segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Um Pouco de Tristeza

O dom da vida
é o eterno dom de saber-se triste
e saber controlar esta tristeza
nas doses necessárias:
nem muito, nem muito pouco.

Eu, por exemplo, torço sempre
pelo time perdedor.
E se o time ganha, mudo de time.
Grito, vibro pelo gol, pela vitória,
mas tenho que mudar de time.

Não é dos começos que me alimento;
me alimento dos fins.
Me esqueço dos meios,
por mais duros que sejam.

Por isso cresço, eu engordo.
Há muitos fins, muitas intenções,
mas há poucos meios de vazar,
e quase não sangro,
e tudo que posso fazer
é meus olhos molharem-se.

É uma pena
que venhamos morrendo sempre
pelo intrépido dia-a-dia.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mais uma dose

O importante não é o que fizeram do homem
mas o quanto ele bebe depois do que ele faz
do que fizeram dele.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Certo Brilho

Como as estrelas
são as pessoas.
Pequenas ali, paradas,
infinitamente distantes,
ainda que brilhando para nós.

Dia após dia,
incansavelmente,
vão se mudando, se locomovendo,
quase estáticas,
mas nunca exatamente
no mesmo lugar.

Vão, passeiam flutuando ali,
silenciosas,
se agrupando,
se constelando,
gerando formas,
criando conosco identificações,
e quando vemos,
já não as reconhecemos.

As estações são outras,
a noite ficou curta,
ou ficou longa demais,
e tudo mudou.
A ordem natural,
as posições,
são outras.

E são as mesmas estrelas.
São as mesmas pessoas.
Às vezes até deixamos algumas
se apagarem, abandonadas,
mas continuam lá
ofuscadas
disputando seu brilho
nas horas onde esta outra
pequena estrela
se recolhe: o Sol.

Um dia desses
ainda serei estrela
e o vácuo ou o éter
(o que for mais romântico)
me permitirá
conhecê-los todos de perto.
Pessoas ou estrelas,
o que estiver mais próximo.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Dicionário de Expressões

Palavras ao vento:
coisas que a gente diz
quando quer que alguém leia
mas jamais diremos a esta pessoa:
leia, é seu.

Apenas esperamos que algum tufão
possa cuidadosamente devastar tudo
e por alguma ordem superior
rearranje tudo
para que nosso sussurro
chegue ao destino
sem que se perca nada
do seu significado original

O Meu Futuro

Ainda direi bobagens do Universo
e de mim mesmo
centenas de trocenas de vezes.
Direi que nada sei
mesmo querendo me convencer
de que sou conhecedor
de muitos conhecimentos
e muitas artes
e de uma só sabedoria:
da finitude.

Mas me enganarei.
Escreverei contra mim mesmo,
me refutarei,
serei o peão
que salvará a rainha inimiga
num jogo contra eu mesmo
em busca de um empate.
Técnico, de preferência.

Andarei pelas ruas desolado,
talvez sozinho e talvez desacompanhado,
não necessariamente nessa ordem
nem nessa escala de tristeza.

Trarei amigos para perto
e com sorte afastarei poucos.

"Só um tolo não é capaz
de ler seu próprio futuro"
direi agora
com a mais absoluta das convicções
de que algum dia estarei errado hoje.
E que errarei também neste dia
quando de mim desacreditei.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Eu Dique

Há algo dentro de mim
querendo explodir a qualquer instante
um montante de coisas a serem ditas
ou sentimentos a serem sentidos.

Talvez diálogos diagonais
trespassados em minha garganta
secos pela necessidade árida
e tristes pela definição de sua existência!

Inútil conter o que jamais poderei carregar
se pode vazar, molhar, escorrer,
me fazer sentir seu sal
e perceber que não há nenhum furo,
mas que a tragédia é iminente.
Como uma lágrima:
transparente, mas turva.