quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Longe

Foi pelo meu olhar encostado
que você se apaixonou
e me debrucei na música que você tocava
e nem percebi seus tons.

Não consegui ir atrás de você,
e não deixei pistas também.
Resolvi me mudar e sair para bem longe
mesmo sabendo que você estava bem ali,
tão perto que jamais consegui novamente
botar para dentro de minha pele
aquele velho coração de novo.

E desde então mudo de casa,
vou a muitos lugares e até
conheço gentes estranhas,
diferentes,
bonitas, feias, interessantes,
chatas,
mas nada mais
me será algo a mais.

E talvez eu seja mesmo sozinho
mesmo que me doa como a morte
e talvez mesmo eu mereça
carregar para sempre
esta frieza tão pesada
que passei a me cobrir.

Antes do Silêncio

Não quero mais escrever
o que não diz nada.

Por isto e por enquanto,
estas são minhas últimas palavras:
nada, nada, nada.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Lícitos

Pego meu isqueiro
acendo e fumo Bandeira.
Sinto minha escavação
no pulmão esquerdo.

Cheiro Freud e compreendo as coisas.
Elas passam a se auto-explicarem.
Incrível.

Bebo Kerouac e passo mal.
Tusso, mas trago mesmo assim.
Sinto todo seu álcool,
todo seu ácido
e toda sua idéia despejada.

E Dalí, fico a ver as imagens distorcidas
e minha imaginação não se aquieta.
Fica ali voando por onde acha
que tem que voar.

O que vejo em Pessoa me é inédito
e me dou vários nomes,
e nasci em vários lugares.
E por quê não, se sou tão diferente de mim mesmo?

E no meu copo de whisky,
sei que há um Poetinha lá,
um pouco Vinícius e um pouco whisky mesmo,
sempre muito bem acompanhado
e feliz, mesmo quando triste.

Nas veias, um pouco Hendrix,
um pouco Joplin
e me sinto bem.
Começo a tremer,
a me debater,
é inevitável.

Depois de tanta coisa assim
sempre vem a overdose.
Mas foi intencional:
me matei.
Estou no limbo.
E o impressionante
é que só minha cabeça dói.
Esta ressaca nunca tem fim.
Não importa o que você leia
ou veja ou sinta:
a cabeça vai doer.
Eu sei que não é bem assim
e que tudo é muito mais dramático
do que parece.
Somos todos heróis.
Super-heróis.
Somos mais fortes, somos diferentes.

Não há nada mais sincero
do que meu violão desafinado
e minha mentira escancarada.
Minto para me manter
homem digno do que sempre quis ser,
de maneira que se esperava recebê-la
(a mentira)...

Mas não pense
que senti pena por compaixão.
Foi um pouco por amizade.
Um pouco por alívio
mas muito foi por tudo que eu sabia
que jamais você se daria
e que eu me daria até o resto de minha vida.
Se suas súplicas me conquistassem também,
e suas incapacidades físicas,
e sua compaixão pela religião inquestionável,
tudo se tornaria claro demais.

Não sei nada do que deveria falar
mas não me sinto confortável assim
ao ponto de me defender abertamente.