domingo, 5 de julho de 2009

Malícia, o País das Maravilhas

Tinha 12 anos. E, nesse dia específico, aos 12 anos, 3 meses, 23 dias, 11 horas, 15 minutos e 26 segundos de vida, por algum acaso, tudo mudou sob seu ponto de vista. Sexo acabara de deixar de ser apenas uma palavra engraçada, e tinha um significado a mais, algo como um arrepio, mas não aquele de frio. Apesar que esse trazia ainda um friozinho na barriga. Mas não era a mesma coisa. E se apaixonou pelo sexo. Primeiro, pelo seu. Admirava o seu sexo como algo seu, como um filho que criava. Ficava comparando de um dia para o outro para saber se crescia. Depois, começou a reparar em algo que antes era só diversão: garotas. Ainda não tinha intenção de praticar sexo: era uma recém descoberta. Mas já passara a admirar as coleguinhas. E sabia que algumas ali já beijavam. Ah, como devia ser boa a sensação de beijar... já lhe vinha aquele arrepio e o friozinho.
Ficava acordado até horas avançadas da noite, pensando em como era o mundo crescido. E pensava em como era tolo antes por não sentir as coisas como as sente hoje. Não sabia como poderia viver sem aqueles arrepiozinhos, sem aquela vontade de fazer algo escondido de todos, atrás de algum lugar onde deixasse ele escondido com a garota mais bonita da escola. Daí ele pegaria na mão dela, bem firme, por que se fosse de leve, ela veria que ele está tremendo. Ainda adorava as brincadeiras de pique, mas agora não vivia só daquele momento. Acho que é isso o que muda: antes desse dia, não planejava o futuro; encontrava os amigos, saía para brincar, brincava, cansava, voltava para casa, dormia, sem pensar em nada. Agora, tinha de planejar. Tinha de escolher um caminho onde pudesse ver aquela tal menina detentora de sua paixão mais secreta que todas as senhas de bancos. Tinha de observá-la com a cautela de agente federal, pois ninguém deveria saber que gostava de garotas.
Até o dia que foi pego com a mão na massa. Fizeram chacota, tomou bronca dos pais. Isso era muito feio. Era um pecado, e contra a castidade. Chorou, foi humilhado. Riram do seu pobre sexo, seu motivo de orgulho. E agora, sua única descoberta foi discriminada. Se sentiu no lixo, como se tivessem esmagado todo seu corpo com tantas palavras cruéis, depois descartado. Só queria voltar ao tempo em que brincar era tudo o que tinha a fazer. Mas jamais poderia brincar da mesma maneira. Jamais deixaria de ter agora um outro objetivo. Descobriu que existia a malícia, e que ela era, em várias formas, boa. Mas tinha de a esconder. Tinha de esconder seus desejos como escondia que gostava de meninas. E agora nem queria mais esconder. Era o país das maravilhas, esse prazer indescritível que podia agora sentir. Mas não tinha nenhum green card.

Um comentário:

Maurício Campos Mena disse...

parece que vc roubou de mim esse texto. Me senti enscrevendo-no, juro! Sabe qd vc le um texto e vai pensando como vc escreveria aquela parte, como mudaria uma virgula. Pois e', nesse seu, foram pouquissimas as passagens que isso ocorreu.
Massa, muito massa essa confluencia.
(to sem acento)