quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cravos

Eram apenas flores no horizonte
cravos enfiados em rifles,
atingiam como estacas aveludadas
incapazes de trazer para fora
o sangue do coração,
vermelho pelo ardor
de tudo que vemos ao redor
e escondemos nossos rostos
com medo de que nos atinja
e que nos vejam.

As pessoas caminham por ali
e despercebidamente deixam perder
aquelas lições de antes,
aquelas árduas lições
aprendidas a ferro e fogo,
imortalizadas pelas cicatrizes
que ainda doem no frio,
que ainda são sensíveis.

Mas as outras pessoas vão morrendo
e este sentimento
é intimista demais.
Mesmo que não morram as pessoas,
elas morrem. Por dentro. Bem pouquinho.
Mas pouquinho a cada dia.
As cicatrizes doem no frio
mas não ardem como feridas abertas.
Abertas como o peito
dos que ainda se importam
em nos passar a lição.

É quando percebo
que eu mesmo
nunca tive feridas.
Apesar de imaginar como doem
nunca me arrisquei o suficiente.
Nunca fui eu
a colocar os cravos em rifles
e silenciar as pessoas
por ter algo importante a dizer.

Os coadjuvantes estão lá
mas eles simplesmente não existem.
Eu não existo.

Um comentário:

Carolina D. R. disse...
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