sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Relógio

Enquanto vamos vivendo
a base de toda essa miséria
que nos foi dada de tempo,
em que tudo é contado
de trás para frente,
há um tempo paralelo.

Esse tempo anda para frente,
não é reversível,
não tem contagem regressiva.
É infinito, mas cada segundo
é crucial, não deveria ser perdido.

Temos nosso próprio tempo,
que nos livramos tal qual
boletos, papéis, poemas e fotos.
E, subitamente, nos arrependemos.

Será que precisamos
ser sempre acesos?
Atentos?

Subitamente, preciso me acalmar.
Onde está meu tempo?
Aquele tempo, parado.
Aqueles tempos onde me encontro,
onde penso, porém,
sem filosofia alguma.

Filosofia é coisa complexa.
Preciso de futilidades,
beber, sair, não pensar.
Passar uma tarde inteira
só vendo vistas,
coisas,
paisagens,
tetos,
imagens.
Vendo.

Escutando música à toa,
extravasar, aliviar.
Fluir, sair, olhar, ver.
Livre, enquanto o tempo é meu

E logo, prenderão esse meu tempo,
me lembrarão que sou mais um,
compartilho um tempo com todos,
devo um tempo a eles,
responsabilidades, infartos,
fumos, fumaça, cigarro,
anti-cronômetros.

E ali estou eu, olhando o relógio
que marca o meu compasso,
que indica, a cada segundo,
que ele não é meu;
pertence às horas.
Que não são minhas.

Que me roubam.
Me levam onde tenho que estar,
mas não quero estar.
E vou, seguindo este círculo
de dúzias repetitivo,
que traz a cada novo dia
as novidades do dia anterior,
para sermos cada vez mais
afastados de nós mesmos!

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