terça-feira, 23 de outubro de 2007

Eterno inexistente

Confio na finitude de todo o ser,
de todo meu sono,
de tudo que por mim passa
em pensamento, devaneios, contatos.

Confio em tudo que transinge,
até tenho medo do que não passa,
não cede ou finda.

Assim, sinto-me confortável,
saber que nada permanece,
sinto bem em saber que o que está acontecendo
apenas está, e não, nem nunca, é.
Assim sinto que a mudança é normal.
Assim sinto que se transforma um passado conformado em chumbo
num passado mais leve, descarregado,
um passado realmente passado.

Não que tenha sido um passado ruim,
ou um passado que não valesse a pena ser lembrado,
justamente o contrário.
Vale tanto ser lembrado que dói,
uma dor boa, e dolorida.
Uma dor que sabe por que dói.
Dói lembrar de como eram bons outros tempos,
mas alegra-me saber que continuo em bons tempos,
e que já houve outros bons tempos, passados.
Mas uma nostalgia assim que permanece, me assusta.
Por isso confio no finito.
Creio que o tempo não é infinito nem para o que é supremo.

Gosto de pensar que tudo passa,
mas temo acreditar nisso,
temo sempre perder os bons momentos de agora,
temo não ser tão intenso,
quem sabe, não aproveito todos os momentos?
Gosto de sentir o sono chegar, mas, longe dele,
me conforta a idéia de que ele não é eterno,
de que ele também passa.

Gosto de ter o presente como uma fina membrana
entre passado e futuro,
infinitesimal, inexistente e, ironicamente,
sempre presente.

Um comentário:

Unknown disse...

Não acreditei quando li que nao havia sido feito nenhum comentário até agora...
Não sabia que vc era assim. Mas fico feliz porque seja. Excelente seu poema!
Quem sabe ano que vem eu tambem nao crio um blog pra publicar os meus. =]

beijos, esposa.