terça-feira, 2 de junho de 2009

Precisa-se de poetas

Ah, era só plantar, que dava. Jogava-se uma palavra qualquer, nem precisava ser dessas rebuscadas, antigas, e nascia Camões. Se fosse um verbo, talvez viesse Drummond, mas um substantivo, com certeza era Pessoa.
Em terra tão boa, não tinha ouro, não brotava diamante, nem jorrava petróleo. Mas semente jogada era semente plantada. Mas logo trouxeram os tratores, pisotearam terra tão vasta, cravejaram-na de cravos, pneus, lonas, arados. Virou terra devassa. Assim, de perna aberta mesmo, como essas mulheres de cabaré. Cabarés de Noel, ou mesmo Álvares de Azevedo.
Lógico, não ficou barato. A terra não quis mais ser assim, tão bondosa, tão cheia de substância. Ficou ali, na espreita, guardando tudo que tinha até as próximas das próximas, das posteriores das posteriores das póstumas gerações que a tratassem com carinho, para, então jorrar a essas gerações todo tipo de poemas e histórias que encantariam todas as gerações depois destas.
Mas demorou tanto, que ninguém nem sabia que terra boa era aquela. Uma terra com outrora tantos adjetivos, não continha mais que dejetos, tamanha negligência para esta terrinha.
Um velho lavrador, no entanto, nunca se assusta ao ver tanta coisa bonita escrita entre uma mudinha de poeta e outra, pois é ele quem guarda, ali mesmo, naquele velho sítio, tão pobrezinho e tão cheio de nada, que até parece vazio de tudo, o coração triste a amargurado daquela velha terrinha, que estava lá tanto tempo antes, tranquila em seus afazeres teatrais, em suas mágicas tão virtuais, capazes de gerar vida continuamente dentro de si, mas que agora é usada e abusada, no sentido sexual mesmo, por gananciosos que nem por porcos passariam.
Não, até em porco tem poesia. Mas coitada da terra, já nem sabe mais onde fica. Nem tem mais vizinhas. Mudaram-se, com medo que esse mato podre apodrecesse todas elas.
Precisamos mesmo é de poetas.

Um comentário:

Maurício Campos Mena disse...

E continuarmos só por aqui nos faz poetas? É preciso mais. Que seja apenas uma provação.

Belo texto, técão, tem a simplicidade, que é tão complexa.

se liga lá no meu blog...presentinho pra você!