sábado, 26 de junho de 2010

Cruas Imagens

É isto que sinto em meus olhos?
Sinto-os secos como palha,
amarelos e quebradiços como tal.
Sinto-os gravando imagens
fracamente numa tinta frágil
esquecendo-se de sua breve permanência.

Despercebidas vão-se as imagens,
corrigidas pelas minhas próprias imgens,
minhas paisagens reconstruindo o que vejo
e minha nostalgia destruindo
tudo que havia cuidadosamente
deixado de lado.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

As Estações

E quando não sinto o inverno tão frio,
e o verão não queima
e também não me lembro como são
primavera e outono?

Mesmo que minhas agulhas
apontem algum norte
ou até mesmo algum sul
jamais saberei onde está o frio.
E jamais saberei onde descongelar-me.

Onde escolhi nascer, crescer e talvez morrer.

Onde escolhi que talvez seria a boa parte da vida
ou até mesmo se seria apenas uma parte boa
da vida.
Mas que ainda assim seriam anos
e dias e noites dedicadas a esta parte.
E, dolorida, ainda brilha em mim.
Em seu apogeu ou declínio
ainda sinto suas marcas
e a dor de saber do futuro responsável
que me espera.

Ah, se tudo não fosse como aqui,
se tudo não fosse como esquecer
de que posso me esquecer
e ficar como estou.

Mas nem se lembram como é isto
mesmo que invejem
mais que tudo,
isto,
do fundo de suas almas!

Crenças e seus buracos.

Antes que eu passe a acreditar
quero saber por quê estou aqui.
Quero saber porque algo precisa
ser maior do que eu.
Já que sou, como todo homem
megalomaníaco de si mesmo.

E mesmo que fosses a última
dentre todas as mulheres
eu não saberia o que dizer.
Eu não saberia como faria
e como te impressionaria.

E antes que eu possa dizer o que quero
e dizer que também sou frágil,
vulnerável,
vou ser mais que isso
e vou me esconder
em todos buracos que puder
toda minha fraqueza
para parecer forte,
para parecer imune,
para acreditar
que o único motivo
de eu beber
seja minha própria vontade.

Para que meu desabafo
pareça tolo e em vão,
pois os buracos no chão
não são capazes de me ouvir,
e tampouco são capazes de me esconder.

Mas sigo tentando pois parecer frágil
nunca parece ser a solução.

Até daria um pouco de mim
e talvez me sentiria mal
mas este sou eu e sou como eu sou.
Nada mais,
um animal, apenas.

E queria fazer dosexo meu refúgio,
queria que meu tempo livre fosse exatamente
como eu quero,
queria que fatores externos não existissem,
queria que tudo se explodisse,
se fosse necessário.
Mas o que Mr. Jones não percebe
é que tudo está acontecendo,
mais rápido do que ele imagina.

Mas aqui está acontecendo,
os espíritos vêm,
os santos baixam,
os deuses ganham seus sacrifícios,
e todas nossas vontades morrem.
E assim morremos nós.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Teu Silêncio

E o que faz do teu silêncio?
Amordaça tuas inquietudes
e cala tua maior força.
Mantém-se longe
e me sinto de algum jeito
desconexo e desconhecido.

E por que obscuro silencio?
A mais longa das noites
deste solstício te entristece?
Te amedontra?
Te confronta?

Ainda que foste este frio
quebradiço em teus dedos,
ainda que ele ardesse em tua face,
o pior que fazes é calar-te.

Se ao menos pudesses dizer
o que sentes, onde estás e como estás,
se pudesses dizer que sente minha falta
meu sono viria muito bem acompanhado
dos licores agridoces do descanso.

domingo, 20 de junho de 2010

Libido

-Se de alguma forma pudesse compreender que quero teu sexo, e nada mais, e que isto, apenas, me faria feliz, eu o faria com todo meu esforço. E daria também o melhor de mim, tentaria ser inesquecível.
-Se soubesse como eu desejo suas mãos me acariciando os seios, me descobrindo e me lendo, seus lábios escorregando lugares que eu nem ligava a arrepios, como me fariam trêmulas suas pernas procurando um lugar entre as minhas, viria agora como um leão, como um tigre, como um urso procurar o que posso oferecer de mim.
-Este seu olhar que parece um misto de querer dormir para sonhar ou de acordar para viver me consome de um jeito que me sinto combustível, inflamável, me sinto uma matéria irreal a se transformar em qualquer coisa irracional em busca de algo que não seja mais que o próprio prazer, que a própria vontade de viver agora sem nem saber quando o mundo vai acabar - e que se dane, que acabe agora mesmo!
-Se nem este olhar traidor foi capaz de convencer das minhas reais intenções fico aqui desprotegida e desarmada, à espera de que alguma maré me leve ou traga algo diferente, como um raio de sol que contenha felicidade além deste corpo que há de ser pó e desalmado. Este amor louco que não conseguiu vazar de minhas mãos para tocar as suas, tocar seus olhos, sua boca e seu sexo tão tolo quanto um pudor inexplicável não foi forte o suficiente?

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-Se ao menos tivesse a coragem de dizer tudo isto, se ao menos o medo de que os próximos segundos fosse menor que a vontade de fazer destes melhores segundos sei que isto de certa forma me faria mais dono de mim, desprogramado e despreocupado. Pena que  tudo não passa de algo que imaginei.
-Se tivesse me dito tudo que parece ter pensado com certeza tudo seria diferente. Este seu sonho tem mais de verdade que qualquer brincadeira que se brinque. E de certo que eu aceitaria. Mas fica você aí pensando demais e passa da hora. Passa do dia. Não é mais quando deveria ser e as coisas começam a acabar, infelizmente o tempo não espera que o tempo seja certo. Não que tenha agido errado. É só que o certo não está escrito em nada, e de certo que não existe. Mas que as intenções eram reais e recíprocas, aposte que eram.

Improvável

Por que foi o vidro
que deixou de se quebrar
e sua voz que quedou-se silenciosa.
Para sempre.

Nem mais os gemidos
que o vinho e a falta de luz
contribuem;
nem mais um sussurro
e um "eu te amo"
ou mesmo um
"eu te odeio";
nem mais um espanto;
nem mais um medo da morte:
tudo calou-se em você.

Seu silêncio sepulcro
cala meu pulsar
e meu coração vermelho
perde para minha mente cinza,
feia.

Meu silêncio surge
como uma vontade horrenda
de gritar-me
e que minha laringe se revolte,
e que suas cordas desafinem,
e que suas vontades se exagerem.

Quem sabe se eu voltar
como alguém que a luz
não consegue produzir sombra,
alguém que o próprio peso
não possa produzir pegadas,
possa escolher
entre todas as coisas
que poderia sentir
e todas as coisas
que esta outra metade de mim
acha verdadeira, casta,
onipotente e de certa forma
divinamente cruel.

Estes dados viciados
que jogam comigo
e todas minhas idéias
já me fazem deixar de pensar
de fato tudo que eu tinha certeza,
tudo que era sistematizado,
e agora tenho certeza
que toda sistematização
me enfraquece.

Ah, seria bom
se todas minhas escolhas
soubessem ser aleatórias
ou escolherem-se por si mesmas,
poderia dormir eu tranquilo
sabendo que jamais cometera
um erro sequer em minha vida
mesmo sem ter a certeza
de que fui feliz como eu queria ser.

Até por que ser feliz como se quer
é diferente de ser feliz o quanto se pode.
Às vezes simplesmente escolhemos
nos entristecer.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Por Pouco!

Que sorte a minha!
Quase caio num caldeirão
de palavras melosas
e diabéticas.

E ainda por cima em inglês.
Imagina só?
Que seria eu
se dissesse coisas açucaradas
em outra língua?
Um metido a besta
disposto a vender-me
em palavras baratas
por alguma esperança
de que alguma desesperada
se esperançasse em mim.

Vida e Morte

Viver:
Estar sempre sobre a tênue linha
entre sentir-se só e estar só.
Acordar e sentir algum braço ao seu lado,
alguma mão que o procura pelo faro do tato.
Dividir pequenos espaços
e juntar miudezas de coisas grandes
para guardar em algum lugar entulhado
que nunca cabe mais que o desnecessário.
Acariciar suas vontades e provocá-las;
encurralar virtudes, guardar potes de cinzas memoráveis
e desperdiçar idéias irrecuperáveis.

Não-viver:
Esquecer-se de abrir os olhos
e de sentir o chão a seus pés.
Aprender a voar sem poder chegar perto do céu.
Deixar morrer as necessidades
e putrefazer os desejos.
Equilibrar-se numa corda sem risco de queda.
Cair de pé, não se machucar e não contar cicatrizes.
Ser pedra e jamais um tronco no rio.
Ser frio e jamais ser neve.
Ser santo e jamais ser puro.
Ser álcool e jamais bebida.

Morrer:
nada disto.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Juntos

Acordaremos sem saber
o que dizer, e assim,
seguiremos dizendo
sem saber o que queremos.

Andaremos sem saber
aonde queremos chegar
e esta aflição estará
a nos acompanhar
por toda esta longa estrada.

Olharemos uns nos olhos
dos outros sem saber
o que dizem, o que sentem, o que são.

Evitaremos tudo o que
sabemos nos magoar
mesmo sabendo
que pode ser o nosso melhor.
Mesmo que possa ser nossa
salvação,
nossa inspiração,
nossa vontade de querer mais.

E, lado a lado,
nos chamaremos de irmãos,
seremos um só
até que algum desejo nos separe.
E, separados,
seguiremos felizes para sempre.

Dormiremos na mesma cama,
compartilharemos sonhos,
teremos filhos,
acordaremos no meio da noite
e planejaremos viagens juntos
mas sem nunca saber
de nosso rancor contido,
de nossa fé desmantelada,
de nosso amor profundo,
de nosso ciúme contido,
de nosso carinho doentio,
de nossos desejos íntimos,
de nossas almas guardadas.


Velhos, andaremos juntos,
nos perguntaremos perguntas
velhas e contidas,
descobriremos respostas amargas
e respostas límpidas,
respostas de vida
e que jamais seriam escritas
nestes poemas
de amor e de ódio.
Simplesmente respostas
das coisas que acontecem
dia após dia,
ano após ano,
datas que consagramos nossas
e que enchemos de demasiados significados
e nos permitindo esquecer
quando foi que realmente
começamos a nos amar.

domingo, 13 de junho de 2010

O que seria o Mundo?

E se hoje tudo acordasse
com um dia diferente,
e tudo fosse diferente?

E se a tristeza
fosse só para poesias?
E se eu tivesse acordado
completamente sozinho?
E se eu deixasse de sonhar
e acordado tudo seria sonho?

E se eu me chamasse José
e tocasse a valsa vienense?
E se fosse eu quem tivesse
escrito "Vento no Litoral"?

E se não houvesse o café
para me despertar?
E se não houvesse
outros meios de sair de mim?
E se usássemos drogas
para ficarmos sóbrios?

E se Janis fosse careta?
E se Jimi perdesse o Woodstock?
E se o rock tivesse morrido
no "dia em que o rock morreu"?

E se a única e verdadeira religião
que nos salvaria do inferno fosse o politeísmo egípcio?
E se nada estiver certo
quem então estará errado?

E se a única certeza que julgamos ter
passasse a ser incerta?
E se perdêssemos nosso medo
onde estaria nossa coragem?

E se todas estas perguntas
tivessem resposta?
Acho que jamais teria coragem
de querer sabê-las.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Uninverso

Se a água lhe parece forte
e o ar tragado lhe estonteia:
não respire, não beba.

Sua vodca se embriaga de você,
seu cigarro fica doente,
seu ópio se sente bem,
seus ácidos se entorpecem,
alucinam.

Se as palavras não são suas,
diga.
Que mal há?
Seu silêncio
são palavras rudes, e daí?
Seu dinheiro lhe compra,
seu troco lhe paga,
sua vida lhe mata.

Tranque-se do lado de fora
do mundo
e viva sem saber por onde e porquê.
Essa seria minha vida
se soubesse eu
de cada passo,
de cada segundo
que perco ou ganho,
que gasto ou fico perdido
em meu mundo
longe do que mais gosto
e perto do que mais preciso.

Bem-estar

Hoje acordei
admirando minha imperfeição.
Coisa difícil
é admitirmos
iguais e passíveis
de erros, desleixos,
má-vontades.

Todos deixamos amigos de lado,
os trabalhos acumulamos até o último minuto,
o quarto permanece desarrumado
até quando não mais
nos encontramos nele.

Hoje não houve peso,
não houve suicídio,
não houve má vontade.
Tudo foi feito,
tudo saiu
nos conformes.

Sei que ainda me falta algo.
Mas sei que quando
chegar a hora de procurar
de alguma forma
eu vou saber.
Poucos, muito poucos
vão saber
do que sinto falta...

Frase Solta

Se sabemos porque gostamos de algo
é porque não gostamos o suficiente
para não saber por quê gostamos.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Um daqueles que a gente escreve totalmente bêbado, não entende o que disse mas que pareceu extremamente sonoro. Publicando na íntegra, completando o final (que era inacabado) e corrigido alguns erros de ortografia.
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Nada disso
é o que devemos escrever.

Jamais serei todas as pessoas
de Pessoa,
e nem tenho intenção de sê-lo.
Só quero mostrar
tudo que é contido
aqui nalgum lugar.
E sei que se algum lugar
não o rejeita
é que o fim não é este.

O fim, nem mesmo lembro
se já concebi tamanha importância!
E o meio? Deveras sapiência
despendiarias em meio a tantos
cordéis assombrados!

Não me esqueça do silêncio
mal pronunciado
entre teclas lacônicas
e secas,
traidoras e que podem dizer que
sõ curandeiras,
quando não são.

Só quero dizer:
saudade do tempo em que se dizia
"todos se passam por sábios
se souberem conter suas palavras estúpidas".