segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A Possível Existência do Nada

Sou eu o responsável
pela alta da gasolina,
do álcool e de todos
os outros combustíveis.

Sou quem quis
que o ônibus agora
fosse mais caro,
pois se movimentar é luxo.

Sou um nada, sou invisível,
eu não existo. Eu não estou
em cada um de vocês ou dos outros,
não sou nada, não existo.
Sou um velho que morreu ontem
e que vão matar amanhã.
Não sou inimigo,
já que eu nem existo.

Sou eu quem te impeço
de andar de carro novo,
de descansar num final de semana
que você trabalha para ganhar mais dinheiro
para comprar mais
para poder chegar no final de semana,
ver seu carro novo e todo seu luxo,
e, finalmente, pensar:
vou trabalhar mais
para ter um outro ainda melhor.

Não sou o governo,
nem suas vontades,
nem sua consciência.
Nem a de ninguém.
N obody's way of life.
Já disse, eu não existo.

Posso ser também
o telhado da sua casa.
Posso ser só uma telha,
mas não sou nada.

Poderia ser o grão de areia
que você pisa na praia,
mas poderia muito bem ser
o grão de areia
que arranha seus olhos
quando bate a deliciosa brisa
que te pega desprevenido.
Não sou nada, então,
sou o que quero.

Se não sou nada,
então o que é que você lê?
Talvez seja eu fruto
de sua loucura,
ou até mesmo da minha,
já que quem não acredita
em mim mesmo sou eu.

No fim de tudo,
sou realmente nada.
Sou um fruto de meus acontecimentos.
Sou nada
pois o acaso é nada.
O acaso é nada
pois é aleatório.
Você não pode existir
se pode talvez não existir.
Sou só uma série de acontecimentos:
é inútil resistir.
Mas me desapontaria
se parasse de tentar!

Nenhum comentário: