sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Os chifres

Cara, eu queria mesmo é saber qual o problema das pessoas. De todas as pessoas, tem alguma coisa errada. Não é possível que só eu odeio propagandas de cheiros para casa/higiene bucal/inseticidas/sabão em pó e etc. Mancha de roupa não tira o sono de ninguém. Escovar os dentes 3 vezes por dia é suficiente não importa se usa uma marca ou outra. Casa que cheira demais dá dor de cabeça. O pior são os inseticidas. Qual é o real problema? São realmente as porcarias dos insetos? mosquito da dengue, baratas, eles matam tudo. E daí? Não deveríamos eliminar água parada e deixar a casa limpa? Acho que isso já diminui bastante a probabilidade desses odiosos aparecerem. Umas moriçocas foram tanto problema. Hoje tudo é problema. Tem que ter uma coisa errada, parece que todo mundo agora deu pra criar chifre em cabeça de cavalo. E não são unicórnios.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cravos

Eram apenas flores no horizonte
cravos enfiados em rifles,
atingiam como estacas aveludadas
incapazes de trazer para fora
o sangue do coração,
vermelho pelo ardor
de tudo que vemos ao redor
e escondemos nossos rostos
com medo de que nos atinja
e que nos vejam.

As pessoas caminham por ali
e despercebidamente deixam perder
aquelas lições de antes,
aquelas árduas lições
aprendidas a ferro e fogo,
imortalizadas pelas cicatrizes
que ainda doem no frio,
que ainda são sensíveis.

Mas as outras pessoas vão morrendo
e este sentimento
é intimista demais.
Mesmo que não morram as pessoas,
elas morrem. Por dentro. Bem pouquinho.
Mas pouquinho a cada dia.
As cicatrizes doem no frio
mas não ardem como feridas abertas.
Abertas como o peito
dos que ainda se importam
em nos passar a lição.

É quando percebo
que eu mesmo
nunca tive feridas.
Apesar de imaginar como doem
nunca me arrisquei o suficiente.
Nunca fui eu
a colocar os cravos em rifles
e silenciar as pessoas
por ter algo importante a dizer.

Os coadjuvantes estão lá
mas eles simplesmente não existem.
Eu não existo.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Droga do Cotidiano

Tenho um profundo medo de desinteressar da vida. Algumas vezes acordo, ainda com sono, sei que tenho coisas a fazer. Às vezes nem tenho, mas invento, afinal, o dia tem que ser preenchido. Fui ensinado que não fazer nada é desperdício de tempo. Mas e quando o dia anterior foi sensacional? Aquela sucessão de acontecimentos que se encaixaram como cada uma das pedras das pirâmides deixaram escritas e pintadas memórias que só poderiam surgir da cabeça de mestres. Só o que resta é acordar no outro dia fomentando uma falsa esperança de que todo dia pode ser assim. É aí que se chuta o pé da cama ou o pé da mesa. É aí que o jogo vira.
Em milésimos de segundos e microgramas de neurotransmissores percebo o que acontecerá em diante: esquecerei a conta que eu deveria pagar em casa, ficarei preso no trânsito e me sentirei mal por ter me atrasado para o trabalho.
O que acontece é que ao mesmo tempo que acredito estar vivendo os melhores anos da minha vida, parece que também cada vez mais acho qualquer novidade déjà vu. É como se no primeiro dia eu aprendesse a beber e me apaixonasse pela embriaguez e entre com muita sede ao pote, literalmente. Daí vem o segundo dia, vem a ressaca e a vontade de que o mundo se exploda e só volte a existir no terceiro dia. Daí no terceiro dia já nem tenho mais tanta sede. É só vontade pois sei que eu gosto. E não porque descobri que gosto, ou porque estou sentindo o quanto gosto. Eu sei. E isto apodrece tudo. Agora sei que gosto de viajar, sei que gosto de assistir a shows, sei que gosto de sexo. Mas tudo já perdeu o tom de novidade. Tenho medo que eu sinta cada vez menos as coisas. É realmente uma droga parar para pensar nas coisas. Tem até os mesmos efeitos de drogas. Primeiro, um medo de experimentar, depois uma sensação de êxtase e, por fim, uma depressão depois que acaba a parte boa.