terça-feira, 16 de junho de 2009

Perdas, perdas, perdas

Às vezes, parece que está tudo errado, tudo pelo avesso. A vida tem esse jeito meio estranho de nos mostrar as coisas como realmente elas são. A gente começa a se apegar demais em alguém, e esse alguém lhe escorre pelos dedos, como água fria de inverno que tentamos segurar para lavar o rosto. A gente começa a gostar demais de nós mesmos, e aparece alguém para tirar esse amor, para dividir. E aí começa tudo de novo. Até quando? Ainda não tenho maturidade para saber, admito. Pode ser que pare um dia. Nunca aconteceu comigo.
Ainda, a gente quer crescer logo. A gente quer ficar velho. Com 12 anos, a gente quer ter 16 para começar a sair. Com 16, queremos os 18 para poder dirigir e entrar para a faculdade. Com 18, queremos ter 25 para sair da faculdade. E por aí vai. Também não sei o limite disso. Só sei que está tudo errado. A gente quer envelhecer, mas nem lembramos que ficar velho significa ter cada vez menos tempo com cada pessoa que amamos e queremos ao nosso lado. E assim, a gente só vai vivendo, dia-a-dia, querendo que esse maldito dia acabe logo. E quando nos damos conta, terminamos um namoro, mudamos de cidade, mudamos para longe dos pais, dos amigos, isso sem ser muito dramático. E aí, queremos que tudo volte. E não volta.
Vamos fazer novos amigos, vamos namorar de novo, vamos rever nossos pais, dar-lhes-emos netos, e vamos querer que tudo passe logo. Para chegar nas férias, que vão realmente passar rápido. Vamos querer que passe para ver nossos filhos evoluírem nos estudos (será que vai ser assim mesmo?), mas também vamos querer que eles fiquem sempre pedindo colo, pedindo um lanche, aquele doce que só as mães fazem.
E acho que muito do que a gente sofre é por isso. A gente fica com medo de não ter outra namorada, de perder os amigos, de passar pouco tempo com os pais, se distanciar da família. A gente fica com medo de mudar, e pensa demais nisso. A gente tem que aprender a mudar, e queria tanto que alguém mo ensinasse. Aí vem aquela velho, mas não pouco correto, chavão: "a gente tem que sofrer para aprender". E se a gente aprendesse a não sofrer? Pelo menos não sofrer tanto...
Fico pensando agora no quanto a gente tem que se deixar amar alguém, o quanto devemos depender de alguém, o quanto devemos nos prender aos outros, não só cônjuges, mas todos de quem gostamos. Devia ter uma fórmula matemática para isso, algum psico-matemático deveria trabalhar nisso. É só que tudo parece errado: quanto mais nos apegamos, mais nos afastamos... ou talvez seja só uma dorzinha de cotovelo que me faz falar pelos cotovelos. É que é uma noite fria, me demoro a dormir. Eu só queria que o tempo tivesse parado, que tudo fosse uma rotina, mas sem que a gente soubesse que era uma rotina. Difícil explicar, mas é tão claro na minha cabeça. A gente teria certeza que era feliz, por que não haveríamos de saber que não éramos felizes. Pelo jeito vou ter que reaprender a ver tudo como era antes, antes de saber que se podia perder qualquer coisa. Vou ter de aprender a perder. Como disse Elizabeth Bishop:

"--Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster."

É o que vou fazer: aprender a perder. Nada mais justo do que seguir a vida, mostrar-se forte e sentir-se forte, superando tudo que temos que suportar. Mais um velho chavão: e a vida continua!

Um comentário:

Maurício Campos Mena disse...

Quando um dia pensei como você, eu me assegurei de que tinha achado a mais linda forma de viver. De saber onde pisar, de respeitar o meu erro porque os erros acontecem e se punir por eles pode ser encadear mais deles. Só colocaria meu boné onde eu poderia apanhá-lo. Poderia aprender mais, pois não pensaria no erro, ele me atinaria que chegou e eu faria de desentendido. A felicidade dos ignorantes, sabe? Ela é linda. É o ideal de felicidade, é o que quero pra mim como quero uma casa no campo, humilde assim. Sincero assim.
Mas daí veio alguém e gozou do meu sapato ou da minha bermuda e eu errei: pensei no erro e me prendi a ele. E não aprendi o novo ensinamento que veio depois, pois estava sufocado.
Pensei: que grande bosta é isso tudo? Me proponho a ser feliz e meu medo mais idiota, me rouba minha perspectiva.
Por isso eu digo: pais não dêem medos aos seus filhos.

Mas tudo isso é uma mentira. Creia no que pensa, não ouça o que digo. Pois nesse instante eu quero ser igual a você. Quero ser o seu texto.

Abraço muleque!

*Me lembrou um post meu "Se eu tivesse um mundo", depois dá uma olhada.