segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Poema Inacabado

Acordo com a cara lavada
de todos os sonhos (eróticos)
da noite passada,
passada em branco,
passada a limpo,
já que tudo passa.

Tudo clinicamente passado
a limpo,
para mostrar o que eu quero,
e apenas isso.

O que eu sinto,
deixo guardado.
Ninguém merece tal sentimento,
tal tristeza, tal alegria,
ninguém compartilha.

Meu rosto encarna a tristeza
de simplesmente existir.
Sinto em cada projeção
de meus membros naturalmente
arquitetados a dor do passar dos dias;
sinto simplesmente que cada novo dia
são mais problemas insalubres,
mais teoremas sem solução,
áporos (obrigado, Drummond!).

Vamos, dá-me do teu álcool,
dá-me do teu asco.
Vejo-te aí, contida,
vejo-te esperando entranhar-se
e prejudicar meus sentimentos,
deturpar-me a visão, e peço-te:
dá-me mais. Mais.
Dá-me o nojo dessa asquerosidade
que nos envolve.

Sei que se amanhã
eu acordar arrependido
não foi hoje que errei.
Foi ontem e sempre,
foi querendo dizer o que nunca senti;
foi por falsidade.
Sou o que nunca quis ser,
e pior crime não poderia cometer:
traí-me.

Não sei os meus limites
e afundei-me a procurá-los.
Agora sei:
quando deu-me a inspiração,
também me prendeste.
Escrever não é só inspiração.
Também tornamo-nos escravos
de nossos sentimentos,
tornamo-nos alvo fácil da tristeza - afinal
que mais poderíamos mostrar
senão a tristeza?

Eu preciso descobrir
o que estou sentindo
para continuar escrevendo.
Porque toda mudança
sempre nos deixa a dúvida
de estar acertando ou não,
ou simplesmente estar aceitando.

Um dia,
acabo este poema,
o final - feliz ou infeliz -
não sou eu quem sabe.
Se existe um Deus, ele sabe.
Se existe um Óraculo,
ele tem uma pista - informações vagas.
Se não existe nada, ninguém sabe.
Quando descobrir, volto a informar-lhes!
O prazer é todo meu!

Um comentário:

Anônimo disse...

Quero saber o fim.