domingo, 5 de dezembro de 2010

Lícitos

Pego meu isqueiro
acendo e fumo Bandeira.
Sinto minha escavação
no pulmão esquerdo.

Cheiro Freud e compreendo as coisas.
Elas passam a se auto-explicarem.
Incrível.

Bebo Kerouac e passo mal.
Tusso, mas trago mesmo assim.
Sinto todo seu álcool,
todo seu ácido
e toda sua idéia despejada.

E Dalí, fico a ver as imagens distorcidas
e minha imaginação não se aquieta.
Fica ali voando por onde acha
que tem que voar.

O que vejo em Pessoa me é inédito
e me dou vários nomes,
e nasci em vários lugares.
E por quê não, se sou tão diferente de mim mesmo?

E no meu copo de whisky,
sei que há um Poetinha lá,
um pouco Vinícius e um pouco whisky mesmo,
sempre muito bem acompanhado
e feliz, mesmo quando triste.

Nas veias, um pouco Hendrix,
um pouco Joplin
e me sinto bem.
Começo a tremer,
a me debater,
é inevitável.

Depois de tanta coisa assim
sempre vem a overdose.
Mas foi intencional:
me matei.
Estou no limbo.
E o impressionante
é que só minha cabeça dói.
Esta ressaca nunca tem fim.
Não importa o que você leia
ou veja ou sinta:
a cabeça vai doer.

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