terça-feira, 1 de setembro de 2009

Insensível

Sinto muito se sou tão frio.
Se eu não sofro demais,
não choro demais,
não sinto demais,
não amo demais,
não morro demais.

Sou assim,
e é isso que sinto.
A falta de sentir.

Desculpem-me se vos falo
com tamanha franqueza.
Não tenho escrúpulos,
mal chego a ter
sentimentos.

Em meu coração de pedra
habita a sábia distinção
tão mecânica de cada sentimento.
Mas não, ali não moram os sentimentos.
Estes vagueiam por algum lugar longínquo
tão distante do meu conhecimento
que mal me preocupo em achá-lo.

Há em mim
esta réstia de bom-senso.
Sei o que deveria estar sentindo,
mas nada me vem.
Nenhuma lágrima,
ingrata!

Em meu mundo
nada à flor da pele,
admiro em prantos
a amizade cultivada,
os bons amigos que fiz
e que para sempre levarei,
os amores que deixei,
mas não posso dizer,
nem por um momento,
que o faço com todo sentimento.
Fico devendo, e muito,
por isso.

Faço com algum pouco sentimento,
mas faço sabendo
que tudo isso
é o que tenho de mais caro
em todo o mundo.
Pois minhas idéias
se esvairão,
esmaecerão.

E os amigos, amores,
pais, irmãos, família,
colegas, e todo o resto?
Guardo meu pranto e meu sentimento,
as lágrimas jamais derramadas
e as declarações jamais escapadas
para quando
de um ombro precisarem,
um silêncio mútuo apreciarmos,
para quando o tempo nos for escasso.

Guardarei dentro de mim
sabendo que por mais insensível,
eu vos amei a todos,
e não sei para onde os levarei,
mas sei que sempre os levarei.

Homenagem a estes que me lêem antes mesmo que eu pense no que escrever!

2 comentários:

Maurício Campos Mena disse...

Mentira! Calúnia! Já lhe vi chorar por duas vezes e não me esqueço. Não sei se é leal da minha parte desacatar o seu poema (que é bonito pra caramba), mas você, meu caro, é um dos caras de maior sensibilidade que conheço. E, muito por isso, é um dos meus grandes amigos. Mas entendo que não saibamos quem somos ou que sejamos tragados pela realidade a ofuscar tudo o que é nosso, só nosso. Acontece com todos, principalmente com os humildes como você e com os que se irritam sempre com o 'sentir', quando já estão sentindo.

Abraço, meu velho!

Maurício Campos Mena disse...

Mas afinal, ser sensível é ser o quê? é chorar demais, amar demais? Creio que não, deixe isso pras mulheres - sem preconceitos. Me diga, quando ouve palavras bonitas, elas não te tocam? Vê gestos de amizade, não te tocam? Ah, pro raio que o parta com a sua perfeição de sensibilidade!

Cada dia se tornam mais furtivos, mais escassos esses momentos com essa couraça toda, com essa previsibilidade aguda impedindo-nos de andar. Mas vai, não p(á)ara!

Sinto-me homenageado nessa porra!