segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

História com música

Nascido em 1947. Viveu no período conhecido como pós-guerra, onde os medos eram mais comuns do que em qualquer outra época, talvez com a possível exceção da época de guerra. Principalmente se se fosse um europeu, o que não era o caso de Paulo. Brasileiro de nascença e de sangue, bem mestiço. O que não muda em absolutamente nada a história. Mas a enriquece um pouco. Conheceu, no ano de 1964, o primeiro disco dos Beatles, já comemorando o segundo ano desde o lançamento na Inglaterra. Curiosamente, a música pegou-o na fase em que mais ela tinha a ver com Paulo. Ingênua, divertida, que passa de agitada para baladas românticas. Com seus 17 anos, era tudo o que ele via. Um mundo ainda bonito, em que o amor conjugal era soberano.
Claro, ainda mais para um nascido num mundo que se preparava para a Guerra Fria, e que acabou de ver bombas atômicas, talvez se perdesse um pouco da ingenuidade. Mas quem não viu, só ouviu falar, se lamenta, não compreende tanta maldade, ainda mais crianças. Acaba que não se perde toda ingenuidade, talvez nem um pouco dela. Talvez essa recém chegada geração aprendesse a amar mais intensamente, ou simplesmente viver tentando se afastar de toda essa crueldade passada. Por isso acredito na ingenuidade dessa geração.
Com o tempo, passou "A Hard Day's Night", com as mesmas idéias, de "And I Love Her", "Can´t Buy me Love". Pouco depois, vieram os Rolling Stones. Trouxeram uma nova atitude com eles. Mudaram também até os Beatles, e logo passaram do momento ingênuo para o psicodélico, numa transição muito rápida. Paulo acompanhou. Gostou das mudanças. Ele, afinal, também mudara. Já não era aquele jovem que acreditava em tudo. Tinha já seus 19, 20 anos. 1967 marcou o início uma época inexplorada, totalmente. Já dessa época, no Brasil havia chegado o Revolver. Continha um pouco de crítica. Paulo já gostava de criticar. Era o Médici. Nunca chegou a ser preso, mas não concordava com a Ditadura. Mas nunca chegou a ser militante. Em 1969, já estava no espírito de paz e amor. Liberdade. Era absolutamente complacente com o movimento Hippie. Gostava da psicodelia, dos discursos de amor. Mas um amor mais transingente, não do tipo conjugal. Do tipo amor ao próximo, quem quer seja ele.
Nesse ano, conheceu muitas coisas. Conheceu o Sargent Peppers, Magical Mystery Tour e algo um pouco diferente. Era o "The Piper at the Gates of Dawn", do Pink Floyd. Diferente. Mais psicodélico que os outros. Gostou de todos, mas se identificou muito com o Pink Floyd. Conseguiu ainda um "Abbey Road" importado. Foi o melhor dos anos, até então. Vivia com amigos, curtindo toda a época da psicodelia, do lisérgico.
E como passou rápido. Em 1972, já buscava coisas bem menos psicodélicas. Acabaram todas as obras novas psicodélicas, bons morreram de overdose, chocando muitas pessoas. Começou a trabalhar de verdade. Já tinha 25 anos, devia crescer. Continuou a escutar Pink Floyd. Eles também acompanharam as mudanças. Os Beatles já eram, só se tinha quatro fragmentos, que ainda muito brilhavam, mas que não era o mesmo diamante de antes, absoluto. O novo som do Pink Floyd era mais calmo, mais trabalhado. Não era necessariamente melhor ou pior, mas diferente dos Beatles. Em 1973, veio o "The Dark Side of The Moon", veio o "Selling England By the Pound", do Genesis, foi a era de ouro do progressivo.
E de progressivo viveu os anos 1970. Não chegou na fase Punk. Já tinha passado da idade de ser Punk. Viveu outros tempos, não fazia mais sentido para ele. Era uma pessoa serena já, madura, não muito rebelde. Caia-lhe bem o progressivo, apreciar as guitarras lindíssimas. Acompanhou todas as bandas até o começo da década de 1980. Depois, mudaram muito. Os instrumentos eletrônicos tomaram conta. Não os eletrônicos órgãos de Rick Wakeman, mas os eletrônicos de música pop. As batidas eletrônicas. Mesmo em bandas como Supertramp, Yes e Genesis. O Pink Floyd acabou, mudou, ficou estranho. Até se recuperou mais tarde, com o "The Division Bell". Parou de acompanhar a música da época.
Em 1983, quando ainda acompanhou o "The Final Cut", do Pink Floyd, já tinha 36 anos. E acompanhava as músicas que eram lançadas. Mas foi justamente nessa época que tudo mudou muito. Bandas excessivamente alternativas, ou excessivamente pops. A partir daí, comprar discos de lançamento era coisa de quem tinha até 25 anos, e olhe lá. Poucos ex-fãs de Beatles comprariam um disco do Depeche Mode, ou do The Smiths, ou do The Cure. Começaram a dizer que a música boa ficou para trás. Os jovens, pelo contrário.
Paulo, entrou em outra fase musical. Começou a regredir. Não em qualidade, mas em cronologia. Nada mais de lançamentos. Começou a investir em discos mais nostálgicos, de músicas dos anos 50, ou até 40, das que lhe traziam lembranças de seus pais, ou da sua infância. E quanto mais o tempo passa, ele se distancia do atual, sua mente começa a trabalhar em função do que já foi, e cada vez mais ele culpa o presente pela falta de gosto, mas esquece da provável dificuldade que seus pais teriam em escutar os próprios Beatles, ou os Rolling Stones. Cessou de conhecer coisas não necessariamente novas, mas que fossem ao menos novas para ele. E joga toda a culpa nos jovens, que têm, segundo ele, péssimos gostos musicais.
Talvez nos esqueçamos de viver o momento, mas não falo de "Carpe Diem". Como Paulo, esquecemos de viver o que está acontecendo, de ficar para trás no tempo, culpando o mau gosto do atual, sem tentar, ou mesmo tentar e deixar de lado o que tem nas novidades. Não abrir mão do seu tempo, mas saber que o tempo é sempre mutável, e que, apesar de não parecer, ele deseja que o acompanhemos, para que ele continue a fazer sentido. Vamos aproveitar o que já não foi, e o que está sendo. Ter glórias do passado é bom, mas melhor é saber ser ainda possível construir qualquer coisa a mais do que o que já foi deixado.

PS.: Um texto que perdeu um pouco do que eu quis dizer ao longo dele, e acabei modificando o mote dele. Acho que fiz inspirado em experiências próprias, pessoais ou nem tanto. Fato é que perdeu bastante do que seria de como imaginei. Não consegui fazer como imaginei.

3 comentários:

Unknown disse...

O "PS" redimiu seu texto, que ficou bom, mas de extenso percebe-se q fugiu, como vc disse, ao tema. De qualquer forma achei bacana a história, q eu sei q é tua e q demonstra um otimo gosto musical.

Unknown disse...

posta mais rapaz

tava começando a curtir

Mistery disse...

Fui ler denovo, inteiro, desta vez e ... pow

caramba, ficou excelente o texto
o.o