terça-feira, 23 de junho de 2009

Questão (2)

Alguém entendeu o texto aí de baixo???
Façam suas interpretações. Dou-lhe uma...dou-lhe duas...
Não sei bem de onde veio, mas resolvi escrever!

Questão

-Sabe o que eu queria saber?
-O quê?
-O quê.
-O quê?
-O quê o quê?
-O quê queria?
-O quê queria o quê?
-Mas que quê?
-O quê. Parecido com que, mas era quê.
-Que quê?
-O que queria saber!
-Quem queria saber?
-O que queria.
-Quem?
-Quem quer que quisesse.
-E você?
-Era o que eu queria saber.

terça-feira, 16 de junho de 2009

One Art

Bom, no texto anterior eu citei "One art", da escritora estadunidense Elizabeth Bishop. Vou postar aqui pois ele na íntegra faz muito mais sentido. Um belo poema.
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One Art

The art of losing isn't hard to master;

so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

--Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

Elizabeth Bishop

Perdas, perdas, perdas

Às vezes, parece que está tudo errado, tudo pelo avesso. A vida tem esse jeito meio estranho de nos mostrar as coisas como realmente elas são. A gente começa a se apegar demais em alguém, e esse alguém lhe escorre pelos dedos, como água fria de inverno que tentamos segurar para lavar o rosto. A gente começa a gostar demais de nós mesmos, e aparece alguém para tirar esse amor, para dividir. E aí começa tudo de novo. Até quando? Ainda não tenho maturidade para saber, admito. Pode ser que pare um dia. Nunca aconteceu comigo.
Ainda, a gente quer crescer logo. A gente quer ficar velho. Com 12 anos, a gente quer ter 16 para começar a sair. Com 16, queremos os 18 para poder dirigir e entrar para a faculdade. Com 18, queremos ter 25 para sair da faculdade. E por aí vai. Também não sei o limite disso. Só sei que está tudo errado. A gente quer envelhecer, mas nem lembramos que ficar velho significa ter cada vez menos tempo com cada pessoa que amamos e queremos ao nosso lado. E assim, a gente só vai vivendo, dia-a-dia, querendo que esse maldito dia acabe logo. E quando nos damos conta, terminamos um namoro, mudamos de cidade, mudamos para longe dos pais, dos amigos, isso sem ser muito dramático. E aí, queremos que tudo volte. E não volta.
Vamos fazer novos amigos, vamos namorar de novo, vamos rever nossos pais, dar-lhes-emos netos, e vamos querer que tudo passe logo. Para chegar nas férias, que vão realmente passar rápido. Vamos querer que passe para ver nossos filhos evoluírem nos estudos (será que vai ser assim mesmo?), mas também vamos querer que eles fiquem sempre pedindo colo, pedindo um lanche, aquele doce que só as mães fazem.
E acho que muito do que a gente sofre é por isso. A gente fica com medo de não ter outra namorada, de perder os amigos, de passar pouco tempo com os pais, se distanciar da família. A gente fica com medo de mudar, e pensa demais nisso. A gente tem que aprender a mudar, e queria tanto que alguém mo ensinasse. Aí vem aquela velho, mas não pouco correto, chavão: "a gente tem que sofrer para aprender". E se a gente aprendesse a não sofrer? Pelo menos não sofrer tanto...
Fico pensando agora no quanto a gente tem que se deixar amar alguém, o quanto devemos depender de alguém, o quanto devemos nos prender aos outros, não só cônjuges, mas todos de quem gostamos. Devia ter uma fórmula matemática para isso, algum psico-matemático deveria trabalhar nisso. É só que tudo parece errado: quanto mais nos apegamos, mais nos afastamos... ou talvez seja só uma dorzinha de cotovelo que me faz falar pelos cotovelos. É que é uma noite fria, me demoro a dormir. Eu só queria que o tempo tivesse parado, que tudo fosse uma rotina, mas sem que a gente soubesse que era uma rotina. Difícil explicar, mas é tão claro na minha cabeça. A gente teria certeza que era feliz, por que não haveríamos de saber que não éramos felizes. Pelo jeito vou ter que reaprender a ver tudo como era antes, antes de saber que se podia perder qualquer coisa. Vou ter de aprender a perder. Como disse Elizabeth Bishop:

"--Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster."

É o que vou fazer: aprender a perder. Nada mais justo do que seguir a vida, mostrar-se forte e sentir-se forte, superando tudo que temos que suportar. Mais um velho chavão: e a vida continua!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Precisa-se de poetas

Ah, era só plantar, que dava. Jogava-se uma palavra qualquer, nem precisava ser dessas rebuscadas, antigas, e nascia Camões. Se fosse um verbo, talvez viesse Drummond, mas um substantivo, com certeza era Pessoa.
Em terra tão boa, não tinha ouro, não brotava diamante, nem jorrava petróleo. Mas semente jogada era semente plantada. Mas logo trouxeram os tratores, pisotearam terra tão vasta, cravejaram-na de cravos, pneus, lonas, arados. Virou terra devassa. Assim, de perna aberta mesmo, como essas mulheres de cabaré. Cabarés de Noel, ou mesmo Álvares de Azevedo.
Lógico, não ficou barato. A terra não quis mais ser assim, tão bondosa, tão cheia de substância. Ficou ali, na espreita, guardando tudo que tinha até as próximas das próximas, das posteriores das posteriores das póstumas gerações que a tratassem com carinho, para, então jorrar a essas gerações todo tipo de poemas e histórias que encantariam todas as gerações depois destas.
Mas demorou tanto, que ninguém nem sabia que terra boa era aquela. Uma terra com outrora tantos adjetivos, não continha mais que dejetos, tamanha negligência para esta terrinha.
Um velho lavrador, no entanto, nunca se assusta ao ver tanta coisa bonita escrita entre uma mudinha de poeta e outra, pois é ele quem guarda, ali mesmo, naquele velho sítio, tão pobrezinho e tão cheio de nada, que até parece vazio de tudo, o coração triste a amargurado daquela velha terrinha, que estava lá tanto tempo antes, tranquila em seus afazeres teatrais, em suas mágicas tão virtuais, capazes de gerar vida continuamente dentro de si, mas que agora é usada e abusada, no sentido sexual mesmo, por gananciosos que nem por porcos passariam.
Não, até em porco tem poesia. Mas coitada da terra, já nem sabe mais onde fica. Nem tem mais vizinhas. Mudaram-se, com medo que esse mato podre apodrecesse todas elas.
Precisamos mesmo é de poetas.