terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Gelo

Ah, eu nunca imaginei que fosse assim.
Deste peito só se morre
de algum maligno tumor
a contaminar a pureza deste corpo.

Decidi que meu refúgio
seria minha frieza,
apesar de sentir por vezes
falta de meu calor.

O que sinto hoje
é como a morte lenta
de alguém que não me importo:
sofro por ver este sofrimento,
mas não me dói esta perda.

Devia estar mais que na hora
de eu me lembrar onde foi
que eu já senti me redescobrir
pois sei que tudo que congela
perde inevitavelmente seu sabor
(menos a insossa água).

Nada vai voltar como antes,
e tampouco este é meu desejo,
mas já me perdi no meio de algum caminho,
nem lembro mais onde quero chegar.
Eu não sei mais o que procuro encontrar
(não mais encontro o que procurar),
só sei que posso não estar andando em círculos,
mas ainda não chego a lugar algum.

São microgramas que desbalanceiam
uma balança tão pouco precisa,
nada é muito claro.
Sim, meu sangue ainda é quente,
minhas veias ainda são alimentadas
pelo pulsar (quase) constante
deste coração que bate.

Mas até já imagino
o sangue com violência
me querendo ferir as artérias,
me envermelhar todo,
vazar pelos olhos
onde outrora vazavam lágrimas.

O ano mal começou
e já fico assim a pensar
pensamentos que deveriam nascer
em algum dia do final de ano.

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