terça-feira, 27 de novembro de 2007

O triste (quase) fim de "Gary"

Ele estava caminhando com aquele caramujo na mão. Estava envolto o caramujo por uma folha grande, a fim de evitar transmissão de alguma doença qualquer. Estávamos voltando após uma caminhada, a fim de sair de casa mesmo. O tempo estava bom, a casa estava quente, uma saída faria bem. Na volta, encontramos o "Gary", pois ao recolhê-lo, ele fez um chiado semelhante ao animal de estimação do Bob Esponja, também um caramujo.
Seria o mascote temporário da casa, até sumir, o que não demoraria nem dois dias. Só uma leve curtição mesmo. No caminho, havia um saco de lixo, mas não recheado dos inúmeros lixos orgânicos típicos das regiões exclusivamente residenciais, como Barão Geraldo. Era repleto de vidros, estilhaçados, quebrados, pontiagudos, afiados e cortantes. Ele tinha um caramujo gosmento na mão, tinha aqueles vidros cortantes todos. Vidros passando pela superfície lisa do Gary, cortando-o quase cirurgicamente. Foi o que se passou na cabeça dele. Eu vi maldade nos olhos dele. Até ele viu a maldade nos próprios olhos, e embora Gary nada tenha de nobre, viu-o com seu sangue azul a escorrer-lhe todo o muco que o reveste. Olhos que perderam todo o brilho, tornaram-se frios. Mas logo, ele regozijou-se de sua frieza, e seus olhos brilharam muito, e maliciosamente.
Comunicou-me de suas meditações, eu já havia percebido. Seguimos nosso caminho, sem nem ao menos nos aproximar do lixo, do fim do pobre caramujo. Foi mais um momento em que sentimos uma vontade cruel e todo nosso instinto de contrariar o instinto brutal nos lembra de nossos lugares, na terra da paz, na terra de protetores da Terra e na terra onde reinamos e somos dotados de qualidades boas.

2 comentários:

Unknown disse...

que triste
detalhou mto bem
:~

Rafael Rocha disse...

E a maldade tranbordava de meu coração, era um sentimento tão intenso que não queria que me abandonasse. O medo e a inveja me proíbiram de compartilhar, com o que quer que seja, aquela maravilhosa sensação...