terça-feira, 12 de outubro de 2010

Estrofe

É como se o meu ouvir
não soubesse mais onde entrar
para me fazer aprender
que todos os meus erros
são tão pequenos
e crescem tão absurdamente,
têm consequências catastróficas,
pois muitas são as pessoas
que por bem ou por mal
fiz se interessarem
por quem eu sou
ou por quem elas acham que eu sou
(e nem eu mesmo sei mais de mim),
me esculpi nesta forma
e agora se sou sincero comigo mesmo
engano a sociedade. Vice-versa.
Aqui sou pouca rima,
aponto o dedo muito para mim mesmo.
Mas adoro falar de vocês a mim mesmo.
Falo mal, falo muito, e às vezes mando me calar.
Claro que a desobediência me é inata.
Dentro tenho minhas estrofes musicais
decassílabos e redondilhas perfeitas.
Mas nem gosto de usar. Faço por falta do que fazer.
Sou muito ocupado, é isso que sou.
Sou folgado, fico me desperdiçando.
Desgastando meus dedos, meu cérebro,
minhas retinas (que me odeiam),
meus tímpanos, coitados,
jamais tive a decência de escutar seus gemidos
uma vez sequer.
E fico fazendo rodeios
cheios de tentar me engrandecer com eles,
mas perco amigos,
perco a piada,
perco bebedeiras e festas,
deixo de encontrar algum amor,
deixo de transar,
deixo me levar sem nem perguntar
onde é que a maré me afogará.
Pois nalgum momento haverá de ocorrer:
faltará oxigênio e minhas funções vitais serão esquecidas.
Sem cerebelo, sem bulbo, sem voz, sem ar, sem marcapasso.
Sem pulso.
Mas aquele velho relógio estará lá
me lembrando de todas as horas
que ele ficou com seus ponteiros girando e girando
tentando me avisar que aquela merda de barulho
(tic tac tic tac tic tac tic tac)
é só o tempo se quebrando em pedaços cada vez menores
esmigalhados até partículas subatômicas
sem sentido e irreconciliáveis
até que deixasse de sobrar matéria alguma.
Sobraria energia, talvez.
Acho que não.
Algo tem que se perder. Nem que seja uma coisa só.
Nem que seja um coração partido.

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