domingo, 20 de junho de 2010

Improvável

Por que foi o vidro
que deixou de se quebrar
e sua voz que quedou-se silenciosa.
Para sempre.

Nem mais os gemidos
que o vinho e a falta de luz
contribuem;
nem mais um sussurro
e um "eu te amo"
ou mesmo um
"eu te odeio";
nem mais um espanto;
nem mais um medo da morte:
tudo calou-se em você.

Seu silêncio sepulcro
cala meu pulsar
e meu coração vermelho
perde para minha mente cinza,
feia.

Meu silêncio surge
como uma vontade horrenda
de gritar-me
e que minha laringe se revolte,
e que suas cordas desafinem,
e que suas vontades se exagerem.

Quem sabe se eu voltar
como alguém que a luz
não consegue produzir sombra,
alguém que o próprio peso
não possa produzir pegadas,
possa escolher
entre todas as coisas
que poderia sentir
e todas as coisas
que esta outra metade de mim
acha verdadeira, casta,
onipotente e de certa forma
divinamente cruel.

Estes dados viciados
que jogam comigo
e todas minhas idéias
já me fazem deixar de pensar
de fato tudo que eu tinha certeza,
tudo que era sistematizado,
e agora tenho certeza
que toda sistematização
me enfraquece.

Ah, seria bom
se todas minhas escolhas
soubessem ser aleatórias
ou escolherem-se por si mesmas,
poderia dormir eu tranquilo
sabendo que jamais cometera
um erro sequer em minha vida
mesmo sem ter a certeza
de que fui feliz como eu queria ser.

Até por que ser feliz como se quer
é diferente de ser feliz o quanto se pode.
Às vezes simplesmente escolhemos
nos entristecer.

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