quinta-feira, 27 de maio de 2010

Deserto

Lugares, lugares, lugares,
Sul d´África,
pau d'água e suas terras
ermas e espinhentas,
solos rachados
e taquaras.

Seu seco mal calculado
suas raízes malemoles
infirmes, infiéis
a seus propósitos originais.

E alguma morte presente
e rondando
assombrando almas já mortas
jogadas em toda parte
nestes ermos do mundo.

Longe, bem longe
da África.

Está nalgum lugar
bem mais longe,
mais que o fim do mundo
(que não tem fim).

Lugar de palavras tristes
e pesadas.
Gordas.
Inarrastáveis
e incapazes de se ouvir.

Palavras roxas, vermelhas
e venenosas.
Corroem.
Palavras que sangram
só para nos ver sangrarmos
choros bandidos
calados de cavacos mudos
bandoleando notas que já
nascem mortas.

Realmente
algumas coisas já nascem
com cara de abortadas.

2 comentários:

Maurício Campos Mena disse...

Tem poema que a gente não entende (e nem tudo é passível de entendimento),mas li que ele veio bem de dentro e saiu assim como descarrego. Esses poemas pra nós mesmos.
Tô correto?

E veja ainda, adorei esse aqui. Pelas palavras, as imagens criadas, e sobretudo pelas entranhas suas jogadas nele.

Forte abraço, meu velho.

Danilo Brito Steckelberg disse...

Tá corretíssimo! Eu nem mesmo sei muitas das coisas que disse. Mas vieram saindo e soaram bem. Até tentei encaixar um sentido mas escapou!

Abraços!