domingo, 30 de agosto de 2009

Objetos Comuns

Talvez seja tudo
como um sapato sujo.
Fica todo encardido,
levando um pouco de terra
de todo lugar em que passa.
E pisa.
E também deixa marca.
Deixa a digital, a impressão
em 3D.

Ou talvez seja um esparadrapo
também encardido
de sangue
tirado de alguma boa história
a ser contada meses depois.
Seja trágica, cômica,
ou até mesmo cônica,
levando àquele inevitável ponto
onde todos são convidados
à mais profunda reflexão.

Pode, ainda,
ser uma garrafa de cerveja.
Com uma leve embriaguez,
e uma marca de alguma boca
que carregava um bom beijo,
uma rara fuga da lucidez,
uma parcela de boemia
e um bocado de risos
e de vidas compartilhadas.

E por que não um par de roupas,
tiradas tantas vezes
em momentos de intimidade,
vestidas cuidadosamente
para a atração fatal,
a fêmea fatal,
os amores de nossas vidas?

Ou então um travesseiro,
todo babado de noites bem dormidas,
todo remexido de noites mal dormidas,
todo arremessado
de noites estressantes,
todo arremessado
de noites alucinantes...

Pode ser
a música de fundo
que faz a vida parecer um filme
às vezes bem hollywoodiano,
às vezes um tanto francês,
neo-realista,
mudo e em preto-e-branco.

É um pouco disto tudo,
talvez,
a vida.
O tênis suja, gasta, descola.
A garrafa acaba,
fica jogada num canto,
esperando ser quebrada,
a roupa mancha,
o travesseiro amolece,
o mocinho vence o bandido.

E passa.

Tudo.

Mas nem por isso
deixarei de tomar cerveja
(e farei antes que ela esquente),
ou ver filme,
ou usufruir de tudo que já disse.
Um dedo quebrado é mais uma história,
uma dor
que também passa.
E se o dedo ficar torto?
Não me lembrarei da dor,
mas sempre que o vir,
lembrarei de algo,
é como uma gravação permanente.
É só a vida
com toda a vontade de viver.

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