.
Em mundos falsificados, cunho pequenos donativos
Em torno de mim, e troco minha alma por amor.


Allen Ginsberg

Subversão

E é daquele sorriso fatal
que se faz o pranto.
É daquele beijo
que se fez toda abstinência.

Aquela voz macia
é a que ensurdece,
é daquele rosto
que se faz ternura,
enfim.

Pode então este sorriso
doer assim como um tiro
ou ainda como mil lanças
invadindo carne, osso e pele?

Tanto quanto pode aquele beijo
ser um selo de uma carta em branco
sem nenhum destinatário,
sem nenhuma mensagem?

Tudo que acabamos por fazer parte
é de sentimentos
tão breves quanto os significados
que eles podem carregar.

De nada adianta
achar o grande amor
se ele se nutre apenas
do mundo e se perde nas almas,
pois tem algo mais.

Esse é o algo mais que sofre,
que geme, que treme, que ensurdece,
que padece, que se enrijece,
que amolesse.

Há que se valorizar as coisas
tanto quanto elas valem.
E o sentimento é tudo que temos.
São as armas que podemos usar,
e não há trapaças, tampouco reviravoltas.

É só sentimento, e nada mais.
Que me venham todas as dores,
pois sei que é assim que chegarão a mim
todas as oportunidades
de sentir
todo sentimento
que penso existir.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Transpiração

A arte de dizer
é composta de palavras,
de experiência,
de inspiração,
de tentativas
e de ouvidos.

Não tenho nem metade
dos pré-requisitos.
Foco bastante
na tentativa e erro.

Férias de Verão

Pareço puto,
mas na verdade,
sempre quis dizer tudo isto.

Mal posso esperar o Reveillon,
mas ultimamente
tenho me sentido muito revoltado,
mas nada que um pouco de festa,
umas mulheres
e um pouco de álcool não resolva.

Na verdade,
acho que sou um rebelde sem causa
arranjando em mim mesmo
motivos para me rebelar.
Não acho justo
descontar isto em ninguém.

Preciso de férias
mesmo sabendo que pouco delas terei.

Quisera eu querer ser menos
e me passar despercebido,
e nada depender de mim
(mesmo já sendo bem pouco).
Quisera eu ser nada,
para ser totalmente livre.

Até eu ter vontade
de me prender de novo,
para me lembrar
do que é liberdade.

Preciso de férias,
preciso de mais tempo
coçando o saco,
sem nada para fazer.
Cabeça cheia,
meus caros,
é a verdadeira
oficina do diabo.

Paratodos

Para todos vocês
que tomam café da manhã
com Deus,
e também com os que
se deliciam com as desvirtudes
do Capeta
(e que eu não deveria dizer o nome);
e que se encantam com as flores no asfalto,
e que engolem verdades
que talvez sejam falsas;
e que calçam as sandálias da moda,
e também vocês
que usam drogas para se esquecerem
de vocês mesmos,
e vocês, que apontam os dedos;
e os que compram, e não têm dinheiro,
e os que têm dinheiro, e não compram,
e também os hermitãos;
os que escolhem não ser parte;
os que assistem televisão,
os que odeiam televisão
e assitem televisão;
os que lisongeiam bandas
que nem sabem do que elas falam,
que escutam música,
e só querem letra,
e os que se esquecem da melodia;
os que não se emputecem,
e os que se preocupam
com algum país desconhecido;
os que têm medo do escuro,
os que não dormem de dia,
e os que não dormem nunca:
estou de saco cheio de vocês.

Porque posso ser tudo que vocês são,
mas odeio em essência
tudo isso que eu posso ser.

Cada Coisa em sua Hora

Tudo o que eu queria
era saber o limite.
Todas as coisas têm um limite,
e por quê eles são tão imperceptíveis?

Quando é a hora
de agir,
roubar um beijo?

Quando é a hora
de parar de beber?

Quando é a hora
de se dizer o que pensa?

Quando é a hora
de não dizer o que se pensa?

Quando é a hora
de elogiar?

Quando é a hora
de dizer verdades
difícieis a um amigo?

Quando é a hora
de pagar a conta?
Hora de ir embora?

Devia ter a porra de um reloginho
que apitasse e avisasse
sempre que a gente tivesse
indo pelo caminho errado
quando ainda é tempo de corrigir.

Tecnologia esta que eu gostaria
que alguém se empenhasse
em criar, e, talvez meu netos
pudessem usar
muito antes de saberem
por que raios os bósons existem.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Velhice Tardia

Meu Deus,
quem é este homem
de feições tão rudes,
de mãos tão calejadas
e olhar tão vazio?

Este homem
maltrapilho,
provavelmente
longe de casa,
quem ele é?

Os olhos dele falam
mais que sua boca:
dizem-me coisas intragáveis
sobre seu passado.
Olhos que guardam
os abismos dos sete mares.
Olhos encatarados,
sempre a buscar alguma
visão de outras eras.

Rugas, crateras,
escorrem-lhe pelo rosto.
Tão cheias de nada,
tão inúteis,
cada uma
uma marca,
um ontem,
uma década.

Mas, Deus meu,
isto não passa
de um espelho.
Onde andei eu
nestes últimos
cento e vinte anos?

Míope

Não sou mais metade do homem
que eu costumava ser.
Por que querer entorpecer-me,
se nem mais a sarjeta me agüenta?

A noite não é de chuva,
mas ainda assim me sinto molhado,
como que me anestesiando também.
Me sinto distante,
não sou consciente dos meus atos.

Não me orgulho disto,
acho-me, em verdade,
patético.

Preciso tomar uma atitude,
atitude de homem.
Já é hora de deixar
de ser tão infantil.

É como se meus heróis
(que também morreram
de overdose)
tivessem morrido à toa.

Preciso de um tempo meu.
Nem um livro para me distrair.
Preciso me encontrar,
mas é tão difícil de procurar.

Os olhos foram feitos
para olhar para fora,
não para dentro.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Sua Poesia

Quero nunca
ser traído pelo que digo
(ou escrevo).
Para isto, basta que não tentem
descobrir o que eu falei,
pois eu sou apenas eu,
na mais profunda das concepções.

O arranjo das palavras, aqui,
não é importante.
O importante é como
entranha-se cada uma
das esquisitices derrubadas
quase por acaso
no chão deste poema.

Para ser lido,
é intrínseco que se seja
incompreendido
(cada óptica é míope).
E agora, como quem passa
o fardo adiante, eu digo:
jamais lerá de mim
o que eu escrevi.

Pronto, isto que se lê
não é mais meu.
É seu para fazer o que quiser.

Só o que eu não quero
é que venham me perguntar:
"foi isto o que você quis dizer?"
Se eu quisesse dizer algo
assim tão específico,
eu diria em prosa.
Ou em artigo científico.
Ou então minha biografia.


Quero ser incompreendido,
só isto.
Quero que todas estas palavras
tenham um significado.
Milhões de significados,
se milhões de pessoas lerem.


Sintam-se à vontade,
a poesia é sua.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A Mulher

Mulher tem é que gostar de pimenta.
Essas são as melhores.
E de cerveja, também.

Mulher tem que ser linda
de se olhar,
mas também tem que ser linda
de se conversar.

Mulher tem que comer o que gosta.
Ninguém precisa exagerar,
mas também não precisa se afomear.

Mulher tem que gostar de ser mulher.

Mulher não pode querer
entrar na justiça
contra a língua portuguesa.
(É tão besta...
quem importa
se é presidente
ou presidenta?)

Mulher tem que reclamar
da minha roupa jogada no chão,
mas sem ficar brava.

Mulher tem que acreditar
quando digo que ela está linda.

Mulher tem que se despreocupar.

Mulher tem que gostar de sexo.
Tem que querer sexo.

Mulher não pode ter dor de cabeça.

Mulher tem que cobrar carinho,
tem que precisar de mim
na mesma intensidade
que eu preciso dela.

Tem que olhar as estrelas,
tem que andar de mão dada,
tem que querer bem.

Se eu um dia achar uma mulher assim,
prometo ser o homem
tão intenso
quanto desejei esta mulher.

sábado, 14 de novembro de 2009

Nódoa sem Ponto

O que me diria então se dissesse eu a ti que também me veio tudo assim num sopetão só desses que se os dedos não acompanham sai tudo errado e nem ponto dá tempo de pôr? Em menos de três ou dez minutos escrevi tudo que me passava pela cabeça mas eu fui um tanto fraco pois aqui tem pontos em demasia. Minha inspiração não está tanto pra tão pouco ponto, contudo conto com tudo quanto é conto de réis de inteligência para jogar fora da minha inspiração esse tonto (tanto) de ponto que me veio aparecendo. Por que se a gente diz é tudo assim mesmo direto e se a gente dá tempo pra pensar acaba dizendo asneira e é aí que a merda vem feita, a gente diz o que não quer por que pensa o que não quer mas aí a gente diz e como se diz palavra dita não volta atrás, é como flecha lançada. Meu intuito não é seguir essa mesma linha que tu (bródi véio!) já que nem pude não parar para respirar por aqui (e já o fiz bastante) mas é que a meu ver foi muito apropriado ter lido isso que tu escreveste que pareceu fluir tão natural de modo que me tinha acabado de sair tanta coisa ao natural e quase da mesma maneira. Na verdade isso foi só uma vontade de mandar um abraço de um jeito mais ao natural possível bem diferente dos parabéns de aniversário que a gente tá acostumado a receber de quem trocamos menos de três bons-dias por mês e ainda assim temos que abraçar o infeliz que na verdade nem sabia que dia era nosso aniversário, só por quê alguém contou.
E se vou fazer aqui um parágrafo é só pra dar um tom de destaque para o que vim dizer: abraços, meu velho!

O Futuro da Nação

É estranho pensar
que meus colegas hoje
serão os profissionais de amanhã.

Aqui do meu lado,
um futuro engenheiro
que vai me projetar meus carros,
só preocupado com
sua vida sexual.

Logo ali,
um filósofo
que ainda desconcertará
minhas idéias
com seus tapas na cara
da sociedade,
fazendo o que todo mundo faz:
bebendo, fumando, transando.

Trombo (ainda embriagado)
com o homem
que vai me tirar o tumor
do meu pulmão,
mas ele não larga
o vidro de lança-perfume.

O incrível é que
ainda saímos vivos da faculdade,
prontos a exercer
nossos ofícios!

Egocêntrico

Foi no dia
em que acordei,
e não precisava
mais de mim para viver.

Fui livre.
Ia onde queria,
por que aquela
velha e chata
parte de mim
tão acomodada
eu havia expulsado.

E eu pude então
escolher dentre todas as pessoas,
podia ser qualquer um,
em qualquer lugar,
pois não havia um
corpo, nenhuma alma.
Era eu na mais pura
essência de ser:
tão nua como antes
de virmos ao mundo.

Mas daí olhei ao redor,
era todo mundo tão chato
que acabei me escolhendo de novo.

Texto

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Só queria eu também
ser um destes
baluartes da prepotência,
um chato de galocha
a fazer outros acreditarem
que aqui realmente
existe algum sentido.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Jeito de Falar

As palavras foram penetrantes. Não fazia ele o seu tipo usual, mas de repente, pareceu a ela extremamente sensual. Tudo por que soube dizer as palavras corretas, naquele exato momento, com aquele exato tom. E o jeito como movia os lábios, assumiam um caráter mais carnal como o de costume. Toda a paixão entrou pelos ouvidos, e com ela todos os desejos. E tudo se transformou num calor que subia por meio das pernas, e um arrepio como que a acariciando os seios, chegava numa forma de falta de ar pelo pescoço, que, por sua vez, esperava um toque úmido de lábios. Ah, mas também foi aquele olhar de quem via sem olhar, ou de quem olhava sem ver, que trespassava qualquer carne e osso - principalmente a carne. O movimento dos olhos era como um tango, e tinha o calor do tango. Tinha a sensualidade do tango, mas com um leve tom de valsa, gracioso. E aquilo fazia-a subir pelas paredes. Já se colocaria despida ali, sensualmente, abriria um sorriso discreto, se aproximaria até o ponto em que ambos pudessem sentir a falta de respiração, a entonação falsa das vozes cobertas pela libido, mas no fundo sabia que não era isso. Aquela vontade passaria em alguns minutos - o quanto durasse o orgasmo. No fundo sentia que essa vontade era superficial. Preferia os pensamentos vazios e profundos aos desejos frívolos e profanos. Ele, do outro lado, nem sabia o que se passava, e o que tinha perdido. Seria a melhor de todas suas noites, mas agora não fazia mais diferença. Era um passado que nem chegou a ser cogitado como futuro.

sábado, 7 de novembro de 2009

Ponto de vista

Já perdi a conta
de quantas vezes
foi que me perguntei
porque sou eu quem estou aqui.

Como seria se talvez
outro espermatozóide
fosse mais rápido,
se eu existiria
de outra forma.

Mas nunca olhei
pelo outro lado da coisa:
por que não seria eu?
Esse é o tipo de pergunta
que a resposta
tem a mesma direção,
mesma intensidade
e sentido oposto
ao da pergunta.

O efeito?
Mais uma pergunta
sem resposta legítima.
Mas é só uma nova maneira
que inventei
de fazer-me achar
um pouco menos poeira cósmica,
um pouco menos acaso.

Ao "porque não"
está atrelado um
"porque sim",
sendo que este é,
para mim,
muito mais importante
que aquele.

Por que este
está baseado
em ser;
aquele, em
deixar-se ser.
Um, é aceitar;
outro, acreditar.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

What shall we say now?

There's a new trend,
and love
is no longer claimed
to our mother language.

I've got some ideas,
and I can´t say
the way I wanted to.
I earned this accent,
most similar
to some kind
of a strange language.

We now got to go shopping,
in the shopping mall,
and we got to eat
all that junk food,
fast food,
and all them
go to the hair stylist,
and all we hear about
is fashion,
is english all over here,
and do we all have
some kind of feeling,
some kind of sensitiveness.
But we no longer feel identified.

We kind of lose our nation,
we're no natives of our land,
we're nothing more
than strangers.
Foreigners who were born in here.

I'd rather love São Paulo
much more than love New York
(although is much easier
to love the last one).

I'd rather say "portuguêis"
much more than say "portuguese".

We have all the rock and roll,
and we do have some popular music,
born in here, that grows here everyday.
But I don't know, sometimes
I feel like the blues seems more
contagious,
and then I feel blue.

I rather love my place,
my country,
my land
(pleasant land),
even though
some of my brothers here
try so much
to build ruins over
all that's beautiful here.
But I swear,
I still have my faith
in all the people that lives in here,
but I just don't know
how long I can stand from here.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Escuro Astro Próximo


Não, não pode ser tão simples assim.
Não são só notas,
tampouco são só letras.

Claro, há as notas.
Mas não são cruas assim.
São penetrantes,
talvez vivas,
com instintos e tudo o mais
que só a vida pode fornecer
(e de graça!).

Há letras, também.
Às vezes,
como uma linda mulher
nos despindo
sensualmente,
pronta para amar.
Às vezes, é uma angústia
sem fim,
algo como a morte
decidindo nossa vida
no cara-ou-coroa.

Às vezes, é como
se fosse nossa voz
querendo gritar absurdos
absurdamente.
Arduamente, dolorosamente,
incessantemente e incansavelmente.
É uma lança que nos trespassa,
é dinheiro e é loucura,
são tormentos.

Tormentos talhados
e esculpidos
e que vamos nos adaptando a eles,
brandamente nos acostumando,
até esquecer dessa dor fisgante.
São dúvidas existenciais,
pessoais e até mesmo capitalistas.

Mas também não se limita a isso,
é imortal.
(É música!)
Sua sonoridade
é sempre a mesma,
embora aqui
nós é quem somos rios
e seremos diferentes
a cada vez que se ouve.

Alguém mais aqui
sente como eu sinto?

Cada pulso
em seu justo cronômetro,
em seu justo metrônomo,
entrando no tempo tão certo;
a precisão de astronautas.

É como a luz,
que sai branca,
mas se divide
em infinitas cores,
e nem se misturam,
tamanha precisão
de seus mínimos
comprimentos de onda.

Esta luz de tantas cores
percebidas por olhos atentos
(entorpecidos ou não)
com tantos significados
que podem até
se confundir com música,
mas é só mais uma das sensações.

O mais incrível
é que tantas cores
tantas facetas,
personagens completamente
esféricos,
mas somos, aqui,
sempre comparados
com o lado escuro da lua.

sábado, 24 de outubro de 2009

Goiânia

Sou goiano.
Mais especificamente,
anapolino,
mas de preferência
goianesiense
(de Goianésia)
com todo orgulho
de ser de tão interior assim.

Uma parte de mim
é também
goianiense
(de Goiânia),
algo que habita em mim
como um dia
habitei em Goiânia.

As pessoas
me são muito caras,
e por isso,
a cidade me é cara,
também.
É linda, se vista
pelos meus olhos.

Um humilde parabéns
76 anos,
poucos anos,
mas valiosos,
que cultivaram
tantas boas coisas
uma gigante
no interior do Brasil.

Mesmo longe,
sou seu filho.
Sempre.

A Segunda vez é a que fica

Minhas idéias
(ou histórias)
não são tão boas
quanto as primeiras
vezes que as tenho,
mas trato de contá-las
antes que a terceira vez
me venha roubar
tudo que elas
(minhas histórias)
tiveram de bom!

Minha geração

Amaldiçoada por saudosistas,
por velhos e por outros
de outras gerações.

Não podemos
lutar contra o nosso sistema,
não podemos mais
usar drogas,
pois hoje é coisa
de inúteis.
Antes, de ativistas,
de engajados.

Não se pode ser rebelde,
já não há ditadura.
Isso não deveria ser
um ponto positivo
a nosso favor?

Quero que me digam,
onde sertanejo universitário
é pior do que
Roberto Carlos
e a Jovem Guarda?

Podem não ser estes
tempos de vacas gordas,
mas temos nossos expoentes.

Podem não ser tantos hoje
como os tropicais
e a velha bossa eram,
mas são nossos expoentes.
E me são mais importantes
que muitos antigos.

Viva o Baleiro,
viva Jorge (o Seu),
viva muitos outros
(que não citarei
por questões de espaço),
viva!

É minha geração,
se não é boa para vocês,
é boa para mim,
e isto basta!

Basta que digam
que não se produz,
que digam
que coisa boa
só surgiu até
1990.

Basta que digam
que tudo se acabou.
Há de haver melhores tempos,
e meus tempos
serão histórias para amanhã
(com toda certeza),
pois haverão amanhã
de ser melhores
do que os seus foram hoje.

Viva a época da transição.
Nós, que somos hoje
homens da informática,
também somos homens
que empinaram pipa,
que rolaram rolimãs,
que brincavam na rua.

Juro que um dia
falarei mal das novas gerações,
mas com toda certeza,
vai ser com aquele certeiro
sentimento que é
um pouco inveja,
um pouco saudade,
mas, mais ainda,
aquela vontade
de sentir-se velho
pois todo o resto
lhe parece muito mais novo.

Tirem Seus Chapéus

Meus caros, tirem seus chapéus! Méritos, haviam. Tinha seus defeitos (e nem sei quais são), mas que foi importante para sua época, foi. E sua época hoje ainda é. Merece todo meu respeito, e garanto que nunca me classifiquei como um fã, mas respeito, de minha parte, sempre houve. Não é meu estilo, não me identifico, mas mesmo assim, é unânime. O mundo aplaude, e não sou tão controverso ao gosto popular assim. Aplaudo tímido, demonstrando todo meu respeito.
Mas aí vêm estes chapéus lhe cobrir o respeito. Pessoas em tom tão cotidiano cobrindo cabelos como se dançassem algo à altura. Aqueles chapéus como que nos lembrando sua imagem e semelhança, mesmo que saibamos que este mundo não compartilha os seus desejos, nem sua carne. Malditos chapéus, será que lhe fazem descansar (em paz)? Maldita seja a moda que nos faz mais importante em nossas roupas do que em nossa vida. Nos vestimos a todo tempo de vida e algo mais, como os sentimentos, as músicas, os filmes e todas as outras 10 artes, para, enfim, sermos despidos por algo que nos veste.
Perdemos nossa pompa de pop musical, perdemos nossas cores e nosso respeito (mesmo que todos nos admirem) por, ao fim, cobrirmos algumas cabeças.
Chapéus não são moda há algum tempo. E agora querem voltar com eles. O que Michael Jackson diria deles?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Teste

Duvido alguém
um dia ainda ver
uma prova
que realmente
prove alguma coisa.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Analfabeto Funcional

Por que raios
hoje acordei com
tanta vontade de escrever
se hoje nem ao menos
aprendi a ler?

360 Graus

A manhã é meu refúgio.
Me levanto,
tomo um banho,
para me despir
dos meus sonhos.

Amanhã é onde me escondo.
É minha desculpa
para todas as minhas
faltas de hoje.

O sol de manhã nem é tão quente,
de modo que o seu doirado
é um clarão prepotente,
embora bem sadio.
Me sinto quase tão bem
quanto na noite anterior.

Mas é que noite
não é refúgio,
mas é desnuda.
É crua, fria e calculista.

A noite é onde tudo acontece,
é onde se espera o sono
enquanto o outro lado do mundo
se livra dos sonhos.

A noite é a face privilegiada
que Rá não nos toca.
Ali, não há divindades,
e os homens tomam conta.
É quando, cansados,
nos vemos imersos
no particular de nosso mundo.

A noite é intimista,
e por isso valhe todo o esforço
da Terra girando todo dia.

Simplesmente para saber
que a cada volta
damos o ar de nossa graça
a um ente cósmico
tão mais prepotente
que nossa humilde materiazinha.

Homesick

Ah, como me valem
todos os segundos
em que leio um
"saudades de você",
ou suas derivadas.

Me vale mais do que
o tempo que perco
tentando me perder.

É como um retorno,
um abraço,
ainda que distante.

Depois de tanto tempo
longe de casa,
começa-se a escutar "The Boxer"
e, mesmo sendo personagem
tão diferente do que está
contido nas letras desta música,
nos identificamos.

Já senti saudades de casa,
mas nunca dei tanto tempo
para essa sensação.
Mainha, me espere,
que eu vou já!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Lacônico

Os dias de hoje
são dias em que
tentamos brincar demais
com nossos sentimentos.

Assim, bem simples.
Em poucos versos,
versei meus dizeres,
e tudo que eu queria
que os outros entendessem.

O Mundo Novo

Pense no que aconteceria
se você acordasse,
e não lhe viessem as idéias.

Pense no que aconteceria
se o mundo resolvesse
que você seria o modelo,
tudo seria à sua imagem
e semelhança.

Pense no que aconteceria
se os violões se recusassem
a nos agradar,
e os computadores a nos responder.

Pense o que seria do mundo
se não fossem as mulheres
a nos amar e nos aborrecer,
a nos perdoar, a nos deixar
com saudades delas,
a nos perder e a nos ganhar.

Pense como seria
se em todo lugar
tudo fosse meticulosamente
colocado,
encaixado,
como se fosse feito para
aquela função e posição,
e nada mais.

Pense o que aconteceria
se todo o mundo
simplesmente
parasse de girar,
se recusasse a acabar
esse dia, que foi o mais
maravilhoso de todos.

Pense como seria
se esse dia fosse,
em verdade,
o mais odioso
de todos.

Penso como seria
se todos me fossem diferente,
de modo
que em nenhum lugar
eu me encontraria,
eu nunca teria alguém
com quem concordar.

Penso também
como seria
se o meu pensamento
fosse a ditadura terrestre,
o sub-jugamento da morte,
a farinha na comida nordestina.

Penso, mais ainda,
no meio termo,
que é onde tento
me encaixar.
Por que neste mundo,
nem somos todos,
nem somo únicos
(em tudo),
somos parte
de um todo
divergente,
mas não em tudo.
Convergente,
mas não em tudo.

Pense como seria
se simplesmente,
não se pudesse dizer mais
nenhuma palavra.

Os jestos nos seriam caros.
As mãos nos dominariam.
Os pés, destronariam o peito.
Viveríamos mais de sexo?
Seríamos diferentes?
Ou nos adaptaríamos?

Penso que somos tão complexos,
mas aí está a psicanálise
a nos desvendar
e a me contradizer.
Sou traçado cuidadosamente
por minhas vivências.
Não sou aleatório.

Por fim, pense:
como será o nosso mundo,
se nem sabemos
o que queremos
para amanhã?
Se nossas utopias
foram vendidas,
e nossos ideais
não passam de idéias
tão antigas
quanto as músicas que ouço!

domingo, 18 de outubro de 2009

Cidade Proibida

Tá, eu até podia estar indo a Babylon
atrás de pão-de-ló e Moët & Chandon,
ou bater um papo com um velho amigo
(importante amigo)
em Pasárgada,
ou firmando, em meus punhos,
o gládio que construirá Jerusalem
nestes campos tão verdes aqui existentes;
mas não são minhas estas cidades-modelo.

Não tenho, em verdade,
nenhum amigo influente em Pasárgada,
nenhuma morena a quem eu possa
convidar a conhecermos juntos Babylon,
nem vejo por aqui a terra prometida.
Ainda não encontrei minha cidade,
meu paraíso particular
e que, particularmente,
não existe.
Atlântida?
Macchu Picchu?
Teotchuacan?

As minhas cidades
têm luzes, e têm carros.
Não são perfeitas,
mas são vivas
em todas as horas do dia.
São cidades onde piso meus pés,
onde sei que, andando,
me guio em firmes terrenos
que não ruirão
(assim espero),
são cidades onde moram
as minhas pessoas.
Onde tem meu álcool barato,
minha embriaguez certa
e a sobriedade correta
do meu cotidiano.

E não é culpa da nossa geração
se já não se fazem paraísos como antigamente:
a fé foi se perdendo ao longo de séculos,
essa fé de terras e promessas
(fomento de guerras),
e estas terras já mais foram vistas
nos satélites que desnudam a Terra.
Será que haverá outros paraísos no futuro,
cidades que são vivas hoje?
Minha aposta maior seria Dubai.
Não tem fome, tem obras faraônicas,
são todos ricos e megalomaníacos.
É só disso que se lembrarão séculos depois.
Hoje, é a perdição em altos padrões.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Combinações

É tudo uma questão de escolha de parâmetros. Os dizeres podem ser de dois tipos, e não mais do que isso: os bem ditos e os mal ditos. Assim, separados mesmo. As palavras são limitadas, mesmo que se reproduzem e se recriem muito, são limitadas. Basta dizer corretamente. Assim são feitos advogados, vendedores, compradores, poetas, corretores, juízes, políticos, politiqueiros, golpistas, cafagestes, malandros, sambistas, gente de toda classe de pessoas.
Se a maior arte de um escritor é saber dizer tudo aquilo que está estampado, roçando narizes e acariciando as vistas encataratadas e que não se enxerga, ou então fazê-lo de um jeito todo novo, basta que se escolha a combinação certa de palavras. Mas talvez isto seja como as notas de um piano. São só 88, mas já saíram de seus ventres filhos nobres como Chopin, Beethoven, Mozart e mais alguns muitos outros gênios, com combinações de teclas e notas das mais diversas. Também por isso muitos se passam incompreendidos, já que inovam tanto que mal o mundo os consegue enxergar.
E eu, que muitas vezes já maldisse as palavras, agora as elogio. Sabem muito bem se esconder quando mais as queremos. Isso é de certa forma um charme. Não é sempre que estão disponíveis. Se fazem de difícil e às vezes nos fazem dizê-las nas horas mais inoporutnas, como aqueles "obrigado" que nos saem à toa. Sim, eu as maldisse pois as acho falhas. Mas tudo bem, são o que temos, e servem para quase todos os casos. Mas se queres saber de sentimentos, perguntes tu aos olhos. No fundo eu as amo (as palavras), mas que tipo de homem seria eu se também não me fizesse de difícil? Não é todo dia que estou para escrita!

sábado, 3 de outubro de 2009

Hummanum Est

Não é à toa que seduzir
seja tão parecido com reduzir.
O homem, foge.
Os músculos,
símbolo de força e hombridade,
falham.
Tremem.

A voz, fica rouca,
e alguma palavra que estava ali
para sair,
vira um beijo,
um toque suave de lábios.

Com as vistas turvas,
delira-se.
Nunca nada pôde ser tão bonito
quanto não ver
tudo que os olhos enxergam.

E, se pudesse eu
com palavras descrever algo parecido,
com certeza não o faria.
Perderia toda a mágica.
Palavras não são dignas da sedução,
não são dignas do amor
e nem do sexo.

É quando, enfim,
reduzidos,
nos volta a forma,
e as carícias se acalmam,
ainda nos ficam os sentimentos
em toda uma confusão
que nos arrepia
não uma parte,
mas por inteiro.

Ah,
que seriam dos homens
se não fosse o calor gelado
das mulheres,
e se não fosse o "se encontrar"
em um braço feminino
que seja em si mesmo
a forma do amor,
macio e suave,
como (para mim) deve ser...

E ainda dizem
que os homens
não são todos iguais...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Jogos Infantis

Nem tudo é como se fosse construção
tão lógico e encaixado.
Sempre há o quebra-cabeça que falta peça
e ninguém sabe.

Todos tentam montar,
mas falta aquela peça.

O pior é que em cada canto
sempre resta um,
que fica ali, isolado,
sem ter com ninguém,
nem com o diabo,
que fica ali à espreita.

Olha as damas por ali,
naquele cabaré,
dançando o can-can,
uma cena memorável.

Depois cresce,
e é difícil o jogo da vida,
o monopólio e os bancos,
imobiliários, crediários
e outros "ários" mais
lhe roubam todo o tempo.

E é assim que se acaba
sem ação, sem imagem,
sem saber o que dizer,
vivendo a caçar palavras,
pois estas já mal lhe saem à boca!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Os outros que também são eu

Tá, eu sei. Muitos melhores que eu já falaram melhor disso do que eu, mas mesmo assim: os amigos são meus e a homenagem é minha. Tenho, hoje, 20 anos. Não considero nenhuma vasta experiência, mas tive muitos amigos. Se não foram muitos, com certeza foram mais por serem poucos. Tive amigos de infância e que ficaram na infância; outros que vieram comigo ver o mundo como vejo hoje. Alguns amigos, nem me lembro o nome, outros o rosto, mas sei que muito do que tenho hoje me foi dado por eles. Alguns, foram um tanto relâmpagos. Chegaram como os melhores amigos de todos os tempos, mas foram avassaladoramente tal qual chegaram. Outros, vieram como que sem nada querer ou pedir, e de repente, estava eu e ele como que se nos conhecendo desde o início dos tempos.
Alguns achei pelo meio do caminho. Caminhávamos juntos, mas nunca nos tocamos que estávamos lado a lado. Num dado momento, passamos a compartilhar idéias. Outros, estavam logo ali na frente, e tive de alcançá-los, assim como também fui alcançado. Alguns falo de amor, outros, de filosofia. Uns tantos, de futilidades. E há os que eu falo de tudo, pois sabemos nos conversar como se o mundo se desfizesse em dez minutos, e ainda faltava contar de toda uma vida. Outros, chamo de irmão. Outros, nem do mesmo sexo são - e nem por isso menos amigos. Outros, deixei pelo caminho, mas nunca por vontade minha, mas por força dos tempos. E quando deixei, foi de coração partido. Alguns, achei que estariam comigo para sempre, e partiram, como eu parti para alguns. Uns muitos, não preciso estar do lado para ser amigo, basta que em alguma hora boa do dia eu me lembre deles, já me parece que estamos mais próximos do que qualquer outros amigos. Pode ser também uma hora difícil, e parece que já me conforto.
Alguns juntos vivemos momentos difíceis, outros, só festas. Tem os muito diferentes e os muito parecidos, e, por alguma mágica, me dou bem com todos. A maioria já se chateou comigo, mesmo que não se lembrem. Alguma besteira já fiz com quase todos, e já tive que me chatear também. Alguns, agora são realmente poucos, faz tanto tempo que somos amigos que nem me lembro como nos encontramos. Alguns pedem dinheiro emprestado, outros pagam bebidas das mais caras. Alguns (ou muitos, acho que seria mais apropriado) são da minha família. Alguns chamam de irmão, e realmente são. Uns, nem se lembram de mim, mas e daí? Me são igualmente importantes. Amo todos, cada um de um jeito único. E quem levou qualquer coisa que disse aqui para algo além de amizade, não foi digno desta homenagem. E se algum foi totalmente diferente do que eu disse aqui, não foi por falta de consideração, de modo algum. São tantas especificidades que eu poderia escrever um livro, mas perderia o caráter de homenagem.
E, para enriquecer isto, vou citar alguém bem melhor do que para estas coisas: Vinícius de Moraes. "Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!" Abraços a todos os que fazem parte deste filme de tomada única tão realista!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Tudo o que achei

Já achei que ninguém gostasse mais de carros do que eu,
ou de música.
Já achei que amava mais que todos,
as mulheres.
Achei que as admirava demais,
que todas tinham alguma beleza.
Já achei que seria presidente
para acabar com a pobreza e o preconceito.
Já achei que o Brasil devia pegar em armas.
Civis e militares.
Já achei que era eu
o que mais curtia a vida.
Apreciava-a em cada pedaço,
cada pequena dimensão
e transformava tudo que podia
em felicidade.

Já achei que eu era o mais errado de todos.
Já quis me expor para o mundo todo,
e já quis me esconder.
Já achei que jamais me afastaria
de qualquer amigo
Já achei que nada melhor
que "The Dark Side of the Moon" seria produzido
(e ainda estou esperando)
Já achei que tinha amadurecido.
Já achei que tinha amadurecido o suficiente.

Já achei que acharia tudo que perdi.
Já achei que perderia tudo de novo.
Já achei que amava para sempre.
Já achei que achei o grande amor.
Já achei que seria grande poeta.
Já achei que eu era um tolo.

Já pedi para chover,
mas chover de mansinho.
Já pedi para abrir todas as gaiolas do mundo.
Já achei que me doía mais
as dores do mundo
do que as minhas próprias.
E me enganei.
Às vezes não suporto as minhas.
Às vezes sou mais forte
que um touro.
Às vezes minhas lágrimas
me furam as mãos.
Às vezes minhas mãos enxugam as lágrimas.
Às vezes minhas mãos me furam os olhos.

Já achei que as verdades eram absolutas.
Já achei que poderiam deixar de ser.

Ah, quantas ilusões.
Mas não, não digo isso com nenhuma tristeza.
Se eram absolutas estas verdades,
eram. Pronto!
Se deixaram de ser, paciência.
Eram as armas que eu podia lutar,
era tudo que eu tinha disponível.
Eram as regras do jogo,
e joguei
(já falei sobre elas).
O mais importante, ainda tenho comigo.
Ainda vivo, durmo, aprendo.
Se quer saber,
"a vida só se dá
para quem se deu".
Eu quero é viver.
E ver depois
que hoje eu estava iludido.
E que isto seja o meu futuro:
sempre algo que tenha feito
o meu passado valer a pena.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Um show, nada mais

Era uma imagem especialmente linda. Havia música, havia gente, havia uma batida tão intensa em profusão com as palmas bem ritmadas de um povo admirando um espetáculo gratuito. E nada dos largos e pesados paradigmas da moda. Tudo muito alternativo, seguindo um padrão bastante fora dos padrões de belezas espetaculados nas telas das teletelas das tevês.
Coisas mesmo que se vê só na faculdade, e mais especificamente ainda na universidade pública (sem questionamentos políticos, hoje não!). Estava a banda tocando uma música diferente. Bastante interessante e agradável de ver. Um público do tamanho justo da produção do show, tudo com um profissionalismo caseiro da maior fineza possível. Era interessante ver todas aquelas pessoas que são muitas vezes rotuladas como "doidões", dentre outros rótulos mais preteríveis, se fundindo com aquela música, como que acrescentando movimento à harmonia musical ali presente. Músicos bons, e um público no ponto. Tudo isso dentro de um festival do instituto mais alternativo - o instituto de artes.
Pareciam pessoas tão livres quanto as vibrações que deixam as cordas do meu violão (mal tocado). Pareciam que era só aquilo que lhes bastava, ver uma música mal saída do forno, ainda quentinha, produzida por aqueles colegas, e eu me deliciando por esta cena um tanto quanto saborosa, ali, um pouco mais distante, quase um observador onisciente (bem queria eu ser completo onisciente, saber o que todos pensavam e sentiam). Só pensei comigo mesmo: estou no lugar que queria estar. Uma universidade no sentido original da palavra, mais próxima da universalidade que se pode encontrar num raio de muitas idéias. Sei que aqui fiz amigos muito bons, sem diminuir nem um pouco os antigos - muito pelo contrário. Mais do que nunca, sei que quero estar aqui.
Adoro minha casa, mas neste momento, minha faculdade é o meu lar. E eu vou abraçá-la com todos tentáculos que eu puder pois é único em minha vida. Onde mais eu veria uma orquestra totalmente grátis num domingo tocando polonaises, polcas, danças, marchas, sinfonias. Vejo clássicos do cinema e ainda por cima festas que tocam de Beatles a Mutantes e às vezes de graça? Um brinde a todos os que estavam nesta cena supra-citada, e mais dois brindes aos que estavam tão felizes quanto achei que estivessem. E aproveitem, que hoje é por conta da casa!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

É o tempo

E quando achamos que não há mais nada neste futuro tão próximo, acontece algo. Nos sentimos impotentes e em geral realmente não podemos fazer nada. Somos mesmo donos de nossas ações? Não me entendam mal, acredito piamente no livre-arbítrio. Nada de determinismos. Mas é que às vezes parece que sempre que queremos algo, tudo sai ao contrário. Por que não tentamos fazer tudo diferente do que queremos, que talvez dê enfim certo.
Ai, se não é o cansaço a me fazer pensar novamente! Não há o que se fazer quando não há de se fazer nada, mas sempre nos sentimos como que devendo algo a todo o tempo. E procuramos o que fazer nas vagas horas em que o tempo se ocupa em preguiçar. Hoje o dia tinha prosa no ar, não pude evitar falar essas coisas. É assim mesmo, o tempo é preguiçoso. Deixa tudo - igual ironia não se há de achar - para última hora. E aí corre quando não deve. A passos largos, ele anda tão apressadamente quanto uma lesma corre do sol para a sombra que lhe evita secar.
É aqui que abandono o sono e deixo as luzes acesas. Por que é de noite que as músicas urbanas e barulhentas vêm dançar e nos assustar com suas sombras assombrosas. Se parecer-lhe um tanto psicodélico, é que me escapa esse lado involuntariamente. Acho que Alice deu-me banhos inteiros de lisergia. O que tem tudo isso relacionado com o começo deste dedo de prosa? Existe algo mais lisérgico que o tempo? É assim: o futuro acontece a todo momento em que o presente deixa-se tardio e se reconhece passado - o que em geral acontece entre os menores intervalos de tempo (que se pode medir). O presente é tão pequeno que nem deve ser considerado como um tempo. Tudo que se pensa ou é passado ou é futuro, e não há como não ser. Quando pensamos em algo do presente, já foi o tempo. No entanto, é sempre o que se vive. Vive-se neste intervalo tão pequeno que logo deixa de existir, mas é só o que realmente existe - é sempre presente!
Vá lá entender... uma boa conversa sobre nada faz-se necessária. Tanta filosofia barata em tão poucas linhas é algum sinal de um sonho no mínimo diferente, mesmo que se venha a dormir tão poucas horas. Por que quando dormimos, com certeza o tempo se atrapalha todo e nunca se dorme o suficiente. Mesmo quando se acorda atrasado.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Hora de se Dormir

Eu gostaria de ter todas as idéias que tenho em meus sonhos, ou mesmo as que tenho quando estou simplesmente deitado. Surgem idéias de todos os níveis, tão boas como as que nunca mais escreverei. Mas estou tão cansado para me levantar e escrever, ou então amanhã tenho que me levantar tão cedo... Sei que talvez eu fosse até um bom escritor se pudesse eu recordar-me tudo que tive de idéias.
Mas aí vem um outro dia, tenho que pensar em mil coisas, e deixo um de meus amores para a noite mais densa, para a hora mais alta, onde a escuridão é trajada de uma inspiração imaculada, tal qual a que se teria após uma jornada de um mês no lado escuro da lua. É aí que tenho os sonhos mais interessantes (talvez). Queria eu ter a força de vontade de Dalí, que pintava os sonhos mais surreais (com o perdão de algum trocadilho que possa vir a surgir) ao deixar-se despertar de um sonho. Queria eu, em verdade, me dotar de grandes idéias, mas tudo que consigo são palavras falsas e promessas do que jamais vou vir a ser.
O estranho é que ainda me fascino pelo fato de acordar. É como se me sentir vivo trouxesse aos meus sonhos mais intrínsecos e profundos um novo caráter, adquirido aos poucos dentre os míseros intervalos entre os segundos. Por que tenho absoluta certeza de que não sou hoje o que fui a um ano atrás. Se sou melhor ou pior, não me basta que eu me julgue, pois será este um julgamento sempre deturpado. Mas o fato de sonhar e acordar me faz querer dormir uma outra noite, a fim de me descobrir em algum sonho, e o fato de eu acordar, me faz realmente me redescobrir, me faz olhar com outros olhos o simples fato de que no dia que desistimos de acordar é o dia que morremos.
Talvez seja isso a morte: um sonho tão bom de se sonhar que nos esquecemos de acordar. É também uma boa perspectiva para um pós-vida, para alguém tão pouco religioso que sou.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Independência

A independência (parcial) do Brasil não aconteceu em 7 de setembro de 1822. Acenteceu em 28 de agosto de 1979!

Não deixa de ser mais do mesmo

Ficou determinado que tudo que se escreveria deveria ser sobre amor, da sociedade, críticas, intimismos ou estudos. Talvez eu também gostasse de escrever sobre o botão da televisão - que eu nem tenho - que está quebrado. Ou como o dedo quebrado me atrapalha a tocar o violão. Tenho uma internet estupidamente rápida, mas nem tenho forças para escrever sobre coisas tão cotidianas. Até que deveria ser fácil, mas daí seria difícil criar alguma expectativa ao leitor.
Em contraste a tudo que eu disse aqui, parece que voltei para a minha problemática inicial, indo de encontro a alguma crítica que eu faria. Critiquei, estudei e falei de mim mesmo. São, então, três crimes. Para reduzir a pena, falarei do dedo quebrado. É realmente estranho como não poder mexer o dedo atrapalha coisas tão banais, como digitar um texto, usar talheres ou mesmo escovar os dentes. E olha que foi um dedo que só serve para pôr anel. Nem para ser o dedo que manda alguém à merda. Pouparia trabalho, pois ele já ficaria ereto.
Mais um pouco de palavras, e mais um crime: mais uma crítica. É que também fica difícil ser do tipo resignado, que não fica do lado contrário na maioria das vezes se uma das coisas que nos diferenciam dos animais são os polegares opositores. Já nascemos para ser teimosos. Vou parar por aqui, que já estou condenado a uma vida inteira de textos sobre as mesmas coisas. Quero ainda me redimir para a próxima vida.

sábado, 5 de setembro de 2009

Alcebíades Vaz de Carvalho

Acordou morto. Obviamente que não acordou, pois estava falecido, por assim dizer. É só que amanheceu o dia e estava lá, prostrado na cama já com alto sol - e ele, então, que sempre acordou antes das 5. Totalmente inesperado. Sem sinais de doença, ataque fulminante, cataclismos nos pulmões, edemas, e muito menos derrames. Parecia uma vida que tinha mudado de idéia. Simplesmente tomou o outro rumo - o oposto.
Era daqueles que sabiam usar o tempo. Tinha uma boa empresa, no cafundó de algum interior. Custo de vida barato, simples, era conhecido e respeitado na cidade. Usava um chapéu e, apesar da simplicidade, detinha bons capitais. Saía de tarde da empresa, encontrava alguns funcionários para uma cervejinha. Aos finais de semana, um futebol com os diretores da empresa. Nas férias, viagens breves e bem aproveitadas para o exterior.
Não se sabe como e nem onde, endividou-se. E aí deixou morrer-se. Nunca deixou ninguém saber - confiavam nele. Ele adorava que as pessoas se apoiassem nele. Mas os que sabiam ser amigos. E, sendo o ágio extremamente ágil, faleceu de maneira que os Sicilianos de Puzo sentissem inveja dos projetistas de tal arquitetura.
Uns, diziam, com todo o pesar que sentiam por quem os tinha acolhido, algo meio que assim: "Abutuô o Palitó. Por quê é que dexô a gente sem nem avisá? A gente fazia uma dispidida bem bunita". E até podia se ver um brilho ocular seguido de um filete de água que lhes caía das vistas. Outros, enquanto isso, diziam: "Veio a óbito nosso saudoso amigo, dono não só de patrimônios, mas de corações. Devemos agora continuar seu sonho, redividindo a empresa, fazendo-a crescer como ele gostaria de ter feito em vida". De modo todo cerimonioso e solene, como um locutor de rádio que anuncia alguma morte. Uns, tomavam com ele cerveja. Outros, jogavam futebol. Uns, nem sabiam falar corretamente. Outros, só sabiam de cerimônia - que, neste caso, é sentimento só para inglês ver!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Insensível

Sinto muito se sou tão frio.
Se eu não sofro demais,
não choro demais,
não sinto demais,
não amo demais,
não morro demais.

Sou assim,
e é isso que sinto.
A falta de sentir.

Desculpem-me se vos falo
com tamanha franqueza.
Não tenho escrúpulos,
mal chego a ter
sentimentos.

Em meu coração de pedra
habita a sábia distinção
tão mecânica de cada sentimento.
Mas não, ali não moram os sentimentos.
Estes vagueiam por algum lugar longínquo
tão distante do meu conhecimento
que mal me preocupo em achá-lo.

Há em mim
esta réstia de bom-senso.
Sei o que deveria estar sentindo,
mas nada me vem.
Nenhuma lágrima,
ingrata!

Em meu mundo
nada à flor da pele,
admiro em prantos
a amizade cultivada,
os bons amigos que fiz
e que para sempre levarei,
os amores que deixei,
mas não posso dizer,
nem por um momento,
que o faço com todo sentimento.
Fico devendo, e muito,
por isso.

Faço com algum pouco sentimento,
mas faço sabendo
que tudo isso
é o que tenho de mais caro
em todo o mundo.
Pois minhas idéias
se esvairão,
esmaecerão.

E os amigos, amores,
pais, irmãos, família,
colegas, e todo o resto?
Guardo meu pranto e meu sentimento,
as lágrimas jamais derramadas
e as declarações jamais escapadas
para quando
de um ombro precisarem,
um silêncio mútuo apreciarmos,
para quando o tempo nos for escasso.

Guardarei dentro de mim
sabendo que por mais insensível,
eu vos amei a todos,
e não sei para onde os levarei,
mas sei que sempre os levarei.

Homenagem a estes que me lêem antes mesmo que eu pense no que escrever!

Na mesma (tecla)!

Existencialismo é muito chato.
Por que quero saber
tudo de mim?
Por que quero saber
o porquê e o porquê
das coisas e da vida?

Por que não posso simplesmente
fazer o que quero,
já que é tudo da lei?

Um dia,
um que lê o que escrevo,
se cansará de ler,
e com razão.

A tecla em que bato
é sempre a mesma,
aperto, aperto, aperto,
e ela não apaga a marca.
Ela não fica muda,
continua escrevendo.

Quando é que vou
fazer o que penso,
e não o que eu penso
que os outros fariam?
Quando é que vou aprender
a escrever sobre outras coisas?

Sei o que vou ser.
Serei aquele velho ranzinza,
falarei de coisas da vida
que ninguém escutará,
aquelas asneiras de um velho tolo.
E me acharei um sábio incompreendido.

Não sei o que fazer
quanto a mim mesmo.
Ou comigo mesmo.
Onde está a gramática?
Nem a conheço mais.

Queria era acordar
com uma delicada mão em meu rosto,
um beijo em minha boca
(apesar do hálito)
e uma certeza
de que tudo isso era para sempre.
Daqueles "para sempre" que não se acabam
nunca.
Nunca.

Enquanto isso,
fico aqui entendiando
os meus dedos
que até já sabem de cor o que escreverei:
coisas sobre mim,
meus sentimentos,
tudo que é mais doloroso
ou mais prazeroso,
tudo que sinto,
um pouco do que sou
e talvez
muito do que eu
queria ser.

Abraços a todos
que conseguiram até aqui
chegar!
Bons dias!

Orgulho

Por que foste para mim
não mais do que uma qualquer;
não menos do que um desprezo
provindo da mais profunda
vontade de te amar.

Mas como amar-te, se,
em verdade,
quando olhava em teus olhos
era meu reflexo que eu procurava?

Em cada gesto teu
era como se estivesse eu
diante de um espelho,
torto.
Eu me via de um jeito
completamente diferente,
distorcido.

Adoro quando meus olhos têm
o que os teus procuram.
Pois é aí que hei de saber
quanta verdade
escondes sobre estes negros olhos.
É aí que sei
se tens um outro,
se não sou único.

Afinal, não sou o único
a ser egoísta.

Posso dizer
sem nenhum remorso,
que amei-te.
Mas saiba
que só te amei
por que foi nesse momento
que me apaixonei por mim mesmo.
E nada muda isso.

O tempo passou,
E tudo que restou
(tudo que em verdade sempre houve)
foi este amor-próprio.
E este orgulho.
E é no fim do mundo
que algum dia
eu volto a te procurar.
Talvez nunca.
Se quando me entreguei,
todo desprevenido,
você não quis,
por que hei de querer-te um dia,
novamente, agora que sou capaz
de me amar?

domingo, 30 de agosto de 2009

Objetos Comuns

Talvez seja tudo
como um sapato sujo.
Fica todo encardido,
levando um pouco de terra
de todo lugar em que passa.
E pisa.
E também deixa marca.
Deixa a digital, a impressão
em 3D.

Ou talvez seja um esparadrapo
também encardido
de sangue
tirado de alguma boa história
a ser contada meses depois.
Seja trágica, cômica,
ou até mesmo cônica,
levando àquele inevitável ponto
onde todos são convidados
à mais profunda reflexão.

Pode, ainda,
ser uma garrafa de cerveja.
Com uma leve embriaguez,
e uma marca de alguma boca
que carregava um bom beijo,
uma rara fuga da lucidez,
uma parcela de boemia
e um bocado de risos
e de vidas compartilhadas.

E por que não um par de roupas,
tiradas tantas vezes
em momentos de intimidade,
vestidas cuidadosamente
para a atração fatal,
a fêmea fatal,
os amores de nossas vidas?

Ou então um travesseiro,
todo babado de noites bem dormidas,
todo remexido de noites mal dormidas,
todo arremessado
de noites estressantes,
todo arremessado
de noites alucinantes...

Pode ser
a música de fundo
que faz a vida parecer um filme
às vezes bem hollywoodiano,
às vezes um tanto francês,
neo-realista,
mudo e em preto-e-branco.

É um pouco disto tudo,
talvez,
a vida.
O tênis suja, gasta, descola.
A garrafa acaba,
fica jogada num canto,
esperando ser quebrada,
a roupa mancha,
o travesseiro amolece,
o mocinho vence o bandido.

E passa.

Tudo.

Mas nem por isso
deixarei de tomar cerveja
(e farei antes que ela esquente),
ou ver filme,
ou usufruir de tudo que já disse.
Um dedo quebrado é mais uma história,
uma dor
que também passa.
E se o dedo ficar torto?
Não me lembrarei da dor,
mas sempre que o vir,
lembrarei de algo,
é como uma gravação permanente.
É só a vida
com toda a vontade de viver.

domingo, 23 de agosto de 2009

Frases do cinema

Godard também merece seu espaço. A frase faz mais sentido assistindo-se ao filme, muito bom, por sinal.

"-Je ne sui pas infâme, je sui une femme", traduzida por: "Eu não sou infame, sou uma fêmea". Em francês têm quase a mesma pronúncia. O filme vale a pena também pela linda Ana Karina, uma das musas de Godard.

That's all, folks!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Mentiras

O estranho é que já tive vontade
de escrever coisas
que nada têm a ver comigo.
E até escrevo.
Talvez seja a sequência
das palavras
que me fascinam.

Tolos os que por vezes
acham que me decifram
por tantas tolices (ou não)
que digo por aí,
em textos e poemas
tão vazios,
cheios de coisas bonitas,
infundadas.

Não que eu não seja nada do que escrevo
(nem sei o que Freud diria disto),
e nem que eu seja mentiroso.
As palavras saem,
minhas mãos coçam;
eu as escrevo.

Depois vejo se dizem algo.
Será que estas dizem?

Mas também,
que me importam
os julgamentos alheios?
(ou o que deveriam me importar?)
Tudo que sou é o que faço,
o que sinto,
o que levo para mim.
Não sou o que digo,
tampouco sou o que pensam,
tampouco vos engano,
só não sou tão simples assim.

Posso ser às vezes,
mas não sou sempre.
Previsível,
mas posso surpreender.
Não sou o que o papel diz,
mas não sou mais
do que ele diz.
Pois aqui, sou a melhor das pessoas.
Sou o que sente,
o que ama,
o que vive,
o que se embriaga,
o culto, que vê filmes,
lê histórias incríveis,
romances, novelas,
contos, dramas...

Mas, no fundo,
talvez eu não passe
de um jovem garoto do interior
que se deslumbrou
com o tanto de mundo
que ficou guardado
abaixo do céu!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Caixinha de Surpresas

Eu estava ali sentado, naquele ônibus (que por acaso estava atrasado), e toda aquela chuva a deixar o dia cinza continuava a contaminar a clareza das nuvens brancas e o céu todo azul acima delas. Dei sorte, havia um lugar para eu me sentar. Daqueles que é de uma poltrona só, ninguém se sentaria do meu lado. Eu só queria escutar música, curtir a melancolia deste dia. Escoro na janela, sentindo o vento gelado (eu estava sem blusa de frio) penetrando por todas as frestas. Dou um olhar rápido como quem não quer nada, e vejo algo que me agrada. Pensando bem, até me tirou a amargura daquele dia. Até que os dias cinzas também podem ser bonitos...
Ela tinha cabelos curtos, louros, mas não de um tom cansativo, e sim uma profusão de louros, uns mais claros, outros menos claros, nada muito chamativo. Pareciam discrição. Mas logo percebi também as curvas. Fui descendo o olhar dos cabelos, e vi uma nuca que ensaiava um aparecimento, mas bem discreto. Parecia também bem macia, e que se arrepiaria toda ao mais leve toque. E tinha também aqueles ombros delicados, sem nenhum excesso, cobertos por uma blusa preta, ou camiseta - só me lembro de ser preta, e tampouco sei diferenciá-las. Um pouco mais abaixo, possuía uma vista agradável. Aprazível, eu diria. Tudo muito bem coberto por calças xadrez de tonalidade cinza, e ainda mais abaixo, um All Star branco.
Sabia que era isso que eu queria, afinal. Eu sabia que se eu cantasse para ela "try to set the night on fire", ela revidaria alto e bom tom com um "come on baby light my fire", e tudo afinal acabaria com "lingers long on love street". Ah, seria felicidade. Uma beldade como aquela com uma cabeça muito acima do próprio umbigo, e o nariz apontando para frente, e não para cima. Alternativo, mas sem ser demais. Só não precisa ser exagerado, sei lá. Precisa ter algo diferente, mas sem ser contra tudo, sem radicalismos. Parecia tudo tão perfeito...
Até que ela se virou. As mulheres que me perdoem por ser tão superficial, mas acabaram-se todos meus planos. Era tudo tão perfeito, por que não poderia ser bonita? Não fazia meu tipo, tinha cara de carrancuda e de poucos amigos. Parecia ser bem alternativa. Do tipo excessivo. De poucos amigos, e intolerante com idéias diferentes. Não tinha bons olhos para as coisas, talvez algo a fizesse odiar o mundo todo. Ou talvez seja meu preconceito - que tento me livrar fortemente. Mas não me agradou. Me levantei, desci um ponto antes (que diferença faria andar uns 30 metros a mais?) e fui andando. O que mais poderia esperar eu de uma chuva tão feia?

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Pac-Man


Genial a sacada, não? Pensarei 2 vezes agora antes de jogar Atari novamente!
Ou talvez eu pudesse reescrever com a seguinte pontuação:
"Genial a sacada! Não pensarei 2 vezes agora antes de jogar Atari novamente!"

domingo, 16 de agosto de 2009

Vívido

Minhas mãos escondem
o punhal que há de me trair,
e minha cabeça guarda
a cicuta que há de
me roubar a vida.

Bebo o álcool
da redenção embriagada
ébria
e sombria.

E aí vejo meu algoz,
trazendo o meu humilhante julgamento,
perverso e cuidadosamente
prescrito por mãos ferozes,
sedentas pelo meu sangue.

E o que é tudo isso,
que me assusta,
e me faz corar,
me faz tremer,
me enfraquece as pernas,
me leva para além
da além-vida?

Esta é talvez a resposta
que venho procurando,
e que no fim,
nunca vou acabar encontrando.
Os nossos medos mais profundos
sempre serão ocultos,
talvez para que não tenhamos
coragem de enfrentar o mundo todo,
ou tudo no mundo.
Enfim, tenho esta busca eterna
que talvez me mova,
me faça acordar
e me faça ter vontade de viver mais um dia.
A cada dia, um vontade que se renova.

Sei que são estes desejos
insaciáveis que são minha ligação
com o infinito,
com a noite
e o céu completamente estrelado,
que deixa tudo escrito,
mas que nos deixa analfabetos.
Lindo, e misterioso,
como todos os medos em mim
guardados.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Camapanha anti-twitter

Totalmente de acordo com meu companheiro de devaneios, de escritas e também de histórias, aderi à campanha. E com todo meu sentimento, além ainda disto, com todo meu consentimento. Ou talvez um co-sentimento. Se é que essa palavra existe. Um pouco de embriaguez e já não sabemos se o que escrevemos é certo. Enfim, quando eu tiver algo realmente relevante a escrever contra, escreverei. Por enquanto, só estou me posicionando. É como uma eleição. Só tenho uma coisa a dizer:
Anti-twitter - 1 seguidor!

Troféu Bexiga de Ouro

Está dada a largada. Quem tiver o mais branco ganha. Eu 1 x 0 Borysbutt. Borysbutt é o cara que escreveu essa genialidade à la Maurício Campos - e estou totalmente de acordo. http://transpiratorio.blogspot.com/2009/07/campanha-anti-twitter-i.html (alguém além dele lê esse blog? Pra quê o link, então ô anta?) Nome do prêmio dado pelo nosso querido Marcelo Lauria, o Marcelinho Perdigão.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Jogos Internautas

O mundo on-line é mesmo interessante. Nenhum vidente jamais teria visto nada assim nem na mais cara bola de cristal vinda da galáxia de Andrômeda. É tudo muito dinâmico, se está em vários lugares ao mesmo tempo, blá, blá, blá...
Mas tem certas bizarrices. Por exemplo: você e seu orkut - e neste "você" eu estou incluso. As fotos no profile sorrindo, tudo muito sociável. Um amigo muda de cidade, vai para longe, resolve-se (vamos colocar agora um sujeito indeterminado, para evitar problemas) mandar um depoimento para ele. "Estou com saudades, vou sentir sua falta"; alguns apelam demais: "não sei o que farei sem você, minha vida dependia de você", mas isso não vem ao caso. Manda-se um depoimento com todo aquele tom de saudade, mas ainda estamos com aquela foto toda sorridente. Trata-se de uma hipocrisia virtual. Continuo sempre mantendo essa pose sorridente, mesmo nos piores dias - e isso faz de algo que se tornou tão cotidiano, algo impessoal. Não nos transparecemos, a não ser que o queiramos.
Sei lá, só achei estranho ler depoimentos dizendo que sente a falta e olhar a foto da pessoa, sem um pingo de preocupação. Mas como isso seria contornado? Tenho até medo do dia em que a internet possa mostrar nossos rostos da maneira como são a cada momento, sem que tenha que ter uma webcam nos filmando. Pois mesmo na webcam, se falamos com um amigo que está distante e ao mesmo tempo com uma namorada, por exemplo, mostraremos a mesma cara aos dois. E acho que na prática não seria bem assim.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A Cor do Objeto

Eu poderia começar este texto de várias maneiras. A primeira e mais convencional é expondo uma idéia ou algum personagem logo de cara, explicando o que será a história, desenvolvendo-a e dando um fim a ela. É antigo, mas funciona. Seria assim:
"Ainda bem que peido não tem cor. Imaginem só, como seria? Nossa privacidade a todo momento de flato invadida." Daí eu falaria de como tudo seria injusto, mas em certo momento questionaria se é tudo aquilo que eu teria falado, e, no entanto, ao final, eu teria concordado com a minha idéia inicial.
Bom, eu poderia ainda começar de um outro jeito. Poderia ser um diálogo, e os personagens nem precisariam ser os convencionais. Poderia ser, por exemplo, duas nádegas conversando:
"-Eu vi isso, hein!
-O quê?
-Não sabia? Foi decretado que peido agora tem cor!
-Sério? Me fodi!
-Rá! Trouxa! Joguei verde, colhi maduro!"
E também me basearia na mesma idéia: a cor do peido.
Mas também poderia ter escrito um poema. Mas não falaria do peido logo no início. Primeiro eu reclamaria de algo. Da sociedade, por exemplo. Falaria de consumos, insumos, da mesmice, do niilismo, e no final, para amenizar, agradeceria a incoloridade do peido, faria um agradecimento solene à Natureza, ao(s) Ser(es) Supremo(s) e ao Acaso, cobrindo assim toda a gama de crenças.
Mas não é o início que torna um texto grande, um texto bom, um texto interessante - nem de longe tenho com este tal pretensão - e sim, o final. Pode ser um final feliz convencional. "Como o mundo é belo; apesar de todos os problemas, sou feliz - peido não tem cor". Pode ser um final filosófico, deixando no ar alguma questão relacionada ao tema: "não seríamos melhores? Talvez não precisássemos termos vergonha de nossos flatos, sendo estes, assim, coloridos, de domínio público?" E ainda questionaria a represália com relação aos nossos desejos naturais. Ou então - hoje em dia virou moda - o tal do non-sense. Eu diria: "Se peido fosse colorido e água tivesse cheiro, peidar n'água seria arma química!" Eu sei que ficou horrível, mas não tenho muito tino para non-sense.

Abriu a porta do banheiro, depois de 15 minutos de devaneios, estava a namorada à espera no hall, para acompanhá-lo à sala de jantar, onde o esperavam o sogro e a sogra, para serem apresentados. Maldita hora que tinha aquela vontade incontrolável de ir ao banheiro (número 2, para ser sutil). Tinha jogado o purificador de ar (famoso "bom-ar"), lavado as mãos, tudo cheiroso, nenhum rastro da "obra" - a não ser os 15 minutos de reflexão. Respirou aliviado e pensou: "ainda bem que peido não tem cor!"

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Questão

Por que todo diretor de cinema italiano (tudo bem, não é todo, mas assim faz mais sentido!) tem de ter iniciais duplas?
-Federico Fellini;
-Bernardo Bertolucci;
-Roberto Rossellini!

Estranha coincidência, não?

terça-feira, 21 de julho de 2009

A resposta está no último verso

É algo assim,
que como se morrendo,
vivesse.
De olhos abertos,
é insuportável.
Acordar é terrível.
Mas nem dormir se consegue.

A questão é:
quando eu estiver limpo,
vou querer limpar
todo o resto?
E o medo de acabar me sujando...
de novo.

Por isso se pode dar um nome,
apenas um:
ressaca!

domingo, 19 de julho de 2009

Frases do Cinema (Revolutions...)

Hoje assisti 2 filmes do Woody Allen, e uma sessão de frases do cinema sem Woody Allen não pode ser séria. Então, aqui vai uma de cada filme:
-"Nunca tive um relacionamento com uma mulher que durasse tanto quanto o de Hitler e Eva Braun" - Woody Allen em "Manhattan"

-"O coração é mesmo um músculo muito elástico" - Woody Allen em "Hannah e suas irmãs"!

Vale a pena ver. Um dos mestres, realmente!

A Regra do Jogo

Gosto de jogar o jogo
com quem sabe jogar.
Pois é assim, é melhor assim:
sabemos as regras,
e vamos adiante.
Partimos desse pressuposto:
o de que sabemos jogar.

Como um diretor
que dirige um filme
como se fosse a própria
vida criando vida.
Muda, transforma,
cria, desentorta.
Tira dos atores
a essência.

Como os atores
que deixam de ser gente,
para ser papel.
Para ser imagem.
Sabem as regras,
e jogam.

Por isso não gosto das palavras.
São ineficientes,
não conseguem dizer.
Por isso a criatividade
se sobrepõe.
É preciso jogar com as palavras.

Até que gosto deste jogo:
tenho uma tela, umas teclas,
algumas idéias
e um pouco de vida.
Mas ainda estou a aprender.
Quais são mesmo as regras?

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Amor próprio

Acordei. Levantei com aquela cara toda amassada, com um gosto horrível na boca. Hoje nem era dia de acordar; melhor mesmo era ter ficado dormindo. Mas não consegui. Fui em direção ao banheiro, e já senti que haveria um desentendimento. Olhei aquele estranho pela janela que dizia coisas horríveis. Por Deus, eu devia estar dormindo mesmo, que nem janela era; falava eu ao espelho. Como poderia, entretanto, dizer tantas asneiras que eu jamais seria capaz de concordar?
Decidiria que ficaria o dia todo sem falar com este estranho de cara amassada - que era eu. Nem em pensamento. Eu daria uma trégua de mim mesmo, era esse o meu castigo. Saí de casa com todas as minhas coisas. Totalmente em silêncio, nem uma palavrinha, e tudo um breu em minha mente, para não correr o risco de fugir do castigo. E foi realmente difícil não tecer nenhum comentário quando vi aquela linda mulher atravessar a rua, como que ignorando os carros, que de modo algum poderiam ignorá-la.
Mas tive que me segurar. Ela era linda, mas eu merecia. Foi então que resolvi andar mais rápido, para prestar atenção nos meus passos bem ritmados. Sou sem ritmo de tudo, não consigo nem cantar os parabéns que já atrapalho todos os outros com minhas palmas fora do compasso. Mas para andar, tenho um ritmo muito forte. E isso me distrairia.
Nem percebi como eu era teimoso. Queria mais que tudo falar-me, mas não podia. Não devia. Mas eu queria. Não sei quem foi o louco que disse que louco é quem fala consigo mesmo. Travo diálogos brutais e intermináveis diariamente comigo, penso no mundo e penso comigo mesmo, para não me sentir muito sozinho. Assim, tenho um diálogo, pois até que sou bom ouvinte. A parte que pode me fazer passar por louco é que eu nem sempre concordo comigo. Ou é que gosto de ser meu advogado do diabo, e é isso que nos trouxe até esse ponto. Um auto-desentendimento de proporções homéricas. E eu nem lembrava mais o que eu tinha dito. Estava sonolento, só sei que foi horrível.
E sou tão teimoso que mesmo não me lembrando continuo meu voto de silêncio, se é que pode ser chamado assim. Mas percebi que passei a me conhecer um pouco melhor. E acabo por me apaixonar mais por mim mesmo a cada minuto que passo longe de mim. Acho que tenho um relacionamento como se fosse um namoro; às vezes preciso de um tempo de mim mesmo. E é sempre difícil, mas necessário.
Volto para casa, me recomponho, abro uma cerveja bem gelada, faço um brinde - que beber sem brindar, sete anos sem transar - pergunto como foi o dia, e aquele (ainda) jovem ao espelho só me diz: "solitário". Me arrependo, mas ainda assim achei necessário o que fiz. Bastou um gole da gelada para tudo voltar ao regime permanente de todos os dias, fizemos as pazes, e até me admirei um pouco no espelho. Eu parecia diferente, pois, como dizia Raul, a chuva voltando pra terra traz coisas do ar.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O Surgimento do Universo

Diz-se futuro
algo que não foi,
ainda que previsível
como uma moeda
de dois lados iguais
aos que ela não possui.

Avançam sobre as horas
monstros mitológicos
tão antigos
quanto o tempo
onde os sons diziam luzes.

Luzes tão fortes quanto
os átomos que relutam
em se deixar entender pelos homens.
E daí enchem-se de perguntas novas
sem nem saber o que significam
as antigas.

Nesse paraíso
tão endêmico
vê-se surgir pandemias
tecnológicas incalculáveis,
cheias de ser ou não ser.
Cheias de um prazer
indissociável
à mais sublime
-simples-
arte de existir.

E foi nesse tom de manhã
que acordei
sem me dar conta
de que todo o mundo cabia num sonho,
tão grande quanto
o universo se expande,
mas tão pequeno
quanto minha cabeça suporta.

sábado, 11 de julho de 2009

Nada, nada

Não sei por quê
mas parece que tem sempre
fantasmas a me rodear.

Não sei por quê,
não consigo fazer nada.
Não sei o que pensar,
o que fazer, o que dizer,
nem o que escrever,
e acho que por isso
estou escrevendo.

Este é mais um daqueles poemas
em que não digo nada de nada,
mas continuo escrevendo
para ver no que vai dar
e se me lembro de estar vivo.

O difícil mesmo é saber
se são fantasmas do passado,
se são ainda presentes
ou se são do futuro.

Por quê nem às 3 da manhã
não durmo?
Deveria ter algo
para dizer
o que estamos sentindo.
Brincar de ser gente grande
é mais difícil do que
eu imaginava;
quero colo
e quero ter 5 anos.

Vou desembestado
por não saber como ir.
Vou dormir
por que um dia
preciso acordar.
Boas noites, então!
Até outro dia, quem sabe...

Rascunho

Rascunho.
Rasgado e jogado.
Num cantinho ali,
daquela pequenina sala,
ele permanece.
À espera de ser
um grande texto.

Jamais será.
É um rascunho
rasgado e jogado.
Longe dos olhares
sedentos de leitores.
Julgado e subjugado
pelo gosto incrédulo
de seu feitor.

E aquela menina
que tão pouco leu,
que tão pouco sabe,
não poderá mais se emocionar
com suas palavras simples
de rascunho,
de incompleto,
pois jamais será
mais do que um simples
papel amassado.

Tão pobre de conteúdo,
tão pouco a dizer
-é apenas um rascunho -
mas alguém haveria de lê-lo,
e talvez daria uma boa história.
Ou não.

Afinal, é isso que os rascunhos são:
incompletos,
para que possamos contemplar
todas as infinitas histórias
que podem vir a ser.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Línguas, o que dizem?

Vieram todas as línguas. Esta haveria de ser a maior confraria já realizada entre todas as línguas. Haviam papéis e tratados a serem assinados, convenções a serem assassinadas, colocar ordem em tudo desde que tudo ficou fora de ordem, quando da construção de Babel. Todas as línguas se entreolharam, procurando semelhanças, tentando se entender. Houve um tempo que a moda era cada uma ficar no seu canto, egoísta e cheias de xenofobismo. Mas aí os homens instauraram o que seria chamado de Globalização e lá foram as línguas tentarem se adaptarem aos ensejos humanos.
Chegou o Alemão, com toda essa pompa de imperativo, sempre parecendo com intenção de dar ordens, sem uma sonoridade agradável, mas cumpridora dos seus objetivos. Cheios de regras e de "não-me-toques". O Italiano, sempre do mesmo jeitinho, um latino garboso, falastrão, no bom sentido da palavra, sempre altivo e tentando se sobressair com tons elevados de voz e com uma sonoridade penetrante, bem arrastada. O Japonês, o bom e velho Japonês. Calmo, desde que tudo esteja em ordem. Explode com facilidade, e logo se recompõe. Mas sempre em staccato, dando fortes ênfases em suas consoantes. O Português, com seu tom de saudade e com suas infinitas conjugações verbais, o que lhe dá um ar um tanto quanto culto, rebuscado, e bem sonoro, também veio. Aliás vieram o Português português e o Português brasileiro, a fim de acertarem contas antigas. E assim vão chegando as línguas, com suas tantas diferenças e dificuldades de se acertarem e de se comunicarem.
Até que chega o Inglês. A noite é dele. Ele vai ser coroado a Língua das Línguas, título só dado até então para duas línguas: em 58 a.C. para o Latim e em 1789 para o Francês, cheio de charmes e bicos e todo o romantismo do mundo concentrado em si. Não tinha lá tantas qualidades. Era uma língua na média, apesar de extremamente pragmática. E agora todas as línguas a respeitariam. Cantariam músicas e encontros internacionais seriam presididos neste idioma. Todos sucumbiriam às suas idiossincrazias. Corriam boatos até que as outras línguas morreriam, as mais velhas e as mais novas. Até os dialetos africanos, que ainda nem descobriram os tempos passado e futuro. E assim ficou estabelecido: o Inglês era agora o idioma internacional. Era só questão de tempo até todos acostumarem. Dizia-se que em cerca de 10 ou 20 anos, seria a única língua falada. O que era uma pena para o pobre Esperanto, que assistia tudo ali, mas tão caladinho, tão novinho e sem experiência. Fora criado para esse propósito, mas era muito anormal, muito artificial. Diziam que era o robô das línguas.
Um tempo se passou, cada uma das línguas mudou sutilmente, que o tempo age também sobre elas. O Inglês tem problemas em se definir europeu ou americano, mas ainda assim reina. Mas os idiomas insitem em deixar-se imunes, continuar existindo, se adaptando, até, à nova situação. Tudo muda um pouco, mas cada peculiaridade diz respeito a um povo, uma cultura. E cada vez que se tenta unificar tudo, com o tempo, mudará. Por que isto está em cada local, em cada grupo, em cada ghetto, e cada distância física ou cultural, acaba por impor forças que estão além de todo esse pragmatismo sempre alerta do ser-humano.
As línguas são soberanas de seu povo, e seu povo soberano de suas línguas.

domingo, 5 de julho de 2009

Malícia, o País das Maravilhas

Tinha 12 anos. E, nesse dia específico, aos 12 anos, 3 meses, 23 dias, 11 horas, 15 minutos e 26 segundos de vida, por algum acaso, tudo mudou sob seu ponto de vista. Sexo acabara de deixar de ser apenas uma palavra engraçada, e tinha um significado a mais, algo como um arrepio, mas não aquele de frio. Apesar que esse trazia ainda um friozinho na barriga. Mas não era a mesma coisa. E se apaixonou pelo sexo. Primeiro, pelo seu. Admirava o seu sexo como algo seu, como um filho que criava. Ficava comparando de um dia para o outro para saber se crescia. Depois, começou a reparar em algo que antes era só diversão: garotas. Ainda não tinha intenção de praticar sexo: era uma recém descoberta. Mas já passara a admirar as coleguinhas. E sabia que algumas ali já beijavam. Ah, como devia ser boa a sensação de beijar... já lhe vinha aquele arrepio e o friozinho.
Ficava acordado até horas avançadas da noite, pensando em como era o mundo crescido. E pensava em como era tolo antes por não sentir as coisas como as sente hoje. Não sabia como poderia viver sem aqueles arrepiozinhos, sem aquela vontade de fazer algo escondido de todos, atrás de algum lugar onde deixasse ele escondido com a garota mais bonita da escola. Daí ele pegaria na mão dela, bem firme, por que se fosse de leve, ela veria que ele está tremendo. Ainda adorava as brincadeiras de pique, mas agora não vivia só daquele momento. Acho que é isso o que muda: antes desse dia, não planejava o futuro; encontrava os amigos, saía para brincar, brincava, cansava, voltava para casa, dormia, sem pensar em nada. Agora, tinha de planejar. Tinha de escolher um caminho onde pudesse ver aquela tal menina detentora de sua paixão mais secreta que todas as senhas de bancos. Tinha de observá-la com a cautela de agente federal, pois ninguém deveria saber que gostava de garotas.
Até o dia que foi pego com a mão na massa. Fizeram chacota, tomou bronca dos pais. Isso era muito feio. Era um pecado, e contra a castidade. Chorou, foi humilhado. Riram do seu pobre sexo, seu motivo de orgulho. E agora, sua única descoberta foi discriminada. Se sentiu no lixo, como se tivessem esmagado todo seu corpo com tantas palavras cruéis, depois descartado. Só queria voltar ao tempo em que brincar era tudo o que tinha a fazer. Mas jamais poderia brincar da mesma maneira. Jamais deixaria de ter agora um outro objetivo. Descobriu que existia a malícia, e que ela era, em várias formas, boa. Mas tinha de a esconder. Tinha de esconder seus desejos como escondia que gostava de meninas. E agora nem queria mais esconder. Era o país das maravilhas, esse prazer indescritível que podia agora sentir. Mas não tinha nenhum green card.

sábado, 4 de julho de 2009

Turbilhões, bilhões

Eu queria era saber o que dizer.
Acordo todo dia
dizendo muito de mim
por não ter mais o que dizer.
E fico aí dizendo
asneiras sobre o mundo,
sobre minha vida,
guardando nas entrelinhas
tudo que eu acho certo
sobre mim mesmo.

Eu queria era não precisar de nada.
Nem de amor.
Pois aí, eu teria o mais puro dos sentimentos.
Poderia amar por amar,
simples assim.
Amaria por me fazer bem.
E não pelo vício vítreo
polidamente cravado nas pessoas.

Eu queria só viver, mesmo.
Acordar todo dia
não com algum propósito,
só acordar,
com o simples propósito
de acordar.
Depois pensar no que fazer.

Eu queria toda a simplicidade
da simplicidade,
sem complicações burocráticas
e autocráticas;
só ser,
e dali tirar tudo
necessário à minha
vivência e sobrevivência.

Como é bom ter tempo
para pensar,
mesmo que eu o esteja
desperdiçando tanto,
é bom parar,
pensar na vida simples,
que já não há,
não vejo para mim,
é agora a maré alta,
a tempestade
que deixou a bonança para trás.

Frases do Cinema

Ontem vi um filme que é com certeza um clássico. "O Iluminado" é uma das maiores obras de Stanley Kubrick, com certeza (para mim).

A frase é quando Jack Torrance quebra a porta a machadadas e quando abre uma fresta, ele põe a cabeça entre elas e grita:

"Here's Johnny!"

Já vi essa frase algumas vezes em outros filmes e até na série "Supernatural". A frase foi idéia de Jack Nicholson e era a frase usada para a abertura de um programa de entrevistas de Johnny Carson, muito popular nos EUA.

That's all, folks!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

When I'm Sixty Four

Agora, o original.

"When I get older losing my hair,
Many years from now,
Will you still be sending me a valentine
Birthday greetings bottle of wine?

If I'd been out till quarter to three
Would you lock the door,
Will you still need me, will you still feed me,
When I'm sixty-four?

oo oo oo oo oo oo oo oooo
You'll be older too, (ah ah ah ah ah)
And if you say the word,
I could stay with you.

I could be handy mending a fuse
When your lights have gone.
You can knit a sweater by the fireside
Sunday mornings go for a ride.

Doing the garden, digging the weeds,
Who could ask for more?
Will you still need me, will you still feed me,
When I'm sixty-four?

Every summer we can rent a cottage
In the Isle of Wight, if it's not too dear
We shall scrimp and save
Grandchildren on your knee
Vera, Chuck, and Dave

Send me a postcard, drop me a line,
Stating point of view.
Indicate precisely what you mean to say
Yours sincerely, Wasting Away.

Give me your answer, fill in a form
Mine for evermore
Will you still need me, will you still feed me,
When I'm sixty-four?"

http://www.youtube.com/watch?v=qyv3PJs-KBw&feature=related

Thank you, Beatles!

Paul Mccartney - 64

Achei no youtube essa homenagem ao Paul, achei que seria interessante colocar aqui. No próximo post eu colocarei a original. O link para o vídeo segue abaixo!

“The Beatles’s Paul McCartney is turning 64
All these years gone by
The world wants to send him a bottle of wine
best musician – best band of all times
Even after the Beatles were gone
You never became a bore

Paul we still need you
We even still feed you
Now that you’re sixty four

We are older too
And your fans have spoken
You stay with us and we with you

You were seen handing and “mending a muse”
And ou never lost your hair
From Yesterday to hey jude
You have taken us here there an everywhere

Paul we still need you
We even still feed you
Now that you’re sixty four

….

In your family you live on
Including Ringo George and John

Lets send Paul a card
Drop him a line
A 1942 bottle of wine
When you wrote 64 back in the day
Did you know your 64 was on Fathers Day?

Give us an answer
Will you still tour?
Sing this one till your 94!
Paul we still need you
We even still feed you
Now you’re 64!”


http://www.youtube.com/watch?v=IUbVI8jELY8


Enjoy it!

terça-feira, 23 de junho de 2009

Questão (2)

Alguém entendeu o texto aí de baixo???
Façam suas interpretações. Dou-lhe uma...dou-lhe duas...
Não sei bem de onde veio, mas resolvi escrever!

Questão

-Sabe o que eu queria saber?
-O quê?
-O quê.
-O quê?
-O quê o quê?
-O quê queria?
-O quê queria o quê?
-Mas que quê?
-O quê. Parecido com que, mas era quê.
-Que quê?
-O que queria saber!
-Quem queria saber?
-O que queria.
-Quem?
-Quem quer que quisesse.
-E você?
-Era o que eu queria saber.

terça-feira, 16 de junho de 2009

One Art

Bom, no texto anterior eu citei "One art", da escritora estadunidense Elizabeth Bishop. Vou postar aqui pois ele na íntegra faz muito mais sentido. Um belo poema.
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One Art

The art of losing isn't hard to master;

so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

--Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

Elizabeth Bishop

Perdas, perdas, perdas

Às vezes, parece que está tudo errado, tudo pelo avesso. A vida tem esse jeito meio estranho de nos mostrar as coisas como realmente elas são. A gente começa a se apegar demais em alguém, e esse alguém lhe escorre pelos dedos, como água fria de inverno que tentamos segurar para lavar o rosto. A gente começa a gostar demais de nós mesmos, e aparece alguém para tirar esse amor, para dividir. E aí começa tudo de novo. Até quando? Ainda não tenho maturidade para saber, admito. Pode ser que pare um dia. Nunca aconteceu comigo.
Ainda, a gente quer crescer logo. A gente quer ficar velho. Com 12 anos, a gente quer ter 16 para começar a sair. Com 16, queremos os 18 para poder dirigir e entrar para a faculdade. Com 18, queremos ter 25 para sair da faculdade. E por aí vai. Também não sei o limite disso. Só sei que está tudo errado. A gente quer envelhecer, mas nem lembramos que ficar velho significa ter cada vez menos tempo com cada pessoa que amamos e queremos ao nosso lado. E assim, a gente só vai vivendo, dia-a-dia, querendo que esse maldito dia acabe logo. E quando nos damos conta, terminamos um namoro, mudamos de cidade, mudamos para longe dos pais, dos amigos, isso sem ser muito dramático. E aí, queremos que tudo volte. E não volta.
Vamos fazer novos amigos, vamos namorar de novo, vamos rever nossos pais, dar-lhes-emos netos, e vamos querer que tudo passe logo. Para chegar nas férias, que vão realmente passar rápido. Vamos querer que passe para ver nossos filhos evoluírem nos estudos (será que vai ser assim mesmo?), mas também vamos querer que eles fiquem sempre pedindo colo, pedindo um lanche, aquele doce que só as mães fazem.
E acho que muito do que a gente sofre é por isso. A gente fica com medo de não ter outra namorada, de perder os amigos, de passar pouco tempo com os pais, se distanciar da família. A gente fica com medo de mudar, e pensa demais nisso. A gente tem que aprender a mudar, e queria tanto que alguém mo ensinasse. Aí vem aquela velho, mas não pouco correto, chavão: "a gente tem que sofrer para aprender". E se a gente aprendesse a não sofrer? Pelo menos não sofrer tanto...
Fico pensando agora no quanto a gente tem que se deixar amar alguém, o quanto devemos depender de alguém, o quanto devemos nos prender aos outros, não só cônjuges, mas todos de quem gostamos. Devia ter uma fórmula matemática para isso, algum psico-matemático deveria trabalhar nisso. É só que tudo parece errado: quanto mais nos apegamos, mais nos afastamos... ou talvez seja só uma dorzinha de cotovelo que me faz falar pelos cotovelos. É que é uma noite fria, me demoro a dormir. Eu só queria que o tempo tivesse parado, que tudo fosse uma rotina, mas sem que a gente soubesse que era uma rotina. Difícil explicar, mas é tão claro na minha cabeça. A gente teria certeza que era feliz, por que não haveríamos de saber que não éramos felizes. Pelo jeito vou ter que reaprender a ver tudo como era antes, antes de saber que se podia perder qualquer coisa. Vou ter de aprender a perder. Como disse Elizabeth Bishop:

"--Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster."

É o que vou fazer: aprender a perder. Nada mais justo do que seguir a vida, mostrar-se forte e sentir-se forte, superando tudo que temos que suportar. Mais um velho chavão: e a vida continua!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Precisa-se de poetas

Ah, era só plantar, que dava. Jogava-se uma palavra qualquer, nem precisava ser dessas rebuscadas, antigas, e nascia Camões. Se fosse um verbo, talvez viesse Drummond, mas um substantivo, com certeza era Pessoa.
Em terra tão boa, não tinha ouro, não brotava diamante, nem jorrava petróleo. Mas semente jogada era semente plantada. Mas logo trouxeram os tratores, pisotearam terra tão vasta, cravejaram-na de cravos, pneus, lonas, arados. Virou terra devassa. Assim, de perna aberta mesmo, como essas mulheres de cabaré. Cabarés de Noel, ou mesmo Álvares de Azevedo.
Lógico, não ficou barato. A terra não quis mais ser assim, tão bondosa, tão cheia de substância. Ficou ali, na espreita, guardando tudo que tinha até as próximas das próximas, das posteriores das posteriores das póstumas gerações que a tratassem com carinho, para, então jorrar a essas gerações todo tipo de poemas e histórias que encantariam todas as gerações depois destas.
Mas demorou tanto, que ninguém nem sabia que terra boa era aquela. Uma terra com outrora tantos adjetivos, não continha mais que dejetos, tamanha negligência para esta terrinha.
Um velho lavrador, no entanto, nunca se assusta ao ver tanta coisa bonita escrita entre uma mudinha de poeta e outra, pois é ele quem guarda, ali mesmo, naquele velho sítio, tão pobrezinho e tão cheio de nada, que até parece vazio de tudo, o coração triste a amargurado daquela velha terrinha, que estava lá tanto tempo antes, tranquila em seus afazeres teatrais, em suas mágicas tão virtuais, capazes de gerar vida continuamente dentro de si, mas que agora é usada e abusada, no sentido sexual mesmo, por gananciosos que nem por porcos passariam.
Não, até em porco tem poesia. Mas coitada da terra, já nem sabe mais onde fica. Nem tem mais vizinhas. Mudaram-se, com medo que esse mato podre apodrecesse todas elas.
Precisamos mesmo é de poetas.

sábado, 30 de maio de 2009

Mais uma frase do cinema

"You fuck with me, you fuck with the best!"
Filme: "Scarface".

Aliás, esse filme tem ótimas pérolas.

Melhores Frases do Cinema

Algumas frases do cinema são célebres, e eu pretendo ir anotando as que eu mais gosto aqui no blog, assim não esqueço. Ultimamente tenho visto muito os famosos "film-noir", muitos dos anos 40, 50 e 60. Fases e mais fases. Vai entender...

Aqui vai:

"There's only three ways to deal with a blackmailer. You can pay him and pay him and pay him until you're penniless. Or you can call the police yourself and let your secret be known to the world. Or you can kill him."
Filme: "The woman in the window"; "Um retrato de mulher", no Brasil.

"I love the smell of napalm in the morning..."
Filme: "Apocalipse Now".

"I am big. It's the pictures that got small."
Filme: "Sunset Boulevard"; "O Crepúsculo dos Deuses".

"Say hello to my little friend"
Filme: "Scarface".

"-You know why you couldn't figure this one, Keyes? I'll tell you. Because the guy you were looking for was too close -- right across the desk from you.
-Closer than that, Walter.
-I love you, too.''
Filme: "Double Indemnity", "Pacto de Sangue".

"Uma pessoa é inteligente; o povo é burro."
Filme: "MIB".

Por enquanto são estes, depois vou colocando mais conforme eu for vendo os filmes!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Homenagem à uma distante conhecida

É estranho pensar que em algum lugar, já nos encontramos, e que nos cumprimentamos, nos demos as mãos, essas coisas tão simples. No início, era só uma notícia pavorosa, repugnante. Algo distante, ainda que tenha acontecido tão relativamente perto. Depois, tudo se encaixou. Não era uma simples notícia, mas sim, uma conhecida, um alguém, e não um fato. Não estou a dizer que erámos próximos, talvez você nem se lembrasse de mim. Tínhamos amigos em comum e assim nos conhecemos, e nos tornamos o que seríamos para sempre: conhecidos.
A princípio fiquei tentando relembrar tudo que me remetesse a você, tentando sentir que éramos mais do que conhecidos e me chocar mais com a notícia. Mas vi que isso era idiotisse. Tudo é por si só bizarro, digno de choque, digno de vergonha.
E me sinto ainda mais estranho agora, um estranho prestando uma homenagem. Mas não é merecida? Uma homenagem que não é carregada de toda carga sentimental de um amigo, ou de um familiar, mas sim, uma homenagem solene de alguém distante, que só quer se desculpar, por toda humanidade, que deixou em você todo o peso do mundo, incapaz de ser suportado, pelas tolices e frivolidades que regem uma multidão. Você foi, deixando a marca de que seres tão evoluídos que nos julgamos, ainda não somos capazes de nos distinguir de bois e vacas, sempre a caminhar, sem saber por quê e nem para onde ir.
E como não podia deixar de ser, meus sinceros desejos de que esteja tudo em paz onde você esteja, e que todos os realmente próximos possam acordar a cada dia mais confortados, capazes de seguir em frente sem deixar para trás o que você deixou a eles.

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Uma breve homenagem a Deinha, como sempre a conheci!
Vá em paz.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Twisted thoughts

"and twisted thoughts that spin
'round my head".

É só o que tem sido em minha cabeça
saudades e vontades
que não se acabam.

E esses pensamentos vazios,
tão longes de mim mesmo
e dos meus pés que caminham
para longe desse abismo
que prende o que há
dentro destes ossos
e afasta o que fica por fora.

Louco, não?
É a saudade...

terça-feira, 12 de maio de 2009

Esses meus versos

Um dia convidei meus versos
para virem ao mundo,
apreciá-lo, admirá-lo,
compreendê-lo.

Covardes,
permaneceram.
Sabiam demasiado
do que era o mundo,
naquele pobre mundinho
de palavras jogadas no papel,
escritas por quem
acha que entende de mundo.

Mas, ah, aquele não era o mundo.
Aquele era um mundo
de papel,
plano.
Achatado.
Chato.

Tinham medo,
os versos meus,
desse mundo
de injustiças,
onde amores deixam-se perder,
esquecer-se,
onde o tempo passa
e é escasso.

Não viram a beleza
do mundo vivo,
estes meus versos.

Ah, como dói o amor,
e isto eles sabem da literatura,
mas nunca sentiram
a beleza de se sentirem
maiores depois de superar
tamanha perda.

Nunca viram a força de vontade
de um homem se levantar
dia após dia
sem pensar no que antes o fazia mover.
Não sentiram a beleza
de se renovar,
de serem a cada dia, diferentes.

Também,
ficam o dia todo naquela mesmice.
Esses meus versos,
tão chatos...