sábado, 2 de julho de 2011

A Obra

Mesmo que seja genial,
jamais direi aos outros o quanto é genial
pois a maior genialidade de todas
é simplesmente descobrir
por si só
o quão grande, importante,
feroz, arcaico, impressionante,
megalomaníaco
algo é.
Se se diz, perde-se tudo, então.

Tudo que é obra de arte
é sempre mais obra do que arte,
assim como construção
é mais arte do que obra.
E todo pedreiro sabe.
Embora nunca pedreiro algum olhe
e ache grande as paredes erguidas
de seus cinco dedos em cada mão.

"É obra", ouvi muito dizer
(vovó sempre dizia),
e sempre sem muito compreender,
respondia "é mesmo?",
sem nunca compreender ao certo
o quão grande estas coisas eram,
puta geniais!

Meu projeto de gente
sempre foi demais,
de sentir demais,
tentar ver tudo que não é meu
como tudo que fosse a maior coisa do mundo,
num mundo de coisas pequenas
ver que tudo é grande,
observar os detalhes
e deles caracterizar tudo,
embora não passasse
de um sentimento de sentimento.

Sempre foi tudo na verdade
querer sentir,
querer amar,
querer uma mulher,
querer um emprego,
querer escrever,
querer comprar,
querer beber,
querer dirigir,
querer querer,
querer poder querer.
Mas sempre faltou sensibilidade.
A sensibilidade  de distinguir
o grande do elefante,
o branco do sem cor,
o detalhe do casual,
o refletir do pensamento,
o tato da rugosidade,
o conhecimento do certo,
a lucidez da sobriedade,
o bom senso da engenharia,
a felicidade da falta de tristeza.

A lição de casa mais difícil
é a que sabemos de cor.
Mais enrolamos a fazer.
Menos nos desafiamos por sabermos o resultado final,
mas é a diferença
não ao final do dia,
mas ao final dos anos e décadas, talvez.
Seremos o que tanto nos esforçamos para construir
ou simplesmente o que fomos construidos antes de nos esforçar?

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