terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Velhice Tardia

Meu Deus,
quem é este homem
de feições tão rudes,
de mãos tão calejadas
e olhar tão vazio?

Este homem
maltrapilho,
provavelmente
longe de casa,
quem ele é?

Os olhos dele falam
mais que sua boca:
dizem-me coisas intragáveis
sobre seu passado.
Olhos que guardam
os abismos dos sete mares.
Olhos encatarados,
sempre a buscar alguma
visão de outras eras.

Rugas, crateras,
escorrem-lhe pelo rosto.
Tão cheias de nada,
tão inúteis,
cada uma
uma marca,
um ontem,
uma década.

Mas, Deus meu,
isto não passa
de um espelho.
Onde andei eu
nestes últimos
cento e vinte anos?

Um comentário:

Maurício Campos Mena disse...

meu velho (e não teria outro substantivo melhor), arrepiei. Fico pensando, quantas dores teremos para que obras lindas sejam feitas?
Para ser memorável, é preciso ser doído? Ou pelo fato de doer é que se é memorável?

Desejo sorte e celeridade no seu reencontro com você.

Abração. Não pára de esgotar essa poesia que tá transbordando, mano.