terça-feira, 27 de novembro de 2007

Inutilidade

Lembraram-me de algo que eu gostaria sempre de lembrar aos outros. Passo a maior parte do meu dia fazendo coisas que supostamente não deveria fazer. O dia quase todo, perco meu tempo com perder tempo, com conversar sobre nada, com fazer pouco, com ser improdutivo. Caberia perfeitamente a mim a frase "Você é um rapaz simpático, agradável....no entanto perde seu tempo com bobagens". Vivo cada dia como se o resto fosse infinito, como se o desperdício dele não me fizesse falta. Não falo só de ficar olhando cada infinitésimo de giro da Terra, olhar o nada, não fazer nada. Falo também de ficar pensando o dia inteiro, de fazer coisas que me dão prazer e que significam pouco para um âmbito mais geral. Falo de viver um cotidiano que, se não peca por ser um tanto desregrado, peca por não ser um exemplo de metodismo.
Em síntese, gasto a maior parte do meu dia com o que poderíamos chamar de inutilidades. Coisas que não incrementam em nada ou ambiente que freqüento. Vivo a maior parte do meu dia a conversar com amigos, falando sobre tudo o que se fala normalmente, e que não leva a nenhuma brilhante conclusão. No máximo, podemos chegar a conclusão de quanto, nos termos normalmente usados, "uma mina é gostosa", ou ainda, de conversas aleatórias que fazem todos gargalharem.
Acho que, na verdade, não era bem o que Aristóteles e DeMasi tinham em mente, mas isso também constitui num tipo de ócio produtivo. Nada de "enquanto uns trabalham, outros pensam", não quero dizer isso. Mas o não fazer nada pode nos deixar num estado de espírito que nos leva a ser mais criativos. Mesmo que não nos leve a ser criativos, são esses momentos que nos fazem deixar de ser amorfos e passarmos a ser integrantes ativos disso que chamamos de círculo de convivência, e é isso também que diferencia uma pessoa da outra, e que nos faz ter afinidades com uns e outros não. Cada um faz um "nada" diferente, o que muda completamente como cada um é. Eu valorizo, embora com um pouco de exagero, muito a inutilidade. E como me disseram, não confundir inutilidade com baixa qualidade.
Me sinto feliz por saber que outras pessoas pensem assim também, e talvez possamos chegar a conclusões que vão de encontro ao puritanismo-formiguismo que muitas vezes acatamos, concordamos e colocamos tudo que nos corrompe a vida na frente da própria vida. Trabalhamos proporcionalmente mais do que viajamos, e preferimos juntar dinheiro à juntar pessoas, gastar um pouco e fazer uma festa. Por isso valorizo as inutilidades.
E, como um argumento que mostre como inutilidades também podem criar (mesmo que outras inutilidades), está aqui este texto, que proveio de um comentário:"um simples comentário besta como esse pode gerar uma completa filosofia". Aí está. É hora de ver até onde tudo vale a pena.

Um comentário:

Rafael Rocha disse...

Dessa vez, você não perdeu o seu tempo com bobagens. :P