sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

História com música (remastered)

Nascido em 1947. Viveu no período conhecido como pós-guerra, onde os medos eram mais comuns do que em qualquer outra época, talvez com a possível exceção da época de guerra. Principalmente se se fosse um europeu, o que não era o caso de Paulo. Brasileiro de nascença e de sangue, bem mestiço.
Em 1964, conheceu o "Please Please Me", dos Beatles. Em 1966, conhece o "A Hard Day's Night", que representava muito bem seu espírito. Amor conjugal, inocência, despreocupação, simplicidade. Com os anos, e junto com os álbuns dos Beatles, amadurecia. Em 1969, já estava vivendo uma fase em que mais pregava o amor incondicional entre todas as nações e povos. Gostava de se perder em toda a psicodelia do momento.
Contudo, essa fase não tardaria a passar. Os Beatles, em 1970, passaram a ser um mito, que não mais existia. Esse mito de "paz e amor" deixaria um vácuo ocupado por qualquer coisa mais lenta, que não tinha um espírito em si, apenas o de ars gratia ars: a arte pela arte. Em 1973, já com 26 anos, Paulo buscava nas músicas não mais coisas sobre o mundo, apenas o entretenimento. A música passou para outro plano. Não só no estilo, mas também como Paulo a via. Descobriu o "Meddle" e o "The Dark Side of the Moon", Pink Floyd. Descobriu o "Selling England By the Pound", do Genesis. Admirava os solos, lentos, longos, arrastados com uma melodia que parece ter sido inspirada à beira do mais brando dos rios, que faz-nos sentir qualquer coisa de puro, uma sensação de que seus órgãos todos agradecem, e seu cérebro nos enche de substâncias prazerosas.
Acompanhou as bandas progressivas até sucumbirem à falta de paciência dos novos ouvintes para os 15 minutos de música, ou para a nova tendência pop. Genesis, Supertramp, até o renomado Yes, caíram no pop. O Pink Floyd se salvou do pop e das monstruosas músicas, mas não sobreviveu a ele mesmo. Paulo parou no tempo. Não quis saber de nada novo dos deprimentes anos 80, ultra-alternativos ou ultra-pops. Regrediu. Nada mais significava algo para ele. Nenhuma música parecia se encaixar no mundo dele. Passou a buscar as músicas mais antigas, dos tempos de infância, do que lembrava de ouvir seus pais escutando, os boleros, com aqueles vozeirões, o jazz e o blues.
Quanto mais velho ficava, mais buscava o passado. Talvez até o passado dos seus pais. Esqueceu-se de que já vivia quase no século XXI. E Chegou até o século XXI. Mas já era tarde. Não sabia mais acompanhar o momento. Esqueceu-se de como era estar em fase com tudo, principalmente com músicas. Criou todo um preconceito com os novos estilos, sem nunca ter tentado escutar nenhum. Nem reparou nas novas bandas que imitam os velhos progressivos. Perdeu boa parte da sua vida, apesar de ter vivido num tempo em que as músicas correspondiam exatamente ao amadurecimento de um jovem normal, desde a inocência, a "porra-louquice" da adolescência, a maturidade e a serenidade. Perdeu-se em algum lugar entre os anos 80 e 90. Daí para frente, só restaria a ele se tornar um velho ranzinza. Chato.

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