quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Os outros que também são eu

Tá, eu sei. Muitos melhores que eu já falaram melhor disso do que eu, mas mesmo assim: os amigos são meus e a homenagem é minha. Tenho, hoje, 20 anos. Não considero nenhuma vasta experiência, mas tive muitos amigos. Se não foram muitos, com certeza foram mais por serem poucos. Tive amigos de infância e que ficaram na infância; outros que vieram comigo ver o mundo como vejo hoje. Alguns amigos, nem me lembro o nome, outros o rosto, mas sei que muito do que tenho hoje me foi dado por eles. Alguns, foram um tanto relâmpagos. Chegaram como os melhores amigos de todos os tempos, mas foram avassaladoramente tal qual chegaram. Outros, vieram como que sem nada querer ou pedir, e de repente, estava eu e ele como que se nos conhecendo desde o início dos tempos.
Alguns achei pelo meio do caminho. Caminhávamos juntos, mas nunca nos tocamos que estávamos lado a lado. Num dado momento, passamos a compartilhar idéias. Outros, estavam logo ali na frente, e tive de alcançá-los, assim como também fui alcançado. Alguns falo de amor, outros, de filosofia. Uns tantos, de futilidades. E há os que eu falo de tudo, pois sabemos nos conversar como se o mundo se desfizesse em dez minutos, e ainda faltava contar de toda uma vida. Outros, chamo de irmão. Outros, nem do mesmo sexo são - e nem por isso menos amigos. Outros, deixei pelo caminho, mas nunca por vontade minha, mas por força dos tempos. E quando deixei, foi de coração partido. Alguns, achei que estariam comigo para sempre, e partiram, como eu parti para alguns. Uns muitos, não preciso estar do lado para ser amigo, basta que em alguma hora boa do dia eu me lembre deles, já me parece que estamos mais próximos do que qualquer outros amigos. Pode ser também uma hora difícil, e parece que já me conforto.
Alguns juntos vivemos momentos difíceis, outros, só festas. Tem os muito diferentes e os muito parecidos, e, por alguma mágica, me dou bem com todos. A maioria já se chateou comigo, mesmo que não se lembrem. Alguma besteira já fiz com quase todos, e já tive que me chatear também. Alguns, agora são realmente poucos, faz tanto tempo que somos amigos que nem me lembro como nos encontramos. Alguns pedem dinheiro emprestado, outros pagam bebidas das mais caras. Alguns (ou muitos, acho que seria mais apropriado) são da minha família. Alguns chamam de irmão, e realmente são. Uns, nem se lembram de mim, mas e daí? Me são igualmente importantes. Amo todos, cada um de um jeito único. E quem levou qualquer coisa que disse aqui para algo além de amizade, não foi digno desta homenagem. E se algum foi totalmente diferente do que eu disse aqui, não foi por falta de consideração, de modo algum. São tantas especificidades que eu poderia escrever um livro, mas perderia o caráter de homenagem.
E, para enriquecer isto, vou citar alguém bem melhor do que para estas coisas: Vinícius de Moraes. "Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!" Abraços a todos os que fazem parte deste filme de tomada única tão realista!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Tudo o que achei

Já achei que ninguém gostasse mais de carros do que eu,
ou de música.
Já achei que amava mais que todos,
as mulheres.
Achei que as admirava demais,
que todas tinham alguma beleza.
Já achei que seria presidente
para acabar com a pobreza e o preconceito.
Já achei que o Brasil devia pegar em armas.
Civis e militares.
Já achei que era eu
o que mais curtia a vida.
Apreciava-a em cada pedaço,
cada pequena dimensão
e transformava tudo que podia
em felicidade.

Já achei que eu era o mais errado de todos.
Já quis me expor para o mundo todo,
e já quis me esconder.
Já achei que jamais me afastaria
de qualquer amigo
Já achei que nada melhor
que "The Dark Side of the Moon" seria produzido
(e ainda estou esperando)
Já achei que tinha amadurecido.
Já achei que tinha amadurecido o suficiente.

Já achei que acharia tudo que perdi.
Já achei que perderia tudo de novo.
Já achei que amava para sempre.
Já achei que achei o grande amor.
Já achei que seria grande poeta.
Já achei que eu era um tolo.

Já pedi para chover,
mas chover de mansinho.
Já pedi para abrir todas as gaiolas do mundo.
Já achei que me doía mais
as dores do mundo
do que as minhas próprias.
E me enganei.
Às vezes não suporto as minhas.
Às vezes sou mais forte
que um touro.
Às vezes minhas lágrimas
me furam as mãos.
Às vezes minhas mãos enxugam as lágrimas.
Às vezes minhas mãos me furam os olhos.

Já achei que as verdades eram absolutas.
Já achei que poderiam deixar de ser.

Ah, quantas ilusões.
Mas não, não digo isso com nenhuma tristeza.
Se eram absolutas estas verdades,
eram. Pronto!
Se deixaram de ser, paciência.
Eram as armas que eu podia lutar,
era tudo que eu tinha disponível.
Eram as regras do jogo,
e joguei
(já falei sobre elas).
O mais importante, ainda tenho comigo.
Ainda vivo, durmo, aprendo.
Se quer saber,
"a vida só se dá
para quem se deu".
Eu quero é viver.
E ver depois
que hoje eu estava iludido.
E que isto seja o meu futuro:
sempre algo que tenha feito
o meu passado valer a pena.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Um show, nada mais

Era uma imagem especialmente linda. Havia música, havia gente, havia uma batida tão intensa em profusão com as palmas bem ritmadas de um povo admirando um espetáculo gratuito. E nada dos largos e pesados paradigmas da moda. Tudo muito alternativo, seguindo um padrão bastante fora dos padrões de belezas espetaculados nas telas das teletelas das tevês.
Coisas mesmo que se vê só na faculdade, e mais especificamente ainda na universidade pública (sem questionamentos políticos, hoje não!). Estava a banda tocando uma música diferente. Bastante interessante e agradável de ver. Um público do tamanho justo da produção do show, tudo com um profissionalismo caseiro da maior fineza possível. Era interessante ver todas aquelas pessoas que são muitas vezes rotuladas como "doidões", dentre outros rótulos mais preteríveis, se fundindo com aquela música, como que acrescentando movimento à harmonia musical ali presente. Músicos bons, e um público no ponto. Tudo isso dentro de um festival do instituto mais alternativo - o instituto de artes.
Pareciam pessoas tão livres quanto as vibrações que deixam as cordas do meu violão (mal tocado). Pareciam que era só aquilo que lhes bastava, ver uma música mal saída do forno, ainda quentinha, produzida por aqueles colegas, e eu me deliciando por esta cena um tanto quanto saborosa, ali, um pouco mais distante, quase um observador onisciente (bem queria eu ser completo onisciente, saber o que todos pensavam e sentiam). Só pensei comigo mesmo: estou no lugar que queria estar. Uma universidade no sentido original da palavra, mais próxima da universalidade que se pode encontrar num raio de muitas idéias. Sei que aqui fiz amigos muito bons, sem diminuir nem um pouco os antigos - muito pelo contrário. Mais do que nunca, sei que quero estar aqui.
Adoro minha casa, mas neste momento, minha faculdade é o meu lar. E eu vou abraçá-la com todos tentáculos que eu puder pois é único em minha vida. Onde mais eu veria uma orquestra totalmente grátis num domingo tocando polonaises, polcas, danças, marchas, sinfonias. Vejo clássicos do cinema e ainda por cima festas que tocam de Beatles a Mutantes e às vezes de graça? Um brinde a todos os que estavam nesta cena supra-citada, e mais dois brindes aos que estavam tão felizes quanto achei que estivessem. E aproveitem, que hoje é por conta da casa!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

É o tempo

E quando achamos que não há mais nada neste futuro tão próximo, acontece algo. Nos sentimos impotentes e em geral realmente não podemos fazer nada. Somos mesmo donos de nossas ações? Não me entendam mal, acredito piamente no livre-arbítrio. Nada de determinismos. Mas é que às vezes parece que sempre que queremos algo, tudo sai ao contrário. Por que não tentamos fazer tudo diferente do que queremos, que talvez dê enfim certo.
Ai, se não é o cansaço a me fazer pensar novamente! Não há o que se fazer quando não há de se fazer nada, mas sempre nos sentimos como que devendo algo a todo o tempo. E procuramos o que fazer nas vagas horas em que o tempo se ocupa em preguiçar. Hoje o dia tinha prosa no ar, não pude evitar falar essas coisas. É assim mesmo, o tempo é preguiçoso. Deixa tudo - igual ironia não se há de achar - para última hora. E aí corre quando não deve. A passos largos, ele anda tão apressadamente quanto uma lesma corre do sol para a sombra que lhe evita secar.
É aqui que abandono o sono e deixo as luzes acesas. Por que é de noite que as músicas urbanas e barulhentas vêm dançar e nos assustar com suas sombras assombrosas. Se parecer-lhe um tanto psicodélico, é que me escapa esse lado involuntariamente. Acho que Alice deu-me banhos inteiros de lisergia. O que tem tudo isso relacionado com o começo deste dedo de prosa? Existe algo mais lisérgico que o tempo? É assim: o futuro acontece a todo momento em que o presente deixa-se tardio e se reconhece passado - o que em geral acontece entre os menores intervalos de tempo (que se pode medir). O presente é tão pequeno que nem deve ser considerado como um tempo. Tudo que se pensa ou é passado ou é futuro, e não há como não ser. Quando pensamos em algo do presente, já foi o tempo. No entanto, é sempre o que se vive. Vive-se neste intervalo tão pequeno que logo deixa de existir, mas é só o que realmente existe - é sempre presente!
Vá lá entender... uma boa conversa sobre nada faz-se necessária. Tanta filosofia barata em tão poucas linhas é algum sinal de um sonho no mínimo diferente, mesmo que se venha a dormir tão poucas horas. Por que quando dormimos, com certeza o tempo se atrapalha todo e nunca se dorme o suficiente. Mesmo quando se acorda atrasado.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Hora de se Dormir

Eu gostaria de ter todas as idéias que tenho em meus sonhos, ou mesmo as que tenho quando estou simplesmente deitado. Surgem idéias de todos os níveis, tão boas como as que nunca mais escreverei. Mas estou tão cansado para me levantar e escrever, ou então amanhã tenho que me levantar tão cedo... Sei que talvez eu fosse até um bom escritor se pudesse eu recordar-me tudo que tive de idéias.
Mas aí vem um outro dia, tenho que pensar em mil coisas, e deixo um de meus amores para a noite mais densa, para a hora mais alta, onde a escuridão é trajada de uma inspiração imaculada, tal qual a que se teria após uma jornada de um mês no lado escuro da lua. É aí que tenho os sonhos mais interessantes (talvez). Queria eu ter a força de vontade de Dalí, que pintava os sonhos mais surreais (com o perdão de algum trocadilho que possa vir a surgir) ao deixar-se despertar de um sonho. Queria eu, em verdade, me dotar de grandes idéias, mas tudo que consigo são palavras falsas e promessas do que jamais vou vir a ser.
O estranho é que ainda me fascino pelo fato de acordar. É como se me sentir vivo trouxesse aos meus sonhos mais intrínsecos e profundos um novo caráter, adquirido aos poucos dentre os míseros intervalos entre os segundos. Por que tenho absoluta certeza de que não sou hoje o que fui a um ano atrás. Se sou melhor ou pior, não me basta que eu me julgue, pois será este um julgamento sempre deturpado. Mas o fato de sonhar e acordar me faz querer dormir uma outra noite, a fim de me descobrir em algum sonho, e o fato de eu acordar, me faz realmente me redescobrir, me faz olhar com outros olhos o simples fato de que no dia que desistimos de acordar é o dia que morremos.
Talvez seja isso a morte: um sonho tão bom de se sonhar que nos esquecemos de acordar. É também uma boa perspectiva para um pós-vida, para alguém tão pouco religioso que sou.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Independência

A independência (parcial) do Brasil não aconteceu em 7 de setembro de 1822. Acenteceu em 28 de agosto de 1979!

Não deixa de ser mais do mesmo

Ficou determinado que tudo que se escreveria deveria ser sobre amor, da sociedade, críticas, intimismos ou estudos. Talvez eu também gostasse de escrever sobre o botão da televisão - que eu nem tenho - que está quebrado. Ou como o dedo quebrado me atrapalha a tocar o violão. Tenho uma internet estupidamente rápida, mas nem tenho forças para escrever sobre coisas tão cotidianas. Até que deveria ser fácil, mas daí seria difícil criar alguma expectativa ao leitor.
Em contraste a tudo que eu disse aqui, parece que voltei para a minha problemática inicial, indo de encontro a alguma crítica que eu faria. Critiquei, estudei e falei de mim mesmo. São, então, três crimes. Para reduzir a pena, falarei do dedo quebrado. É realmente estranho como não poder mexer o dedo atrapalha coisas tão banais, como digitar um texto, usar talheres ou mesmo escovar os dentes. E olha que foi um dedo que só serve para pôr anel. Nem para ser o dedo que manda alguém à merda. Pouparia trabalho, pois ele já ficaria ereto.
Mais um pouco de palavras, e mais um crime: mais uma crítica. É que também fica difícil ser do tipo resignado, que não fica do lado contrário na maioria das vezes se uma das coisas que nos diferenciam dos animais são os polegares opositores. Já nascemos para ser teimosos. Vou parar por aqui, que já estou condenado a uma vida inteira de textos sobre as mesmas coisas. Quero ainda me redimir para a próxima vida.

sábado, 5 de setembro de 2009

Alcebíades Vaz de Carvalho

Acordou morto. Obviamente que não acordou, pois estava falecido, por assim dizer. É só que amanheceu o dia e estava lá, prostrado na cama já com alto sol - e ele, então, que sempre acordou antes das 5. Totalmente inesperado. Sem sinais de doença, ataque fulminante, cataclismos nos pulmões, edemas, e muito menos derrames. Parecia uma vida que tinha mudado de idéia. Simplesmente tomou o outro rumo - o oposto.
Era daqueles que sabiam usar o tempo. Tinha uma boa empresa, no cafundó de algum interior. Custo de vida barato, simples, era conhecido e respeitado na cidade. Usava um chapéu e, apesar da simplicidade, detinha bons capitais. Saía de tarde da empresa, encontrava alguns funcionários para uma cervejinha. Aos finais de semana, um futebol com os diretores da empresa. Nas férias, viagens breves e bem aproveitadas para o exterior.
Não se sabe como e nem onde, endividou-se. E aí deixou morrer-se. Nunca deixou ninguém saber - confiavam nele. Ele adorava que as pessoas se apoiassem nele. Mas os que sabiam ser amigos. E, sendo o ágio extremamente ágil, faleceu de maneira que os Sicilianos de Puzo sentissem inveja dos projetistas de tal arquitetura.
Uns, diziam, com todo o pesar que sentiam por quem os tinha acolhido, algo meio que assim: "Abutuô o Palitó. Por quê é que dexô a gente sem nem avisá? A gente fazia uma dispidida bem bunita". E até podia se ver um brilho ocular seguido de um filete de água que lhes caía das vistas. Outros, enquanto isso, diziam: "Veio a óbito nosso saudoso amigo, dono não só de patrimônios, mas de corações. Devemos agora continuar seu sonho, redividindo a empresa, fazendo-a crescer como ele gostaria de ter feito em vida". De modo todo cerimonioso e solene, como um locutor de rádio que anuncia alguma morte. Uns, tomavam com ele cerveja. Outros, jogavam futebol. Uns, nem sabiam falar corretamente. Outros, só sabiam de cerimônia - que, neste caso, é sentimento só para inglês ver!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Insensível

Sinto muito se sou tão frio.
Se eu não sofro demais,
não choro demais,
não sinto demais,
não amo demais,
não morro demais.

Sou assim,
e é isso que sinto.
A falta de sentir.

Desculpem-me se vos falo
com tamanha franqueza.
Não tenho escrúpulos,
mal chego a ter
sentimentos.

Em meu coração de pedra
habita a sábia distinção
tão mecânica de cada sentimento.
Mas não, ali não moram os sentimentos.
Estes vagueiam por algum lugar longínquo
tão distante do meu conhecimento
que mal me preocupo em achá-lo.

Há em mim
esta réstia de bom-senso.
Sei o que deveria estar sentindo,
mas nada me vem.
Nenhuma lágrima,
ingrata!

Em meu mundo
nada à flor da pele,
admiro em prantos
a amizade cultivada,
os bons amigos que fiz
e que para sempre levarei,
os amores que deixei,
mas não posso dizer,
nem por um momento,
que o faço com todo sentimento.
Fico devendo, e muito,
por isso.

Faço com algum pouco sentimento,
mas faço sabendo
que tudo isso
é o que tenho de mais caro
em todo o mundo.
Pois minhas idéias
se esvairão,
esmaecerão.

E os amigos, amores,
pais, irmãos, família,
colegas, e todo o resto?
Guardo meu pranto e meu sentimento,
as lágrimas jamais derramadas
e as declarações jamais escapadas
para quando
de um ombro precisarem,
um silêncio mútuo apreciarmos,
para quando o tempo nos for escasso.

Guardarei dentro de mim
sabendo que por mais insensível,
eu vos amei a todos,
e não sei para onde os levarei,
mas sei que sempre os levarei.

Homenagem a estes que me lêem antes mesmo que eu pense no que escrever!

Na mesma (tecla)!

Existencialismo é muito chato.
Por que quero saber
tudo de mim?
Por que quero saber
o porquê e o porquê
das coisas e da vida?

Por que não posso simplesmente
fazer o que quero,
já que é tudo da lei?

Um dia,
um que lê o que escrevo,
se cansará de ler,
e com razão.

A tecla em que bato
é sempre a mesma,
aperto, aperto, aperto,
e ela não apaga a marca.
Ela não fica muda,
continua escrevendo.

Quando é que vou
fazer o que penso,
e não o que eu penso
que os outros fariam?
Quando é que vou aprender
a escrever sobre outras coisas?

Sei o que vou ser.
Serei aquele velho ranzinza,
falarei de coisas da vida
que ninguém escutará,
aquelas asneiras de um velho tolo.
E me acharei um sábio incompreendido.

Não sei o que fazer
quanto a mim mesmo.
Ou comigo mesmo.
Onde está a gramática?
Nem a conheço mais.

Queria era acordar
com uma delicada mão em meu rosto,
um beijo em minha boca
(apesar do hálito)
e uma certeza
de que tudo isso era para sempre.
Daqueles "para sempre" que não se acabam
nunca.
Nunca.

Enquanto isso,
fico aqui entendiando
os meus dedos
que até já sabem de cor o que escreverei:
coisas sobre mim,
meus sentimentos,
tudo que é mais doloroso
ou mais prazeroso,
tudo que sinto,
um pouco do que sou
e talvez
muito do que eu
queria ser.

Abraços a todos
que conseguiram até aqui
chegar!
Bons dias!

Orgulho

Por que foste para mim
não mais do que uma qualquer;
não menos do que um desprezo
provindo da mais profunda
vontade de te amar.

Mas como amar-te, se,
em verdade,
quando olhava em teus olhos
era meu reflexo que eu procurava?

Em cada gesto teu
era como se estivesse eu
diante de um espelho,
torto.
Eu me via de um jeito
completamente diferente,
distorcido.

Adoro quando meus olhos têm
o que os teus procuram.
Pois é aí que hei de saber
quanta verdade
escondes sobre estes negros olhos.
É aí que sei
se tens um outro,
se não sou único.

Afinal, não sou o único
a ser egoísta.

Posso dizer
sem nenhum remorso,
que amei-te.
Mas saiba
que só te amei
por que foi nesse momento
que me apaixonei por mim mesmo.
E nada muda isso.

O tempo passou,
E tudo que restou
(tudo que em verdade sempre houve)
foi este amor-próprio.
E este orgulho.
E é no fim do mundo
que algum dia
eu volto a te procurar.
Talvez nunca.
Se quando me entreguei,
todo desprevenido,
você não quis,
por que hei de querer-te um dia,
novamente, agora que sou capaz
de me amar?