segunda-feira, 26 de abril de 2010

Me Conterei

A música calma explode
e a voz suave sussurra algum consolo
menos importante
que o som puro lindo desta voz.

Os sons me fazem pensar que quero escrever
e fico vários segundos ou minutos
(o tempo é estranho!)
esperando que venha alguma idéia.

Esperando, sei que vem algo.
Talvez um sentimento esquecido
que nem sei mais do que se trata.

Me pergunto por quê não senti
todas as dores na hora certa
e não estaria aqui agora, perdido
sabendo que estou sentindo
algo tão forte que poderia me fazer voar
mas que nem bem sei porque sinto.

Não, isto não é sobre namoros,
sobre amores incorrespondidos,
correspondências extraviadas
ou traumas de infância.
É cansaço.
Olhar o céu de noite,
achar lindo todas as noites
as poucas estrelas
que as luzes da cidade
insistem em esconder,
não entender o porque daquilo tudo,
e ver que é tudo sempre igual,
e tudo foi sempre igual,
e saber que ninguém, ninguém
acha isso demais.

É talvez a percepção
de que venho me anestesiando
por tempo demais.
Venho me deixando levar demais
esperando que haja alguma maré.
Esperando que aja alguma maré.

Pela primeira vez hoje
prestei alguma atenção
no que tenho dito.
Eu queria explodir,
queria pular,
queria gritar.
Mas não sou artista, não sou músico,
não sou poeta, não sou nada.
Estou descalço e de pés sujos
na sala de minha casa,
falando mal de minha aldeia
e tentando me controlar.

domingo, 25 de abril de 2010

Me calarei

Nem por isso vão parar
as colunas sociais, e nem por nada.
E o que têm de sociais
quando são por demais anti-sociais.

Riem da pobreza,
riem da avareza
e a ostentam como beleza.

Quem sou eu
para dizer tanta besteira,
meu Deus,
se nem mesmo neste deus acredito?

Quem sou eu, diga lá!
Ainda bem que não sou bardo,
não canto e não grito.

Talvez se houvesse o rádio
(para o meu grito)
ou talvez se tudo parasse
para consertarmos tudo.
Mas a merda está feita.

Maldito palavreado
que não se contém
e salta da ponta de meus dedos.

Palavras, contenham-se,
senão acabo dizendo
o que acaba por me contradizer.

Pequeno

Posso dar quantos passos largos quiser
que jamais vou atravessar o atlântico
e ver o mundo com outros olhos.

Minha Aldeia

O rio da minha aldeia
não é mais bonito que o Tejo.
Não é nem o mais bonito rio
que corre na minha aldeia
mesmo sendo o único rio
da minha aldeia.
Ele é sujo e com espuma,
espuma de detergente,
espuma de ter gente.

As pessoas da minha aldeia
não se importam que eu seja um hipócrita
e diga coisas feias sobre elas.
Elas nem sabem do que digo.
Eu sei o que elas querem,
e sei também o que minha aldeia quer.
Elas querem ter para sempre
o pai rico de hoje, mas longe;
mas isto não acontece.
Elas querem todas as aparências,
suas casas mal arrumadas
e suas roupas bem comportadas,
suas preocupações de menos
e seus carros demais,
suas histórias mal contadas
e suas festas baratas.
Minha aldeia
quer algum tipo de fogo,
algum tipo de ódio,
algum tipo de repulsa
que eu não estou disposto a dar.
Muito do meu mundo foi este
e não sou eu quem quer
afogar os olhos sedentos
das pessoas da minha aldeia.
Agora confesso que já não sei mais
o que eu quero e tampouco
o que minha aldeia ou suas pessoas querem.
"O triste nisso tudo é que eu sei disso
eu vivo disto e além disso
eu quero sempre mais e mais!"
Cruel.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Todos Meus Erros

O que não sei
me faz odiar tudo que sei
pois é exatamente o que eu sei
que me faz grosseiro,
me faz capacho
e me dá autoridade
de crer-me certo.

O que não sei
me faz errar e me cair o mundo
e me faz descrer
em minha prepotência.

E aí acabo por aí
fraco e me desfazendo,
escapando e perdendo algo
(muito importante)
dentro de mim.

Eu odeio tudo que sei
pois sei
que jamais saberei tudo
e estarei sempre
cometendo erros
e sendo incompleto.

Mas que seria
da beleza da vida
se não errássemos?

Que venha o próximo erro.
Eu só não sei
se estarei preparado para ele!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Auto-retrato

Se ao menos eu tivesse a certeza
de que eu sei o que quero
só para realmente saber
se não são meus pés
que estão a me guiar
já acordaria todo dia
um pouco mais disposto.

Com certeza havia outras maneiras
que eu pudesse dizer tudo isto,
mas do jeito que eu disse
outro jamais poderia dizer.
Não por falta de criatividade,
mas por falta de mim.

Certo da minha imprecisão,
sei o quanto sou exato.
Sei que errei e um erro
jamais é perdoado por completo.
O que quero é confiança
pois sei que poucos
podem aprender mais com os erros
do que eu.
Sou simples de coração,
complexo de cabeça.

sábado, 17 de abril de 2010

Mundo Pesado

Não importa se o tempo tenha passado
ou se não havia tanta amizade.
É tudo tão mais importante...

Embriagado de tanta covardia,
tomou dos maiores remédios: a coragem.
Se matou.
E até mesmo quem estava longe
sentiu as ondas do terremoto.
Mesmo quem estava por fora
e que jamais poderia te ajudar,
e não tinha mesmo tanta intimidade,
mas que já sentou
na mesma mesa de bar,
já falou besteira
e pulou bêbado na piscina.
Foi só isso.

Só espero que a morte
não tenha vindo a ti
tão amarga quanto a vida
e que o deus que te acolha
seja o deus bom,
e não o deus mal
que todos insistem em criar.

Que seja o deus
que entenda suas razões,
por mais difícil que isto seja
e por mais anti-ateu que isto pareça:
que exista um deus sem nenhuma religião
que te acolha.

E para os que estão do lado de cá,
não há culpados, durmam em paz.
"A dor é minha,
a dor é de quem tem".
O mundo era muito mais pesado
e os ombros eram sensíveis.
Acontece. Infelizmente.
Seguiremos nossa vida.
Não há mais o que fazer.

Descanse em paz!

My Dream...

I don't know me
I don't know myself,
mas sou este homem que sou.
Sou as formas de se errar
quando se diz qualquer coisa;
sou o certo quando se escreve.

Gosto de estar sozinho,
olhar algum jantar à minha frente
e esquecer que amanhã
teremos tanto que vender
que jamais nos lembraremos
quanto realmente valemos.

Sei que valemos muito mais
do  que imaginamos,
mas não sei o quanto vale
uma imaginação.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Atenção tripulação

Atenção tripulação: jamais cliquem em "vizualizar meu perfil completo". A informação por si só é falsa e indecorosa. O perfil de um qualquer jamais é algum dia íntegro ou mesmo completo. Meu perfil é hoje o que jamais será amanhã!

Faroeste

Aqui propositadamente e ordenadamente
vêm as palavras dizer sobre os que fazem calar.
São eles:
Os que ensinam que o tempo é curto e que a morte é certa
mas que se deixam morrer ociosos e niilistas ao longo do dia;
os que ensinam o valor do dinheiro e do salário e do suor
mas que se esquecem do valor do sentimento alheio e das pessoas;
os que sabem da vida e viajaram o mundo todo e toda sua bicentena de países
mas que se recusam a saber e conhecer seu próprio país;
os que sabem de toda a teoria do caos, estatísticas e suas incertezas
mas não têm nenhum dado sobre a felicidade, absoluta ou relativa das pessoas.
os que crêem cegamente na vontade humana e na existência de oportunidades iguais
mas que se esquecem dos desertos, guerras, viadutos e fomes;
Os que acreditam em todos os livros, poesias e toda a ciência
e não se lembram que sentir é muito, muito mais que imaginar;
e finalmente, os doutores de todas as ciências, lugares e sentimentos
que se esquecem de se calar e não aborrecer as pessoas:
esta cidade é pequena demais para nós dois!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Aê, meu velho!

Em consideração a meu amigo
que anda por aí sem se inspirar,
à toa e compulsoriamente
(ou não)
de greve,
divido minha falta de inspiração.

Divido meu silêncio
pelas coisas que acontecem
e não viram poemas seus,
divido meus ouvidos
pois talvez se ouvirmos juntos
podemos ouvir sons diferentes,
que nem sons precisam ser.

Mas quero dividir mesmo
é minha experiência:
é mesmo uma merda
sentar, tentar, pensar,
escolher, mudar, tentar,
transpirar,
e não vir nada!

O que costuma funcionar:
um bom livro de poesias
(Drummond, Pessoa,
Quintana, Neruda, você sabe)
e uma boa fonte de álcool.
A gente se solta.
Diz coisas que não se lembra
que nem tem nexo.
Mas são boas!

Estou aqui esperando
que cesse seu afã
com um daqueles
dignos de molduras
banhadas a ouro
e perfumadas a diamante
que a gente só faz
de vez em quando!

Abraços, e não p(á)ara!

Tristes Coisas que Escrevo

Não escrevo coisas tristes
Porque sou triste.
Escrevo coisas tristes
Porque são belas.

Gosto de olhar este lado
Melancólico e que traz
Todo tipo de pensamento.

Me finjo apaixonado
Para ter o que dizer,
Ter o que contar,
Ter o que confidenciar,
Pois tenho de cumprir o meu papel
De desabafar
(mesmo que não tenha nada para isto).

Vejo você se deitar,
Vejo deitar o sino
Que me anuncia triste,
E volta me badalando feliz.

Sou o que quero ser,
Sinto o que quero sentir.

Minha moeda tem duas coroas
E é especial por isto.
Assim tenho a sorte que escolho ter.
Sou autônomo. Sou meu próprio cassino.
Tento a minha sorte,
Mas ganho, pois minha sorte sou eu.
(Eu só jogo comigo mesmo
E contra mim)!

Não vou me esquecer de apagar a luz,
Pois quero ver seus olhos fecharem
E seguir tranqüilo
Sabendo que posso muito bem escolher
O que sinto por você!

Regressão

Já fui a Europa e todos seus países,
já fui toda a raiva do The Who,
já fui um átomo e uma célula,
já fui Sol e estrelas.
Já fui até Galáxia.

Depois, inventei de ser homem.
Inventei que tinha algo para inventar.
Inventei fórmulas matemáticas
que ninguém precisa calcular.
Mas quis ser apenas homem.

Quando pude escolher,
baixei a guarda,
quis simplesmente andar
e ver onde podia chegar,
eu e minha sombra.

Já fui o Monte Everest
e as fossas Mariana,
fui toda a natureza,
fui cigarro e fui câncer.
Matei e morri.

Mas desde que inventei de ser homem
nunca mais desisti
porque jamais sei
onde é que chegarei.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sinto

Hoje sinto que sinto muito!
Sinto que sinto falta de você,
mas não é a falta que sinto
que me faz falta.
É a falta do que sinto
que me faz sentir que falta mais
algo do que simplesmente
o que consigo sentir!

Sinto, de verdade,
que não me sinto seguro,
então por que agora
tenho de acreditar
que cinto de segurança
pode me fazer sentir seguro?
Sinto, cinto, cinta,
qual a diferença
quando o importante mesmo
é sentir?