quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A Cor do Objeto

Eu poderia começar este texto de várias maneiras. A primeira e mais convencional é expondo uma idéia ou algum personagem logo de cara, explicando o que será a história, desenvolvendo-a e dando um fim a ela. É antigo, mas funciona. Seria assim:
"Ainda bem que peido não tem cor. Imaginem só, como seria? Nossa privacidade a todo momento de flato invadida." Daí eu falaria de como tudo seria injusto, mas em certo momento questionaria se é tudo aquilo que eu teria falado, e, no entanto, ao final, eu teria concordado com a minha idéia inicial.
Bom, eu poderia ainda começar de um outro jeito. Poderia ser um diálogo, e os personagens nem precisariam ser os convencionais. Poderia ser, por exemplo, duas nádegas conversando:
"-Eu vi isso, hein!
-O quê?
-Não sabia? Foi decretado que peido agora tem cor!
-Sério? Me fodi!
-Rá! Trouxa! Joguei verde, colhi maduro!"
E também me basearia na mesma idéia: a cor do peido.
Mas também poderia ter escrito um poema. Mas não falaria do peido logo no início. Primeiro eu reclamaria de algo. Da sociedade, por exemplo. Falaria de consumos, insumos, da mesmice, do niilismo, e no final, para amenizar, agradeceria a incoloridade do peido, faria um agradecimento solene à Natureza, ao(s) Ser(es) Supremo(s) e ao Acaso, cobrindo assim toda a gama de crenças.
Mas não é o início que torna um texto grande, um texto bom, um texto interessante - nem de longe tenho com este tal pretensão - e sim, o final. Pode ser um final feliz convencional. "Como o mundo é belo; apesar de todos os problemas, sou feliz - peido não tem cor". Pode ser um final filosófico, deixando no ar alguma questão relacionada ao tema: "não seríamos melhores? Talvez não precisássemos termos vergonha de nossos flatos, sendo estes, assim, coloridos, de domínio público?" E ainda questionaria a represália com relação aos nossos desejos naturais. Ou então - hoje em dia virou moda - o tal do non-sense. Eu diria: "Se peido fosse colorido e água tivesse cheiro, peidar n'água seria arma química!" Eu sei que ficou horrível, mas não tenho muito tino para non-sense.

Abriu a porta do banheiro, depois de 15 minutos de devaneios, estava a namorada à espera no hall, para acompanhá-lo à sala de jantar, onde o esperavam o sogro e a sogra, para serem apresentados. Maldita hora que tinha aquela vontade incontrolável de ir ao banheiro (número 2, para ser sutil). Tinha jogado o purificador de ar (famoso "bom-ar"), lavado as mãos, tudo cheiroso, nenhum rastro da "obra" - a não ser os 15 minutos de reflexão. Respirou aliviado e pensou: "ainda bem que peido não tem cor!"

Um comentário:

Maurício Campos Mena disse...

Genial, meu velho!
Mais um que parece que você roubou de mim.
Se o Angeli visse isso ele também falaria o mesmo.

Não p(á)ara!
Abraço.

*Se liga no meu blog, foi dada a largada.