segunda-feira, 31 de maio de 2010

Os Mundos em que Vivo

Se fecho meus olhos
e imagino o meu mundo,
saio daqui.

Não posso crer
em enxames de moribundos
costurados em seus ternos
se afogando em dizeres sem sentido
se acabando com drogas lícitas
e se escondendo em medos ilícitos.

Fujo em espírito
e tento me convencer do que acredito
mas teimo em mudar de opinião
quando acho que tenho alguma formada.

Vou a lugares que nunca estive
e que sei que nunca estarei
mas isso é irrelevante.
Sei que tudo ali sou eu
com pensamentos puros
gravando em mim mesmo
gravuras e rascunhos
da minha convicção
temporária.

E isso acontece
talvez numa fração de segundos
ou numa fração de horas,
depende, tudo depende.

Depende do dia,
depende se nos lembramos
de antigas namoradas
ou se nos lembramos de casa,
ou se nossos amigos conseguiram emprego,
ou se nos lembramos de nossos avós,
ou se simplesmente
nos apaixonamos pela mulher que passa,
ou se queremos viajar...

E no fundo,
é só nossa labuta diária
de tentar descobrir
com o que nos importamos de verdade
e não o que achamos que nos importamos.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Músicas de hoje: não necessariamente nessa ordem

1)Nervos de Aço - Paulinho da Viola
2)Perfect Day - Lou Reed
3)As Flores e o Espinho - Nelson Cavaquinho
4)Como dizia o poeta - Vinícius de Moraes e Toquinho
5)Feitio de Oração - Noel Rosa
6)Do Sétimo Andar - Los Hermanos
7)Sessão das Dez - Raul Seixas
8)Pedaço de Mim - Chico Buarque
9)A Via Láctea - Legião Urbana
10)Por Causa de Você - Dolores Duran
11)Chão de Estrelas - Orestes Barbosa e Sílvio Caldas

Onde Estão os Problemas

Estrelas decadentes
e hordas de bárbaros
da nova civilização,
é aqui que me encontro.

O céu perde seu brilho,
meu acordar se torna um sono
cada vez mais pesado
e nem o sol mais
se preocupa com o dia
que há de vir.
Frio.

Onde quer que tenha enterrado
as mensagens que guardei
para mim mesmo
elas pararam de pulsar.
Com aquela certeza
de que eram vivas
e se esgotaram e foram
corrompidas.

Meus sentimentos corruptos,
o seu triunfo é nossa morte.
Não sei o que querem
mas assim não se sobrevive:
vivendo apenas para sobreviver.

Sub-viver.

As dificuldades do mundo
são grandes,
mas os muros
que nós mesmos fazemos
são tão maiores
e nós não podemos ver
através destes tijolos
que deveriam ruir.

Talvez seja sina ficar criando
chifres em cabeça de cavalo.
Talvez as palavras sejam fortes demais,
mas em toda brincadeira
sempre há um fundo
de verdade.

Deserto

Lugares, lugares, lugares,
Sul d´África,
pau d'água e suas terras
ermas e espinhentas,
solos rachados
e taquaras.

Seu seco mal calculado
suas raízes malemoles
infirmes, infiéis
a seus propósitos originais.

E alguma morte presente
e rondando
assombrando almas já mortas
jogadas em toda parte
nestes ermos do mundo.

Longe, bem longe
da África.

Está nalgum lugar
bem mais longe,
mais que o fim do mundo
(que não tem fim).

Lugar de palavras tristes
e pesadas.
Gordas.
Inarrastáveis
e incapazes de se ouvir.

Palavras roxas, vermelhas
e venenosas.
Corroem.
Palavras que sangram
só para nos ver sangrarmos
choros bandidos
calados de cavacos mudos
bandoleando notas que já
nascem mortas.

Realmente
algumas coisas já nascem
com cara de abortadas.

domingo, 23 de maio de 2010

Amor Físico

Conseguiríamos nos amar tanto?
Saber o ponto exato que dividiria
a felicidade e o compromisso
acima de toda a rotina,
de todas as exigências e
de todos os desejos?

É difícil, eu sei,
e há muitos sacrifícios,
mas não seriam eles muitos?
Demais?

Qual é a fórmula certa
para saber a quantidade de cada coisa
as coisas que sentimos
são complicadas demais,
têm variáveis demais.
Não sei o que fazer,
o que ser,
o que calcular.

Ainda acredito
que terei algum grande amor,
não sei como,
não sei quando
e talvez essa dúvida,
mesmo cruel,
seja estritamente
necessária.

Sinto a falta de algum amor,
de alguma simplicidade
e luzes devidamente apagadas,
a descobrir erros na penumbra
mais oculta: os corpos
prontos a se amar.

Quando temos o amor,
temos a distância
(que nunca vi
amor sem distância),
quando temos só nós mesmos,
temos, embriagados,
algum sexo, alguma vontade
de sentir à flor da pele,
mas nunca
ou poucas vezes
vi os dois.

Não sei por quê
ainda continuo otimista.

sábado, 22 de maio de 2010

Breve História da Vida

Uma noite deveria ser
assim como esta,
morta em lirismos,
aguçada em sextos
e oitavos sentidos,
firmes em suas fundações
e seus sortilégios fenomenais
encubertos de negritude
e seus pontos alvos
de maneira fascinosamente
estranhos.

Pois me enamoro às estrelas,
me quedo fraco e submisso
a qualquer desiluminado beco
à procura dessa vista do infinito.
Para quem nunca namorou
um porquinho-da-índia
pode tentar as estrelas.

E este é o primeiro relacionamento.
Do qual jamais sairemos vivos.
Ainda haveremos de namorar:
histórias de romance
e amor para toda a vida;
nossos sonhos construídos
cuidadosamente e cautelosamente
em alguma Hollywood;
alguma fonte de bom sexo.
Não necessariamente nesta ordem.

Poema em Sussurro

Que saia de fininho
todo poema oportuno
e toda frase bem colocada
já que em meu mundo de palavras
não mais que me perder
é onde enrolo as 36 horas
de cada dia.

Saia sem grito,
apenas diga,
severa e firmemente
tudo que pulsa um coração
cheio de sentimentos
cheio de sangue
cheio de bebida qualquer
mas que nunca perde
a sinceridade.

Vai, este meu poema,
esta minha juventude
e estas minhas atuais verdades,
vai tudo em tom veloz,
em timbres e tons que não estou acostumado,
quebra-me meus tabus,
em tatos por onde jamais estive.

Olhos que Não Enxergam

Talvez não passe
de um tempo inaproveitado
ou de alguma incessante vontade
da qual já tenha me esquecido.

Mas estão aí os olhos
que não me deixam mentir.
Se eles dizem, quem os contradiz
não são mais que tolos
que tentam segurar com frágeis mãos
as tempestades pacíficas.

E estão aí os olhos
para nos conter as lágrimas,
evitando que nos afoguemos
em nossas próprias
e prósperas
agonias.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Silêncio

Isto é o que sou hoje:
falta de inspiração,
falta de vontade,
falta de amigos,
sou toda a falta que faço
e assim sendo
não posso ser mais
que a falta que eu sinto.

Quando não há nada
de bom a ser dito,
devemos ficar em...

Mais um dia

Se cansado me deixo vencer
é que de há muito tempo
vem o tempo me corroendo
como ácidos ao aço,
como o poder às cabeças,
como o dinheiro às mãos
e como niilismo às vontades.

E minha cama se torna
tão mais aconchegante
para fazer o tempo parar
até que ele corra
na hora de acordar.

Lixo

Tô de
saco
cheio.

domingo, 16 de maio de 2010

Reflexões da Minha Vida (2)

-Então me diga, o que sabe de você mesmo?
-O que eu sei? Sei que gosto de mulheres e de música, e que um bom cinema me agrada mais do que algumas horas perdido na internet ou na televisão. A música me descreve mas jamais me lê nas entrelinhas, me torna forte em algumas cituações e me baixa a guarda em outras. Sei que consigo ganhar a atenção de alguns e a estes posso com certeza chamar de amigos, e os tenho dos mais variados gostos - alguns para cada humor que acordo. Minhas obirgações me tomam meu tempo, meus cabelos, covas no rosto e uma mancha preta embaixo de meus olhos, e infelizmente não consigo evitar este excesso de pressão. Minha válvula de escape por vezes falha e me quebro inteiro, explodo, e voam cacos e pedaços por todo o lado. Demoro para juntar todos os pedaços e me recompor, e tento voltar sempre mais forte - o que nem sempre acontece. Sei também que pairam sobre mim dúvidas inúteis e também úteis, mas jamais saberei dividi-las corretamente. Não acho que dormir é perda de tempo pois tenho muito medo de imaginar uma vida onde eu não possa sonhar. Mas acabo sendo incoerente. Gosto da noite e da madrugada, o que me faz dormir até o almoço. Mas gosto igualmente da manhã, do clima da manhã e do dourado característico. Como posso dormir tarde e acordar cedo e mesmo assim dormir muito? Este pouco de mim na verdade diz muito e diz nada sobre mim. Quem quiser saber de mim que escreva uma biografia minha e diga bobagens, pois toda vez que essa pergunta me vem, saem respostas mui diferentes!

Reflexões da Minha Vida

-Então me diga, o que sabe de você mesmo?
-Eu, o que sei de mim? Ora, eu seria um tolo se perdesse meu tempo a me saber. Eu existo, talvez, e isto me impede que eu saiba de mim mesmo. Um copo de cerveja jamais saberá sobre ele mesmo, e também o maço de cigarro. Os animais não sabem nada de si mesmos e o evento da existência e todo aquele ciclo que insistem em chamar de vida é bastante para que possam acordar todo dia e fazer suas atividades diárias! Poderia você então dizer que isto é a nossa diferença com relação às outras coisas, mas eu digo que não! Essas divagações incompletas e incorretas nos levam a crenças que nos tornam menores. Sei lá eu se sou espelho de Deus, e mesmo se ele realmente precisa de um espelho. Sendo onipresente, pode ficar em frente a si mesmo e se observar o tempo todo. Espelho para quê? Sei lá eu também se as estrelas têm algo do meu espírito e comportamento e se realmente despendiariam tempo e um pouco do seu brilho apenas para nos determinar a personalidade - até as estrelas podem ser um pouco egoístas. E se eu por acaso pudesse me descrever por padrões ao longo das fases da vida, então não seria mais que uma fórmula matemágica e meu valor seria com certeza menor do que de um castor com seus diques ou então uma minhoca com seus túneis subterrâneos. A mim não basta saber quem eu sou e como eu sou. Desnecessário. A mim, o que basta é água para minha ressaca, comida para minha fome, divertimento para todo o resto.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Se Platão tivesse amado

É como se nos conhecêssemos
de outras eras longínquas.
Quero ver sua sombra
perturbando a luz que me chega
pela fresta da porta,
passando despercebida por mim.

Sei do seu caminhar
e do seu jeito embaralhado de falar
e de trocar letras
sublimemente.
Sei seus trejeitos e tiques,
seus defeitos virtuosos
e suas qualidades
de certa forma
mal acabadas.

Diria seu nome
se anônima não fosses.
Gritaria seu endereço
se acaso tivesse.


Minhas palavras são
armas inúteis,
mas são tudo que tenho.
Não bastam.
Mesmo sinceras
são vacilantes
e ficam mudando de sentido
sem permissão.

Ainda invento um jeito
de trazer você
bem onde eu quero!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Desabafo

Já pensou que talvez
a insônia seja apenas
o medo do pesadelo?

Nada de mágicas, por
favor, hoje não, sonhos!
Deixem que meu sono
seja assim bem tranquilo.
Deixem que o meu dia
comece na exata hora
que a realidade desista
de brincar com fantasias.

Que vontade de apenas
deixar uma água fria
correr pelo meu rosto
culpado ou não por tudo
que venho sentindo.

Quero que tudo o mais
vá para o inferno.

Noite

As linhas continuam
a me confundir
sou algum idiota,
sou algum lunático
que tenta não cair?

E se eu simplesmente
quiser fazer
de todos os bancos
minha casa,
minha cama,
minha noite,
escolher algum lugar escuro
para ver as estrelas.
E o que elas são
não me importo.

Só quero vê-las
não sei por quê.
Gosto da lua
e da cor da noite
e da escuridão.

Toda solidão será castigada
ainda que a noite
seja negligenciada
pois tal momento
não passa de sentir-se só.

Irriquieto de espírito,
de fonte turbulenta
e de águas amargas
vou me constituindo
de dificuldades
que vou acertando.

O meu veneno
não me faz nada.
Minha apatia
me faz ver todo o mundo.
Minha transpiração
me faz sóbrio.

E deitado,
descuidado e cansado,
olhando o nada
e não desejando
nada mais do que aquele
pouco oxigênio
e a falta do frio ali presente
sei que poucas coisas
me fariam mais completo.
Sou o que a noite pode me dar.
Posso ser sexo e confidências,
posso ser sono e sonho.
Mas posso ser
um porre e a ressaca premeditada.
Sou imediato e muito pouco,
sou apenas doze horas,
sou um gole,
sou beijo, sou escarro
e sou vômito.
Tudo diz muito
e tudo faz parte
da vida e da noite.

É tudo que quero ser:
noite!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Acordando Tarde

Não vejo no meu dia
todas as horas que dizem ele conter.
E não é isto que deveria ser tudo?
Saber exatamente as horas
e os minutos e ser cada coisa
seu tempo certo e nada mais?

Mas já começo acordando tarde,
já começo correndo no café
e comendo mal, e acordando mal.
Começo correndo atrás de algum
prejuízo que ficou por aí
de algum dia anterior
e que minha agenda jamais
poderia ter me lembrado.

Tenho sentimentos mal resolvidos
tenho fingimentos a serem escondidos,
tenho toda uma fantasia que não posso
me esquecer de vestir por nenhum dia
porque foi o que eu escolhi para mim.

E a vontade aqui dentro vai morrendo
mas sei que também eu morro um pouco
e por isto acordo mais cansado todo dia,
e vou deixando de ser o que prometi
para a criança que eu fui e que seria sempre:
fui me traindo e cada passo errado
me embriagava mais e já quem me conheceu
não reconhece mais e quem me vê hoje
jamais saberá como fui e quem eu fui.
A não ser que eu pare de mentir.